Em Viena e Berlim, conheça alguns dos zoológicos mais antigos da Europa
O jeito mais bonito de entrar no Tiergarten Schönbrunn, o Zoológico Imperial de Viena, é atravessar o Palácio de Schönbrunn e seus enormes jardins. No castelo inaugurado em 1713 como residência de verão dos Habsburgo nasceu o imperador Francisco José 1º, marido de Sissi, a imperatriz. Há dois outros portões, mas a entrada solene se justifica: o Zoo de Viena é o mais antigo do mundo, está no mesmo lugar desde 1752, época do imperador Francisco Esteban de Lorena, quando o abrigo para animais tinha o nome de Casa Imperial das Feras. Em dois séculos e meio de atividade, as feras se multiplicaram e ganharam instalações modernas, climatizadas, com paredes de vidro. São 500 espécies de animais que recebem a visita de cerca de duas milhões de pessoas por ano.
Os bichos vêm de várias partes do mundo: pandas da China, coalas da Austrália, rinocerontes da Índia, leões, girafas e hipopótamos da África, pingüins da América do Sul, tigres da Sibéria, ursos polares do Ártico. Até a fauna brasileira se faz representar no Zoo de Viena, com antas, emas, seriemas, capivaras, tamanduás, sagüis e sucuris.
Para quem está vendo um panda gigante pela primeira vez na vida, ao vivo, a centímetros de distância, este passeio nos arredores de Viena é um privilégio único. As instalações para os ursos ameaçados de extinção são amplas, ao ar livre e também fechadas, na zona nobre do Zoo, próximas do pavilhão octogonal central, o Kaiserpavillon. Em 2010, o bebê panda Fu Hu, nascido ali, comemorou seu primeiro aniversário com um mês inteiro de festas.
Dada a importância do nascimento em cativeiro, o zoológico providenciou rapidamente uma estátua de mãe e filho. Fu Hu e os pandas adultos Long Hui e Yang Yang correm, brincam e se alimentam soltos pelo bosque. Os pandas estão entre os raros mamíferos que parecem rir mostrando todos os dentes, e as travessuras de um filhote tornam esses momentos mais freqüentes, em especial para a mãe. Ver uma ursa panda amamentando o pequeno rebento é praticamente o máximo de fofura que alguém aguenta.
O Polarium é outra área especial em que os turistas se aglomeram em busca do melhor ângulo de visão, sobretudo na hora marcada da alimentação dos leões marinhos, um show diário comandado pelo tratador dos bichos. As grandes piscinas com pedras ganharam paredes de vidro, permitindo que crianças e adultos enxerguem aqueles animais de até 300 kg nadando e mergulhando até o fundo. Com o tratador a postos, jogando sardinhas que retira de um balde, os leões marinhos fazem malabarismos, piruetas no ar, se jogam na água com espalhafato e retornam à superfície para os aplausos do público e os afagos do mestre. Alguns bichos trazidos da natureza selvagem acabam gostando de gente, precisam mesmo de renovado contato humano, é o que ensinam atividades didáticas como estas, sobre comportamento animal e preservação ambiental.
Nos mapas que entrega na bilheteria, o Zoo de Viena divulga os horários do lanche de várias espécies de animais: orangotangos comem às 10h e às 14h30, lobos do Ártico às 11h, jaguares e tigres siberianos às 14h, elefantes e chimpanzés às 15h, coalas às 16h, entre outros. Pela beleza e tamanho do lugar, que além da arquitetura barroca e jardins de plantas tropicais ainda oferece trilha suspensa na floresta, fazendinha, insetário e um complexo de aquários, a visita ao zoológico merece manhã e tarde de tempo livre.
Para recarregar as baterias, e não sentir muita inveja da comilança dos bichos, há quiosques de bebidas e oito cafés e restaurantes de cardápio variado. Na Orang.erie, destacam-se a variedade de chás e de pratos vegetarianos. Vizinha dos rinocerontes, uma sorveteria oferece produtos orgânicos. Sanduíches e carnes grelhadas podem ser degustados em jardins com vista para pingüins e elefantes. E especialidades da cozinha vienense, como o gulache, herança do Império Austro-Húngaro, a torta sacher, com chocolate, biscoito e damasco, e o apfelstrudel (torta de maçã) estão por toda a parte.
No Zoo de Berlim, hipopótamos e aves convivem num moderno ambiente climatizado, inaugurado em 1997
Vida e morte no Zoo de Berlim
Décadas antes do urso polar Knut, o hipopótamo Knautschke também foi símbolo do Zoo de Berlim, o mais antigo da Alemanha, aberto ao público em 1844. E, como a trágica história de Knut, falecido precocemente, de epilepsia, em março de 2011, a trajetória de Knautschke também carrega toneladas de tristeza. Nascido em 1943, durante a Segunda Guerra, o filhote de hipopótamo foi um dos raríssimos sobreviventes dos bombardeios que provocaram milhares de mortes em Berlim. Em 1939, o Zoo de Berlim já era um dos mais importantes do mundo, com um acervo impressionante de mais de 1.400 espécies e cerca de 4000 animais. Em 1945, quando a guerra acabou, apenas 91 bichos haviam sobrevivido, entre eles Knautschke e o elefante Siam.
Foi uma chacina sem precedentes na história dos zoológicos do mundo. Em cinco anos, mais de 3900 animais sucumbiram, feridos de morte por bombas e incêndios, agonizando sem socorro e sem comida nas jaulas. Na multidão de mortos civis da cidade alemã sob ataque também estavam funcionários do Zoo de Berlim. Os sobreviventes uniram as forças para manter respirando apenas 91 animais, menos de 4% do total.
Urso polar no Zoo de Berlim: o mamífero de regiões frias é uma das estrelas do zoológico alemão
Visitar o parque anos depois dessa tragédia é também prestar uma homenagem à vida que ressurge dos destroços. O acesso fica facilitado por uma grande estação de trens, ônibus e metrô, a poucos passos do Portão dos Leões, em Hardenbergplatz. Já na entrada, tomando o rumo da direita, os elefantes da espécie Elephas maximus, originários da Ásia, recebem os visitantes com brincadeiras, jogando feno com a tromba sobre a cabeça. Três ou quatro deles se perfilam e fazem os movimentos sincronizadamente. Talvez há anos.
Perto dali, a lentidão e a elegância das girafas têm a moldura de uma fachada exótica, um palácio com minaretes, que lembra uma mesquita. A casa dos antílopes, a mais antiga do zoo, foi inaugurada em 1872. Como os nascimentos dos pandas em cativeiro, os partos de girafas também são celebrados. Diferentemente de vacas e éguas, as girafas dão à luz em pé, e o feto despenca de grande altura. Graças a uma bolsa que o envolve e aos ossos ainda macios, as chances de sobrevivência do bebê girafa são grandes.
O Zoo de Berlim tem dezenas de espécies de macacos, entre eles orangotangos, bonobos, gorilas e chimpanzés, felinos como onças, leões e panteras, centenas de aves exóticas como flamingos, araras, águias, cacatuas e casuares, e ainda um Aquário de três andares, aberto em 1913, também destruído na Segunda Guerra, com tubarões e dragões de komodo. Mas as grandes estrelas continuam sendo espécies de ursos, sobretudo os pandas gigantes e os ursos polares, capazes de atrair aglomerações de visitantes, em especial na hora em que são alimentados.
Presente do governo chinês, o panda Bao Bao vive em Berlim desde 1980. Ele adora comer bambu, cana-de-açúcar e frutas doces como melancia. A beterraba no chão permanece intacta. Gigante no nome e no porte, Bao Bao parece uma celebridade mesmo quando dorme, encolhido no pequeno bosque ou numa cama suspensa na jaula protegida por vidros.
“Aquela ali é a mãe do Knut”, confidencia em voz baixa uma visitante alemã do Zoo, apontando para uma ursa polar que aproveita o sol num cercado sem grades, com lago e pedras, delimitado por um fosso. O drama de Knut começou quando ele foi rejeitado pela mãe, recém-nascido, e passou a ser alimentado de mamadeira por um devotado tratador, que também já morreu. A mãe de Knut ,que antigos frequentadores do zoo apontam querendo dizer “aquela infeliz”, tem o sugestivo nome de Tosca (em homenagem à ópera).
Serviço
Tiergarten Schönbrunn |
Portal de Turismo de Viena www.wien.info |
Zoologischer Garten Berlin Hardenbergplatz 8, em Berlim Tel: (49) 0 30 25 40 10 www.zoo-berlin.de |
visitBerlin – Serviço de apoio ao turista www.visitBerlin.de |
Knut vai ganhar um monumento em bronze, em breve, de autoria do escultor ucraniano Josef Tabachnyk, vencedor de um concurso com 40 participantes. A fera que teve a face estampada em cartões telefônicos, bilhetes de transporte e dezenas de tipos de suvenires será representada ainda filhote, quando era “inacreditavelmente fofo”, na definição de um jornalista da Der Spiegel.
Até para aproveitar melhor os bancos sob as árvores e mesas de restaurantes ao ar livre, a melhor época para conhecer os zoológicos de Viena e Berlim é durante a primavera, verão e outono no hemisfério norte: de março a novembro, por exemplo. No inverno os animais de regiões frias, como lobos, ursos e pingüins, se divertem na neve, mas os bichos dos trópicos da Ásia, África e América do Sul sofrem com as baixas temperaturas e ficam resguardados em celas climatizadas.
Os descendentes do hipopótamo herói, Knautschke, têm desde 1997 uma das instalações mais modernas do Zoo de Berlim, uma casa com teto e paredes transparentes, onde os visitantes colam o nariz no vidro para enxergar os mamíferos submersos em águas filtradas. Depois da infância infernal, fugindo das bombas e do fogo, Knautschke teve uma vida longa, morreu aos 45 anos, em 1988. Quase viveu o suficiente para ver outro tipo de ressurreição, a queda do Muro de Berlim, em 1989.
* A jornalista Cris Gutkoski viajou a convite de visitBerlin e Turismo de Viena
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