Passeio alternativo conta a história de grafites e ocupações artísticas em Berlim
Se a melhor forma de conhecer uma cidade é caminhar, um passeio a pé na companhia de um guia turístico é mais do que bem vindo. Em Berlim é possível percorrer o roteiro dos pontos alternativos da cidade pelo sistema de “walking tour” gratuito, com guias que fazem uma caminhada pela cidade em troca de gorjetas.
O passeio organizado pela agência Alternative Berlin (http://alternativeberlin.com) é uma caminhada pelos grafites e lugares tradicionalmente ocupados pela cultura punk. O “walking tour” sai diariamente, às 11h e às 13h, da frente da famosa torre de TV de Alexanderplatz, ponto conhecido da capital alemã.
Ali é fácil reconhecer os guias turísticos, que, em sua maioria, são jovens com pinta de roqueiros, tatuados, com cabelos coloridos e geralmente rodeados por pessoas da mesma idade. Basta se aproximar e aguardar a saída. De cara, os guias deixam claro que trabalham por gorjetas, mas não estipulam nenhum valor.
Com quase três milhões e meio de habitantes, Berlim chama a atenção por sua cultura alternativa. Por toda a cidade é comum ver grafite, pichação (não tão agressiva quanto a de São Paulo) e punks circulando pelas ruas. Tudo isso em um cenário histórico. “Essa é uma cidade que teve 80% de suas construções destruídas durante a Segunda Guerra Mundial e que só começou a tomar a cara que tem hoje depois de 1989, após a queda do muro”, contextualiza a guia Trish.
A primeira parada do tour é o Hackescher Höfe, um complexo de prédios construídos no século 19, no histórico mercado Hackescher Markt, que passou por uma transformação por conta da especulação imobiliária. Ali, um grande desenho colorido do rosto de uma garota chama a atenção. Trata-se de uma intervenção do artista El Bocho. “Ele reinventou uma garotinha que é personagem de um desenho animado daqui”, conta Trish. “Mas em sua versão ela é má. Mais a frente vamos ver um desenho dessa menina maltratando seu gato.”
A região tem muitos trabalhos que resumem o que acontece nas ruas berlinenses. É possível ouvir uma série de histórias sobre os artistas contadas pelos guias, ver e entender as diferenças entre os grafites tradicionais, feitos diretamente na parede, até os desenhos impressos em papel, adesivos e estêncil (técnica de pintura feita com papel vazado).
Berlim tem uma vida noturna louca e é um lugar onde a arte ainda é acessível. As pessoas amam vir aqui e fazer coisas que não fariam normalmente. É o que faz da cidade um lugar tão interessante
Adie Stoiber, dono da Alternative BerlinPara participar da caminhada é preciso ter o bilhete diário que dá direito a todo o sistema de transporte da cidade e custa seis euros. Assim é possível percorrer os três principais bairros do passeio: Friedrischshain, Mitte e Krauzberg.
E é em Oranienburger Straße, no bairro de Mitte, que fica um dos pontos mais interessantes do roteiro: a ocupação Tacheles. Trata-se de uma antiga loja de departamentos que foi ocupada pelos nazistas e, desde 1990, abriga artistas independentes. Lá dentro é possível ver os residentes em seus ateliês, comprar trabalhos, camisetas e colagens.
De Tacheles o tour segue para Kreuzberg, bairro conhecido pelo movimento punk e por sediar manifestações estudantis nos anos 60 e 70. Apesar do histórico da região, a passagem pelo local é rápida, com visita ao lugar onde é realizada uma comemoração histórica com guerra de comida no feriado de Primeiro de Maio e a outros pontos comerciais típicos de Kreuzberg, um bairro ainda com imigrantes de muitos países.
Parte de trecho remanescente do Muro de Berlim que foi transformado em galeria a céu aberto
O passeio termina próximo da East Side Gallery, trecho remanescente do Muro de Berlim que se transformou na maior galeria a céu aberto do mundo ao ser pintado, entre 1989 e 1990, por 118 artistas de 21 países. Apesar das três horas e meia de duração, o passeio é apenas uma visão geral com boa base histórica para quem visita pela primeira vez a cidade. Não há tempo para paradas e vale a pena anotar os endereços para voltar com calma depois.
Os grupos, com cerca de 15 pessoas, reúnem em sua maioria jovens de todas as partes do mundo e com diferentes interesses. “Berlim tem uma vida noturna louca e é um lugar onde a arte ainda é acessível. As pessoas amam vir aqui e fazer coisas que não fariam normalmente. É o que faz da cidade um lugar tão interessante”, diz Adie Stoiber, dono da agência Alternative Berlin, que começou a fazer os roteiros alternativos em 2006.
MAIS ARTE EM BERLIM
Segundo Stoiber, a ideia é mostrar locais fora dos pontos turísticos tradicionais e apoiar a cultura alternativa da cidade. “São lugares que eu amo e que fazem parte da subcultura e da vida underground de Berlim, mas que estão lutando para manter as portas abertas nestes tempos de crise econômica”, conta. Ele organiza ainda um passeio pago mais completo com foco na cultura alternativa (12 euros), um roteiro noturno por exposições, clubes e bunkers (20 euros), uma rota pelos bares da cidade (10 euros) e até um workshop de street art com visitas a mais de 50 trabalhos espalhados pela cidade e dicas de artistas (15 euros).
Berlim clássica
Os “walking tours” são atrações comuns em várias cidades turísticas do mundo. Em Berlim, além do roteiro underground da Alternative Berlin, outra agência oferece o passeio por 12 euros, a Sandemans New Berlin (http://www.newberlintours.com). Mas o destaque dessa empresa é a sua “tour” gratuita que sai todos os dias às 11h e às 13h do portão de Bradenburgo. A rota é feita por guias que falam inglês e espanhol e é uma excelente aula de história sobre a cidade com todos seus cenários principais de fundo. O passeio dura quatro horas e tem grupos grandes, com mais de 30 pessoas. Um programa imperdível em Berlim e que vale cada euro da sua gorjeta. A agência ainda oferece passeios com foco ecológico, sobre o Muro de Berlim, sobre o Terceiro Reich e pela cidade de Postdam.
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