Topo

Resort baiano Costa do Sauípe perde aura elitista e oferece diversão para famílias e turmas

Felipe van Deursen

Do UOL, em Mata de São João, na Bahia

13/09/2012 15h02

Se você acha que a Costa do Sauípe é um recanto destinado a jogadores de golfe, bem nascidos de São Paulo, Rio ou Salvador e tenistas endinheirados de fim de semana, está na hora de rever esse conceito. O complexo hoteleiro na costa norte da Bahia mudou de cara e não tem mais aquele perfil elitista de um local que recebia, entre outros eventos, o Brasil Open, único torneio do circuito mundial de tênis realizado no país.

Certo, Rafael Nadal não deve pisar nas quadras baianas tão cedo, mas decadência é um termo que, definitivamente, não pode ser aplicado à Costa do Sauípe. O resort ficou mais classe média, digamos assim. Mais acessível, mas ainda bonito, divertido e farto como uma viagem com tudo incluído para qualquer lugar, seja em família ou em turma, deve ser.

  • Felipe van Deursen/UOL

    Vista de piscinas do resort Costa do Sauípe, na Bahia


Desde a saída das bandeiras internacionais que administravam os hotéis do complexo – Sofitel, Marriott e Renaissance – e a consequente nacionalização do empreendimento, em 2010, muita coisa mudou. Os ricos que frequentavam Sauípe na década passada passaram a ir a resorts all-inclusive no exterior. E o turismo nacional cresceu. “O mercado se tornou mais acessível”, diz Rafael Abdalla, gerente de marketing da Costa do Sauípe. “O consumo das famílias avançou 2,8%. Este crescimento pode ser observado no aumento do turismo doméstico, que cresceu 7,7%, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). É maior registro para o mês de janeiro desde 2000”.

Um feriado ou fim de semana prolongado na Costa do Sauípe pode ser um dos melhores investimentos nesse fim de inverno. A temperatura facilmente passa dos 32ºC e chuva não costuma ser comum. Diversão na piscina, sossego na praia, comida farta, bares molhados, atividades esportivas. Mas que fique claro: é para agitar. Se quiser descansar o tempo todo, você pode se estressar.

Estrutura na prática
O caso da menina de quatro anos que morreu afogada na piscina do Sauípe Park, em julho, merece atenção. A história ainda está sendo investigada e os pais da criança entraram na justiça contra o complexo. De fato, muitas vezes os salva-vidas não estão a postos ou visíveis nas plataformas acima do público próximo às piscinas. Na praia, menos ainda.

Os bares das piscinas funcionam durante o dia, quando as atividades recreativas não param de acontecer. Há cerveja gelada sempre e uma razoável variedade de drinques. Pena que o excesso de batidas e sucos derramados na bancada costumem atrair abelhas e mau cheiro – especialmente no fim de tarde. E, depois, para conseguir uma bebida, nem sempre todos os bares dos hotéis estão disponíveis.

Os restaurantes variam o cardápio diariamente. Feijoada, carnes, peixes. E tapioca todo café-da-manhã. Mas há poucas opções de saladas e frutos do mar. Fora isso, é um pouco decepcionante estar cercado pelos infindáveis coqueiros da Linha Verde e não encontrar um único coco cortado para tomar. Água de coco só em um sem graça copo plástico. No mais, glutões não terão dificuldade em ser felizes à beira da piscina.

Além da área dos hotéis, tranquilamente explorada a pé, há a Vila Nova da Praia, vilinha erguida para os turistas, com cara e charme de praia - mesmo que tudo seja tão verdadeiro quanto as cidades do Hopi-Hari. Tudo bem. Os restaurantes são bons (e fique esperto, dependendo do pacote que comprar, você pode ter direito a jantar neles em uma noite) e os shows na praça, divertidos. E ainda há lojinhas para deixar a carteira feliz.

Lá perto fica o Sauípe Tênis, onde, sim, era realizado o torneio internacional. Aqui se percebe um certo desleixo na conservação das quadras. Há aulas com professores atenciosos e você pode pegar bicicletas (de graça por até uma hora de uso). Pedalar pela estrada tranquila e bem pavimentada é gostoso, apesar do estado precário das magrelas. Sol, vento na cara, asfalto liso, restinga e um mar de coqueiros a perder de vista. Imperdível. De quebra, você pode esbarrar em alguma celebridade que tenha casa em um dos condomínios do complexo, mais ao norte, como Carlinhos Brown.

Por falar em música baiana, há duas grandes festas por ano: Sauípe Folia, no feriado de 7 de setembro, e Sauípe Fest, em novembro (segundo funcionários dos hotéis, é a inauguração do Carnaval baiano). Ou seja, micareteiros vão a micaretas. Se você não é um deles, evite essas datas. Além delas, férias de julho, janeiro e Réveillon enchem os quartos. “São 250 mil hóspedes por ano. Uma média de 82% de lotação na temporada do começo do ano”, diz Abdalla. “Os períodos mais tranquilos são entre março e junho e de agosto a outubro”.

Nesses meses, é possível passear tranquilamente pelo campo de golfe e a praia (que, apesar do nome, Tranquila, tem mar agitado, fique esperto) e caminhar nos jardins entrecortados por restingas, coqueiros, iguanas e bem-te-vis amistosos. Todo o paisagismo foi criado junto com o complexo. “Além de variar entre os estilos de jardins tropical e inglês, que têm como proposta gerar sensações de pouca interferência na paisagem, ele promove a interação entre a vegetação de restinga e outras espécies ornamentais tradicionais”, explica Maurício Sena, gerente de Áreas Verdes da Costa do Sauípe, que garante que as características originais do local foram mantidas o máximo possível.

A propósito, o que havia antes desse colosso hoteleiro brotar 76 km ao norte de Salvador, em 2000? A bióloga Ada Assunção, coordenadora ambiental da Costa do Sauípe, diz que o local faz parte de uma área de proteção ambiental que se estende por 142 km ao longo da Linha Verde. “Toda essa região possui uma rica variedade de ecossistemas e paisagens naturais, como remanescentes de Mata Atlântica, restingas, dunas, praia, brejos e lagoas”. Ou seja, era natureza praticamente pura.

Aliás, se bater aquela coceirinha de viajar a um local e nem conhecer direito a cidade a que ele pertence, a comunidade que nele trabalha, enfim, a vida de verdade que se desenrola para que essa estrutura paradisíaca funcione, corra atrás e enxergue além do resort. Há ONGs que trabalham em parceria com o complexo. Os institutos Berimbau e Imbassaí buscam qualificar e estimular a mão-de-obra local, através de reciclagem e artesanato, além de pequenos agricultores e pescadores. É fácil ajudar. Há panfletos explicativos nos quartos e os hóspedes podem contribuir com uma taxa ambiental paga ao hotel, que é destinada aos projetos. Aliás, sempre é bom saber, Costa do Sauípe fica no município de Mata de São João.

  • Felipe van Deursen/UOL

    Vista das praias de Mata de São João, na Bahia


Conheça detalhes e evite roubadas:
São cinco hotéis lado a lado e de frente para a praia, com belos jardins comunais e piscinas abastecidas de bares: Class, Fun, Premium, Park e Club. Cada um tem um perfil bem específico de público. Escolha bem, mas não se desespere. Na prática, você pode ficar mais tempo nos outros hotéis, boiando na piscina ou largado ao sol, do que no seu próprio. Não há muros ou grades entre eles e pular de um para outro faz parte do programa.

Class – Casais de namorados, em lua-de-mel ou com filhos pequenos. Tem quartos maiores, onde é possível acomodar mais camas. A piscina é a mais tranquila do complexo e tem o melhor serviço de bar. Aliás, com exceção do Premium, os hóspedes podem circular por todas as piscinas. Enjoou de uma, caminhe pela grama até a outra. Uma delícia.

Fun – Bastante agitado. É impossível ler um livro à beira da piscina (para isso, vá à praia –a barreira de coqueiros impede que o axé chegue em um volume muito alto na areia). O hotel é cheio de atividades para crianças e jovens. Ao lado dele fica o Sauípe Kids, dedicado às atividades infantis (dica: o atalho pela passarela atrás do Sauípe Kids é um caminho muito mais curto e agradável para chegar à Vila Nova da Praia do que pela rua).

Premium – O mais exclusivo. É menor, com 198 apartamentos, e conta com serviços que não existem nos outros, como restaurante a la carte. E a piscina é exclusiva, ou seja, diferentemente das outras, só hóspedes do Premium a usam.

Park – O mais bonito. A piscina é cercada por um grande bosque e é fácil esbarrar com iguanas, tão bonitas quanto ariscas. Elas fazem parte da paisagem, assim como os coqueiros, não se espante. No entanto, por conta das árvores, o sol deixa a piscina mais cedo nessa época do ano.

Club – Tem spa e outros serviços exclusivos, especialmente para quem quer fazer esportes. Spinning, academia e até arco-e-flecha (nada muito profissional, mas para iniciantes é uma diversão e tanto). Aqui também fica a Maremoto, discoteca do resort, com bebida liberada e músicas manjadas de rádios FM e pistas de baladas.