Cidade de Alcântara, no Maranhão, parou no tempo, mas avança rumo ao espaço
Viajar no tempo é o sonho de todo turista. Talvez por isso, filmes com esta temática façam tanto sucesso como a trilogia “De volta para o futuro”. Alcântara, no Maranhão, proporciona esta exata sensação ao visitante. Por todo lado há ruínas de grandes obras inacabadas em contraste com o Museu Espacial Brasileiro e o Centro de Lançamento de Alcântara, a base nacional de lançamentos de foguetes e naves espaciais.
Pouco mais de uma hora de barco separam Alcântara do centro de São Luis. Assim como a capital maranhense, a cidade tem uma atmosfera mística reforçada pelas ruínas de terracota e as muitas lendas que ecoam na região. O Tambor de Mina, religião brasileira de matriz africana, assim como a umbanda e o candomblé, é forte por lá e está bastante presente nas histórias dos guias e moradores.
Logo que se chega à cidade, o turista é recebido por guias oficiais e clandestinos que vão fazer de tudo para ganhar a sua confiança. Alcântara é uma cidade pequena e pode-se fazer tudo a pé mesmo com o terreno todo irregular. Apesar disso a insistência para pegar um moto-táxi é intensa. Vencido o primeiro obstáculo, de dispensar um guia ou escolher um, a praça principal é o primeiro ponto de parada.
Logo que subir a primeira ladeira em frente ao mini porto, o visitante verá a praça e as ruínas da Matriz de São Matias. Assim como as outras ruínas de lá, a igreja nunca foi completada, são ruínas de construções não terminadas. Alcântara era, na época do Brasil Colônia, a maior cidade da capitania do Grão-Pará. A cidade se preparava para ser um centro comercial de grande importância, mas o fim do sistema de capitanias e ascensão de São Luís interromperam os planos deixando o lugar abandonado com um ar de mal-assombrado.
Passeio histórico
Em frente à igreja inacabada fica o único pelourinho original preservado do país. O tronco de pedra é o mesmo no qual foram presos escravos para receberem castigos ao longo de mais de três séculos. A praça de poucos metros quadrados é, por si só, uma bela aula da história do Brasil. Escravidão, invasões francesas e portuguesas e a família real se juntam ali. Logo ao lado esquerdo há um modesto museu da região que vale uma visita. Pense que o acesso ainda não é dos mais fáceis, agora imagine móveis de madeira colonial maciça sendo carregados por escravos até chegar ali. O museu é repleto dessa mobília, muitas de origem portuguesa.
Próximo das ruínas da São Matias, fica a Igreja do Carmo, construída no fim do século 17. Pode-se entrar na igreja e admirar o altar-mor em estilo barroco com ouro, anjos esculpidos em madeira e as muitas tumbas de nobres ali enterrados. Por R$ 2, o turista pode subir o campanário de onde terá uma vista panorâmica privilegiada de Alcântara.
Ir de barco desde São Luís é a forma mais rápida de chegar à cidade de Alcântara, no Maranhão
Não é difícil andar pela cidade sozinho, mas é uma tarefa hercúlea conseguir se livrar dos guias, que insistem em dizer que é perigoso caminhar por ali no escuro. De fato, Alcântara é para se ver de dia. À noite, se a lua estiver bem cheia, o turista pode aproveitar um passeio pelo mangue, que é como ir a ópera, vai amar, ou odiar. Ainda enquanto o sol estiver brilhando, pode-se ir até o mangue e combinar com o barqueiro que está sempre lá a travessia para conhecer a praia quase sempre deserta. Por R$ 5, o barqueiro leva e vai buscar o turista no horário combinado.
A praia de água e areia limpas ainda é um recanto pouco freqüentado e vale a pena passar algumas horas aproveitando o mar e a paisagem. O viajante deve levar água e comida porque não há nada e ninguém por perto. O acesso é somente pelo mangue, por isso tudo deve ser combinado com o barqueiro.
Para o alto e avante
Os entusiastas do futurismo precisam se contentar com o Museu Aeroespacial de Alcântara, no centro da vila. O Centro de Lançamentos de Alcântara não recebe visitantes desde agosto de 2003 quando uma explosão acidental destruiu o foguete brasileiro VLS-1 e matou 21 pessoas, entre engenheiros e técnicos.
O Museu Aeroespacial apresenta réplicas de foguetes já lançados ali e algumas peças originais de naves espaciais. Apesar de pequeno, o espaço bem organizado dá uma dimensão da intensa atividade espacial brasileira, ignorada por muitos. A visita mudará certamente algumas impressões sobre nossos cientistas. As muitas fotos e relatos disponíveis surpreendem e nos dão a certeza que vivemos tempos fascinantes.
Turistas exploram Alcântara a pé. Ao fundo se vê o campanário da Igreja do Carmo
O Centro de Lançamentos de Alcântara é considerado um dos melhores do mundo devido a proximidade da linha do Equador, apenas 2 graus, e a estabilidade meteorológica. Pode-se realizar lançamentos durante quase o ano todo.
Embora a expectativa seja grande, é bastante difícil enxergar um foguete no céu. O que se vê muito são os Guarás, aves cor-de-rosa, que lembram os flamingos. A beleza da cor do pássaro vem de sua dieta baseada em caranguejos, que têm um pigmento que tinge as plumas. O turista poderá observar que, entre as aves, os Guarás mais novos são marrons. Isso porque ainda não comeram caranguejos o suficiente para ganharem a coloração das penas.
Houve uma tentativa de estabelecer uma moeda local para impulsionar a economia da região. Este dinheiro se chama Guará, em homenagem ao pássaro, mas a sua circulação ficou restrita aos moradores, já que os turistas passam, em média, dois ou três dias na cidade.
Como chegar
De barco – As embarcações para Alcântara saem de manhã da Praia Grande, em São Luís. A viagem dura cerca de 1h15. Há barcos maiores e menores que circulam dependendo da maré. O horário também pode variar por conta da maré. A saída é por volta da 9h30 e o retorno às 16h.
De carro - Alcântara está a 22 km da capital do Maranhão, mas a estrada, que apresenta condição precária, pode fazer a viagem durar até duas horas pela BR 222.
As principais companhias aéreas têm voos diários para São Luís, veja aqui como chegar na capital maranhense.
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