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Países polêmicos e perigosos são temas de livro lançado por jornalista

Capa do livro "Não Conta Lá Em Casa" - Divulgação
Capa do livro "Não Conta Lá Em Casa" Imagem: Divulgação

Eduardo Vessoni

Do UOL, em São Paulo

06/07/2013 08h11

Tem viajante que sai de casa para encher sacolas em endereços cobiçados com preços competitivos; outros se empenham em acumular milhas em tours organizados de qualidade duvidosa; e tem até quem organize viagens inspirado no destino da moda.

Porém, tem gente também disposta a embarcar no sentido contrário e seguir viagem rumo a destinos nada prováveis como a Somália, a Etiópia ou a República do Djibuti.

O jornalista André Fran acaba de lançar o livro "Não Conta Lá Em Casa – Uma Viagem Pelos Destinos Mais Polêmicos Do Mundo" (Editora Record) sobre sua experiência (nem sempre agradável) de desembarcar em países polêmicos, perigosos e inacessíveis que de longe os colocam na lista dos destinos mais procurados por turistas.

O que o leitor encontra em quase 300 páginas de relatos são impressões registradas em guardanapos surrados ou em blocos de notas do celular ao longo das viagens feitas com outros três amigos (Leonardo Campos, Felipe Ufo e Bruno Pesca) durante as cinco primeiras temporadas do programa homônimo veiculado pelo canal Multishow.

Dividido em 16 capítulos, "Não Conta Lá Em Casa" percorre países em que a equipe esteve, como o conflituoso Chifre da África, o isolado Mianmar e a fechada Coreia do Norte. Acrescente ainda à lista destinos ainda menos prováveis como o Afeganistão, o Irã e o Iraque.

Em um dos capítulos mais tensos do livro, Fran descreve, em meio a detalhes históricos e bíblicos, a passagem pelo Iraque: "um misto de medo, encanto e constante excitação (…) em um cenário de guerra". Mais do que descrever o ambiente desolador já conhecido do lado de cá do planeta, Fran relata momentos difíceis como o dia em que a equipe fora esquecida no aeroporto por seu único contato local, e as dezenas de cerveja que foram obrigados a tomar por conta da falta de alimento nas ruas, em pleno período do Ramadã.

Uma das surpresas é a chegada à Somália, onde, em meio a relatos de guerra civil, sequestro de estrangeiros e até estupro de homens brancos, os integrantes do grupo conseguiram entrevistas com o ministro das Relações Exteriores de Somalilândia, um estado independente da Somália não reconhecido pelo resto do mundo.

Mesmo diante de lugares pouco convidativos para o viajante tradicional, o autor ressalta particularidades desconhecidas como a hospitalidade do povo iraniano ou a beleza de cidades históricas da Etiópia. Porém, por vezes perde a oportunidade de explorar outros destinos que estão no livro, como o breve capítulo dedicado a Djibuti ou a passagem superficial pelo Afeganistão que, na publicação, resume-se apenas à descrição de um projeto social voltado para jovens e crianças carentes de Cabul.

Este livro em tom de diário de bordo vai além dos guias óbvios de turismo que costuma entediar viajantes com dicas de "hotéis boutiques". "restaurantes descolados" ou "barzinhos pé na areia", e brinda o leitor com breves discussões de temas como geopolítica, aquecimento global e trabalho voluntário em países atingidos por catástrofes naturais como o Japão pós-tsunami de 2011 que Fran voltaria a visitar, após um (insano) intervalo de apenas uma semana de férias no país, para se juntar aos colegas do programa que decidiram trabalhar como agentes humanitários após os abalos sísmicos.

Nerd assumido e viciado em mídias sociais, André Fran reserva alguns discretos espaços no livro para seções curiosas como o Manual do Nerd na Estrada, um relato aleatório e bem humorado da relação daqueles viajantes com o mundo da internet, uma espécie de guia de sobrevivência para momentos de "abstinência internética" que dá esperanças para quem procura sinal de wifi no aeroporto da Albânia, por exemplo, e até ajuda a montar uma verdadeira (e útil) nécessaire de viagem com plugues de tomada, adaptadores e carregadores de celular.

Além das dezenas de fotos que ilustram os relatos, como a imagem que registra o momento em que o carro da equipe encalha no deserto africano, o livro contextualiza cada um dos países retratados com um mapa da região, dados em tons escolares como o tipo de governo, o IDH do destino e (claro) a qualidade da internet como a conexão controlada no Irã e a "presentemente inativa" internet da Somália.

Não conta lá em casa, cuja sexta temporada do programa deve estrear no segundo semestre deste ano, é uma brincadeira em referência ao acordo que os integrantes fizeram entre si para nem sempre contar aos familiares qual seria seu próximo destino de viagem. Mas agora já não adianta mais. Está tudo lá escrito em detalhes (por vezes, apavorantes).

Serviço

Não conta lá em casa - Uma viagem pelos destinos mais polêmicos do mundo
Autor: André Fran
Editora Record
Preço: R$ 49,90
www.record.com.br