Vinícolas gaúchas têm novos roteiros e atrações para a festa da vindima
O Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, conquistou em 2012 o primeiro selo D.O. (Denominação de Origem) da produção de vinhos finos do Brasil. A região privilegiada para o enoturismo, que se pode visitar a partir de cidades como Bento Gonçalves e Garibaldi, distantes cerca de 150 km de Porto Alegre, prepara uma festa da vindima especial para o primeiro trimestre de 2013. Entre as novidades da programação estão a colheita noturna das uvas, caminhada ecológica, degustação harmonizada com finger food (petiscos servidos em colheres ou copinhos), Jantar sob as Estrelas, degustação às cegas e Ciclo de Cinema em Bento Gonçalves.
Perto dali, nas cidades de Flores da Cunha e Nova Pádua, um novo roteiro para os apreciadores de espumantes e vinhos finos começa a se firmar. São os Vinhos dos Altos Montes, com 12 vinícolas que, juntas, produzem cerca de dois milhões de litros de vinhos finos por ano, segundo a Apromontes (Associação dos Produtores de Vinhos dos Altos Montes). Todas as vinícolas oferecem lojas onde é possível degustar as bebidas na companhia de enólogos ou proprietários, e algumas incrementam a programação enogastronômica com cursos, restaurantes para refeições harmonizadas com vinhos e visitas aos parreirais.
Nos Altos Montes, como o nome já diz, a altitude média é superior a 750 m, condição que refrigera a temperatura e embeleza a paisagem, fazendo o visitante percorrer estradas circundadas por “ondas” de verde intenso: os vinhedos subindo e descendo as suaves colinas. A partir de dezembro e até o final do verão, em março, os tons de roxo, rosa e verde se multiplicam nos cachos de uvas colhidos desde a madrugada. O cheiro adocicado da fruta vai antecipando os aromas mais complexos das taças de espumante e vinho branco, como frutas cítricas, pêssego, maçã verde, baunilha, flores silvestres.
Algumas vinícolas de Flores da Cunha impressionam pela arquitetura, como a Luiz Argenta, a Monte Reale e a Salvador. Esta abriu as portas para os turistas num casarão restaurado do começo do século 20, onde em 1911 funcionava um moinho. A Monte Reale tem salões e caves em basalto e recantos com relíquias da família Mioranza, vinda da Itália, além de preciosidades como um estoque certificado de 40.653 litros de um brandy envelhecido por 36 anos. Uma de suas bebidas exclusivas é a grapa branca de uva moscato giallo, com produção de apenas mil garrafas por ano. A grapa é um tipo de aguardente.
Na jovem vinícola Luiz Argenta, cujos 55 hectares se dedicam somente a espumantes e vinhos finos, com 14 tipos de uvas, duas grandes estruturas disputam a atenção do visitante: o primeiro casarão, logo na entrada, com três pisos de madeira e basalto, é um símbolo da cultura vitivinícola do Sul do Brasil, casa que nos anos 30 abrigava a sede da Companhia Vinícola Rio-Grandense. Na atual sede da Luiz Argenta, cujo desenho arrojado, com curvas, se harmoniza com a geografia ondulante dos parreirais, o ambiente é luxuoso, refletindo cuidados como a vinificação por gravidade nos tanques (que reduz os danos à casca da uva), a importação de mudas da Europa e o design italiano das garrafas.
Plínio Pizzato, descendente de italianos e patriarca da vinícola Pizzato, trabalha nos parreirais desde a infância, no Vale dos Vinhedos
“Toda a região está fazendo excelentes espumantes. Queremos igualdade de condições para disputar espaço entre os melhores”, diz Deucir Argenta, presidente da Apromontes. A produção é limitada aos vinhedos próprios, nos quais são colhidos apenas um quilo de uva por planta. A vinícola Luiz Argenta fabrica sete tipos de espumantes e 13 vinhos diferentes, tintos, brancos e rosé, entre eles pinot noir, shiraz, cabernet sauvignon e chardonnay.
Os italianos que colonizaram a cidade de Flores da Cunha a partir de 1877 trouxeram o amor pelos vinhos nas bagagens, com sementes, cepas e galhos de parreira acomodados entre as roupas que cruzaram o oceano Atlântico. A vida dura das primeiras lavouras levou as famílias colonizadoras a comerem carne de passarinho, e a tradição do ritual prolongado de assar as caças se transformou no prato típico da cidade, o menarosto. Na cidade vizinha de Nova Pádua, um banquete com galeto e outros tipos de carnes assadas no espeto é servido no Belvedere Sonda, restaurante em plataforma a 450 m de altura, com vista para o Vale do Rio das Antas. Sopa de capelletti, tortei e salada de raddiccio, exemplares da cozinha italiana, acompanham as carnes.
Nova Pádua é um pequeno município de 2.500 habitantes que produz e colhe 32 milhões de quilos de uva por ano, segundo o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Rafael Martelo. Entre as suas vinícolas, destacam-se a Boscato e a Fabian, esta de antepassados franceses. A produção de vinhos finos da Fabian se concentra em 10 hectares. Uma das apostas da casa é o espumante brut rosé no método champenoise (fermentação posterior ao tanque de aço inox, na própria garrafa), feito com uvas cabernet sauvignon, merlot e pinot noir da safra de 2010.
“O rose é mais frutado, mais alegre”, diz o enólogo Guerino Fabian. Cedenir Fortunati, enólogo da vinícola Fante, de Flores da Cunha, diz que os consumidores brasileiros gostam bastante dos moscatéis. Segundo a Associação Brasileira de Enologia (ABE), vinhos e espumantes brasileiros de 59 vinícolas conquistaram 251 medalhas em concursos estrangeiros em 2012, sendo que 65% das premiações foram para espumantes.
Vindima em Bento Gonçalves
No calendário de Bento Gonçalves, a festa da vindima começa em 12 de janeiro e segue até 17 de março. A programação é diária, em dezenas de vinícolas, hospedagens e pontos turísticos da cidade, sendo que os finais de semana concentram maior número de eventos, como jantares harmonizados, filós italianos, a pisa das uvas, colheitas nos parreirais, shows e cursos de degustação.
São cinco roteiros na cidade: Vale dos Vinhedos, Caminhos de Pedra, Vinhos de Pinto Bandeira, Rota das Cantinas Históricas e o Vale do Rio das Antas. Entre as cantinas históricas, vale a pena visitar o Parque Temático Dal Pizzol. Em área de oito hectares, habitada e sonorizada por aves e outros pequenos animais, a vinícola preserva os pioneiros equipamentos da fabricação de vinhos no Estado: carretas de imigrantes, pipas e antigos recipientes de metal e madeira, como as mastelas, geringonças para envasar e colocar as rolhas nas garrafas.
Parreirais de Nova Pádua, cidade da Rota dos Vinhos de Altos Montes, na Serra Gaúcha
Enófilos e enólogos suspiram ao entrar na pequena olaria transformada em enoteca para a guarda das safras mais antigas da Dal Pizzol, que produz vinhos finos desde 1974. Em 2012, a vinícola deu início à atividade de degustação às cegas. Outra experiência sensorial na cultura vitivinícola se dá ao ar livre, na área de amostras dos Vinhedos do Mundo. Estão lá as parreiras e, na primavera e verão, os cachos de cerca de 200 variedades de uvas estrangeiras, típicas ou exóticas, entre elas a Gamay Saint Germain e a Merlot Blanc da França, a Kiralyleanyka da Hungria, a Shiraz do Irã, a Phenix inglesa, além de exemplares do Egito, Bulgária, Afeganistão e, claro, de países de forte tradição vitivinícola, como Itália, Alemanha, Portugal, Argentina e Chile.
No Vale dos Vinhedos, no mesmo dia dá para conhecer gigantes do setor, como a Miolo, que em 1.200 hectares (no Sul e no Nordeste do país) produz 12 milhões de garrafas de vinhos e espumantes por ano, e também pequenas vinícolas que lançaram novos rótulos recentemente, como a Almaunica. Depois de estudar a tecnologia da produção em vários países, o enólogo Márcio Brandelli instalou suas caves nove metros abaixo do nível do solo, concentrou os vinhedos em apenas oito hectares e traçou uma meta de 100 mil garrafas por ano.
“A minha primeira escola foi a família, e a constância eu aprendi com os franceses”, afirma. A prata da casa da Almaunica é o tinto shiraz, com capacidade de guarda para cinco anos. A Miolo teve um de seus vinhos tintos selecionados para cerimônias dos Jogos Olímpicos de Londres e já conta com mercados importantes no exterior como Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda e China. Na jovem Almaunica, os planos são ambiciosos: barris de carvalho da vinícola trazem a inscrição gravada a fogo: “Do Brasil, com orgulho”.
Ainda que o enoturismo no Sul seja programa para adultos, sem os atrativos para crianças que Gramado ou Canela oferecem, nota-se um esforço para agradar também os futuros consumidores de vinhos. Na Colheita ao Luar promovida pelos Hotéis Dall´Onder, às quartas e sábados do verão, as crianças ganham fondue de Nutella com frutas. A bebida? Suco de uva, 100% natural.
PORTAIS REGIONAIS
Apromontes – Associação de Produtores dos Vinhos de Altos Montes
www.apromontes.com.br
Secretaria de Turismo de Bento Gonçalves
www.turismobento.com.br
ONDE FICAR
Hotel Flores da Cunha
www.hotelfloresdacunha.com.br
Hotéis Dall´Onder
www.dallonder.com.br
* A jornalista Cris Gutkoski viajou para Flores da Cunha e Bento Gonçalves a convite da Aprovale e da Apromontes
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