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Península Valdés e Puerto Madryn mostram vida selvagem da Patagônia

Felipe Floresti

Do UOL, na Península Valdés e em Puerto Madryn

09/05/2013 08h09

Cerca de 50 pessoas olham fixamente em direção ao mar no extremo norte da Península Valdés, na Patagônia argentina. De pé na parte alta da praia, estão a cerca de 100 metros de um grupo de lobos-marinhos que cuidam de seus filhotes na orla. Mas não é a fofura desses desajeitados mamíferos do mar que prende a atenção de turistas, fotógrafos e estudiosos. A espera é por um evento raro na vida animal que pode mudar a sorte do pequeno lobinho: o ataque das orcas.

O mar que banha a praia de Punta Norte recebe de setembro a abril grupos de famintas orcas que aproveitam a abundante vida marinha local para se alimentarem. E o chão duro de pedras da praia é o lugar ideal para a caça conhecida como “encalhe intencional”, quando as orcas se arriscam em terra firme para abocanhar os lobos-marinhos ou leões-marinhos ainda filhotes, retornando para o mar em seguida.

O espetáculo, tão raro quanto impressionante, acontece somente ali e na pequena ilha Crozet, no Oceano Índico, e não é privilegio garantido para todos que visitam a península. A comunidade desses golfinhos que receberam o apelido de “baleia assassina” é de apenas 32 exemplares nessa região, sendo que somente sete praticam essa forma de caça.

Algumas pessoas chegam a ficar semanas para simplesmente terem a chance de avistar de longe uma orca. Para quem tem paciência, a espera pode render uma experiência única. Para quem não tem, não faltam opções de contato com a fauna local, rendendo memórias igualmente inesquecíveis.

A 1.400 km de Buenos Aires, na província de Chubut, a Península Valdés é contornada pelo Oceano Atlântico, no ponto de encontro entre duas correntes marítimas, sendo a do Brasil de água quente e a das Malvinas de água fria. Este choque gera as condições ideais para o crescimento do fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha. Com abundância de alimentos, prolifera no local uma grande variedade de vida animal, indo dos simpáticos pinguins até as gigantescas baleias francas.

Mais fauna

É em meados de maio que os maiores visitantes da região começam a chegar. Medindo 15 metros de comprimento em média, buscam águas tranquilas e quentes para a reprodução. A temporada para observação de baleias vai de junho a dezembro, quando o encontro é praticamente certo.

Desde a terra firme já é possível avistar os cetáceos, que estão em todo o arredor da península, seja no Golfo Nuevo, Golfo San José ou em alto mar. Mas é na pequena cidade de Puerto Pirámides que se tem uma experiência mais próxima com as baleias.

  • Divulgação

    Espécie de golfinho, as toninhas são mais um dos visitantes da costa da Península Valdés

Por 350 pesos argentinos (cerca de R$ 140), um barco leva os turistas atrás de baleias por 1h30 nas águas do Golfo Nuevo, que separa a Península Valdés da área continental, onde fica Puerto Madryn. Os guias garantem que não demora mais que 10 minutos para chegar pertinho de uma. Curiosas, elas se aproximam constantemente das embarcações, se exibindo com saltos e batidas de suas caldas e barbatanas na superfície da água.

Mas não é somente na temporada das baleias que as atividades de Puerto Pirámides atraem os turistas. Mergulhos são os mais concorridos. As águas calmas e cristalinas do Golfo Nuevo são ideais para a prática do esporte, possibilitando a visualização de uma grande quantidade de animais marinhos.

Mas quando os lobos-marinhos entram em cena, é praticamente impossível prestar atenção em qualquer outra coisa. Curiosos e brincalhões, os desajeitados animais fora d’água se transformam em exímios nadadores e não privam os mergulhadores de uma exibição de suas habilidades subaquáticas.

O mergulho com os animais é restrito aos experientes. Para os iniciantes a opção é o snorkel. Para ambos, o preço é de 900 pesos argentinos (cerca de R$ 360). O chamado batismo submarino para iniciantes (sem os lobos-marinhos) custa 350 pesos argentinos (cerca de R$ 140).

Empresas de mergulho em Puerto Madryn também oferecem os serviços, com os mesmos preços. Só é preciso torcer pela ajuda dos ventos, pois se estiverem muito fortes podem deixar o mar revolto e acabar com a visibilidade do mergulho.

  • Felipe Floresti/UOL

    De fevereiro a março, turistas da Patagônia passam dias esperando a chance de observar orcas

Outras atividades

Para quem cansou das atividades aquáticas, ainda em Puerto Pirámides dá para alugar cavalos, bicicletas ou sair em um tour a pé para dentro da península. Lá o estepe patagônico é a atração. Com ventos fortes e pouca água, a vegetação formada por arbustos de pequeno porte se perde no horizonte. Porém, com pouco tempo de passeio, é possível perceber que aquele aparente deserto está cheio de vida, sendo habitat de espécies como guanacos (parente das lhamas), nhandus, raposas, tatus, grande variedade de aves e os roedores endêmicos da região, os maras.

No outro lado da península, próximo a Punta Norte, os pinguins de magalhães são os protagonistas. Cerca de 200 mil casais se reúnem todos os anos para reprodução (setembro a dezembro) e troca de penas (dezembro a março) na área pertencente à estância San Lorenzo. Até a 1.200 metros do mar já é possível observar alguns, mas chegando perto da praia que se tem a dimensão da grande quantidade dessas graciosas aves que visitam a região.

Em uma extensão de cinco quilômetros de costa brotam pinguins de todos os lados. Aí é bom preparar a câmera fotográfica, pois não faltará oportunidade para chegar bem pertinho deles. Trilhas predeterminadas limitam a área de acesso dos turistas (em 5% da área), mas não a dos pinguins, que fazem ninhos nos caminhos e em geral são mais dóceis que os demais.

O preço para acesso à estância é de 70 pesos (cerca de R$ 28) para turistas procedentes da América do Sul, e 60 dólares para os demais. A entrada na Península Valdés também é paga, e custa 100 pesos (cerca de R$ 40) para brasileiros e 40 pesos para os argentinos; crianças até 11 anos e idosos pagam metade.

  • Felipe Floresti/UOL

    Ao contrário dos mares da Península Valdés, os estepes patagônicos parecem grandes desertos

Como não existe transporte público até o local, os visitantes precisam alugar carro ou embarcar em uma excursão.  O tour custa 350 pesos (cerca de R$ 140) por pessoa, com a entrada no parque e possíveis atividades pagas à parte.

Com poucas opções de hospedagem e estrutura, a base para a maioria dos que visitam a  península é a cidade de Puerto Madryn, a 100 km de Puerto Pirámides, 171 km de Punta Norte e 174 km de Punta Delgada, no sul da península. A tranquila cidade de cerca de 100 mil habitantes tem ampla estrutura para receber turistas, com variedade de hotéis, restaurantes e lojas. Suas belas praias de areia fina e água azul cristalina ficam cheias no verão onde, apesar de se tratar da Patagônia, faz calor que ultrapassa os 30°C.

No inverno, as baleias são a atração, podendo ser avistadas de terra firme. Durante todo o ano barcos levam turistas para mergulho ou um passeio pela costa.

A 17 km ao sul da cidade fica Punta Loma, onde lobos-marinhos passam parte do ano, antes de irem rumo à península para o ciclo de reprodução. E a 19 km ao norte da cidade fica El Doradillo, com praias paradisíacas sem influência da cidade, com grande variedade de fauna. Ambas as áreas são reservas naturais protegidas.

Se o clima não ajudar, o Ecocentro é uma opção de passeio em ambiente fechado. Criado há 10 anos, é um espaço cultural dedicado à vida marinha. Trata-se de uma excelente opção para o primeiro dia de viagem, onde se pode ter uma noção teórica de tudo o que se vai ver e vivenciar no restante do passeio. O preço é 55 pesos (cerca de R$ 22). Outra opção é o Museu do Homem e o Mar, onde por cinco pesos é possível conhecer um pouco da história da cidade, desde o povo primitivo Tehuelches até a ocupação galesa. Também fala um pouco da fauna local, com direito a um exemplar conservado de uma lula gigante com cinco metros de comprimento.

Acessibilidade

A secretaria de turismo de Puerto Madryn juntamente com o governo nacional tem investido na promoção do turismo adaptado para pessoas com algum tipo de deficiência física. Além de treinamento dos trabalhadores do turismo para lidar com as necessidades de cada pessoa, foram adaptados hotéis, restaurantes e embarcações, além da construção de plataformas que facilitam o acesso a alguns dos principais pontos de observação de animais. Outra novidade é uma cadeira de rodas anfíbia. Com ela, fica mais fácil para os cadeirantes entrarem na água para a prática de mergulho ou snorkel.

Serviço:

Turismo na argentina: www.turismo.gov.ar
Turismo em Puerto Madryn: www.madryn.gov.ar/turismo/
Península Valdés: www.peninsulavaldes.org.ar
Estância San Lorenzo: www.pinguinospuntanorte.com.ar
Site de Porto Pirâmides: www.puertopiramides.gov.ar
Mergulho adaptado: www.buceahoy.com.ar