Norte argentino deslumbra e começa a ser descoberto por brasileiros
Cerca de 1.500 quilômetros separam a cosmopolita Buenos Aires de Salta, a porta de entrada para o norte argentino. Uma região muito diferente do típico folheto de viagem argentino que inclui tango, bife de chorizo e cafés históricos. No árido e indígena norte argentino, onde civilizações andinas milenares se encontram, uma Argentina oculta se mostra em todo seu esplendor.
“A região, que compreende duas províncias, é belíssima em termos de paisagens e cultura”, explica, de São Paulo, a agente de turismo Sonia Werblowsky.
Segundo a Secretaria de Turismo de Salta, os brasileiros representam apenas 6,2% dos turistas que visitam a região. Mas o Brasil é alvo prioritário de políticas de promoção turística, informou o órgão.
“Ainda pouco conhecida pelos brasileiros, as províncias de Salta e Jujuy, oferecem uma diversidade natural e cultural muito ampla e interessante. Vimos seu potencial e identificamos um roteiro instigante”, diz Werbowsky, cuja agência de turismo começou recentemente a oferecer pacotes da região a brasileiros.
"Salta, a linda”
De Buenos Aires a Salta (apelidada de "Salta, a linda”), são duas horas de avião. Há voos diários que saem de Buenos Aires operados pelas companhias Lan e Aerolineas Argentinas. Outra opção é o aeroporto San Salvador de Jujuy, na província de Jujuy (a 94 km de Salta).
Por terra, o trajeto feito a partir de Buenos Aires não dura menos de 17 horas. Salta desponta entre áridas montanhas, deitada ao pé da cadeia montanhosa com suas edificações coloniais espanholas.
O centro histórico da cidade está na Plaza 9 de Julio, onde se podem comer as famosas empanadas saltenhas, pequenas e saborosas, uma tradição local com fama internacional. É também na Plaza 9 de Julio que está o impactante Museu de Arqueologia de Alta Montanha (MAAM).
As múmias de Llillaillaco
É o MAAM a casa das três múmias Llullaillaco, encontradas a mais de seis mil metros de altura. Estão tão conservadas que parecem estar dormindo. As três crianças, de mais de 500 anos, são uma chamada para uma viagem espiritual ao centro das culturas andinas.
De fato, a visão delas é tão impactante que pode gerar certo desconforto. As baixas temperaturas do local onde foram encontradas e as condições em que se mantiveram por todos esses anos fazem delas as múmias em condição natural mais conservadas do mundo. É possível observar em detalhes as feições de cada uma. Um privilégio que vai do deslumbramento ao lúgubre.
O ponto de Partida
Localizada no Vale de Lerma, ao leste da cordilheira dos Andes, a província de Salta faz fronteira ao norte com a Bolívia, ao leste com Paraguai e a oeste com o Chile. É o ponto de partida para explorar o norte argentino, com estradas sinuosas que acompanham penhascos e povoados perdidos em áridas paisagens.
O contraste da européia Buenos Aires com as empobrecidas populações indígenas do norte é inevitável. A paisagem também não lembra em nada as ruas da capital argentina. Salta se desdobra em uma infindável troca de cenários que vão de rios caudalosos formados pelas águas de degelo a florestas de cactos gigantes que se estendem sobre chapadas a perder de vista.
Uma das melhores opções para ver a natureza do lugar e sua troca de paisagens é a estrada que vai de Salta ao povoado de Cachi. São apenas 160 quilômetros, mas é preciso ir a 30km/h pela tortuosa estrada que segue pelos vales e montanhas da região.
Cachi é uma pequena histórica vila parte do Vale Calchequiés, a cerca de 2.500 metros de altura. Charmosa, receptiva e com boas opções de hospedagem e alimentação, Cachi é uma alternativa de pernoite para quem quer explorar a região.
Entre as atrações locais estão pequenos cemitérios indígenas, mirantes sobre a estrada, capelas de pedra, vales e diversas excursões e caminhadas pelas montanhas.
Salta – Jujuy
Uma visita ao norte argentino não estaria completa sem uma ida a província vizinha Jujuy. De Salta até a capital Jujuy, por terra, são menos de 100 km. No entanto, as atrações desérticas se encontram um pouco além, em uma região conhecida como Quebrada de Humahuaca.
De Salta a Tilcara são 175 km de estrada, mas a viagem, dependendo das condições da estrada e dos postos de checagem da polícia militar, pode durar até cinco horas.
Na região da Quebrada de Humahuaca, Tilcara e Purmamarca despontam como as duas melhores opções de hospedagem e campo base para as excursões.
Ambas as vilas possuem simpáticas alternativas de pernoite, restaurantes, feiras de artesanato, locais de interesse cultural e vistas espetaculares, como do Cerro Siete Colores, um vale cuja sedimentação das rochas pintou uma paisagem multicolor que pode ser vista da entrada de Pumamarca.
É também um bom lugar para comer uma das especialidades locais: carne de lhama.
De Salinas a ruínas incas
Com mais de dez mil anos de ocupação humana, a região que compreende a Quebrada de Humauca é um prato cheio para o turismo de aventura, histórico, montanhismo e muito mais.
A cerca de um quilômetro ao sul de Tilcara está a antiga fortaleza inca de Pucará, um labirinto de edificações de pedra de mais de 900 anos de idade, que servia como ponto estratégico de visão das civilizações pré hispânicas.
A 70 km de Tilcara, por uma rota montanhosa que chega até a 4.170 metros de altura, está uma das três maiores salinas do planeta. Salinas Grandes se estende por 212 km entre as províncias de Salta e Jujuy. Criada pela evaporação da água resultante da atividade vulcânica, entre cinco e dez milhões de anos atrás, Salinas Grandes é uma atração turística como poucas. Uma imensidão salgada que transforma turistas em crianças em uma das paisagens mais áridas do planeta.
Para os mais ousados, vale a pena conhecer a cachoeira conhecida como Garganta do Diabo. De Tilcara são oito km que permitem uma vista privilegiada do povoado e seus vales para aqueles que não sofrem de vertigem com as alturas. A caminhada em si, do estacionamento à cachoeira dura cerca de 20 minutos até o fundo do vale. O caminho é íngreme, mas permite ao visitante um encontro com a montanha e um contato direto com as dramáticas paisagens locais.
De São Paulo ao norte Argentino
“O clima desértico, as montanhas avermelhadas e os cactos me lembraram o visual dos velhos filmes de faroeste”, conta a turista paulista Maria de Fátima Marques. “Adorei ver de perto, e em liberdade, bandos de lhamas e vicunhas. As lhamas são curiosas e gostam de 'posar' para fotos, já as vicunhas são assustadiças, saem correndo”.
Fátima elogiou ainda a infraestrutura e a receptividade local. “Morri de inveja das estradas argentinas, com um asfalto geralmente impecável, e fiquei impressionada com a limpeza das cidades e dos 'pueblos' por onde passamos, por mais simples que fossem. As pessoas são muito simpáticas e amáveis, o que foi uma boa surpresa, já que povos de montanha tendem a ser mais fechados e introvertidos”.
É uma Argentina oculta, misteriosa, indígena e por muitas vezes inóspita. Dramática em seus contrastes, tão diferente da metrópole Buenos Aires. Pelo norte nada de tango, por lá se escuta o silêncio das montanhas.
Serviço
Vôos de Buenos Aires à Salta são diários e oferecidos pelas companhias Lan e Aerolineas argentinas e custam em média R$ 450 ida e volta.
Vôos saindo de São Paulo com escalas em Buenos Aires custam em média US$ 600 ida e volta. A agência de Turismo Freeway oferece pacotes de 12 dias saindo de São Paulo sem a parte a área a partir de US$ 2190.
Hospedagem
Tilcara
Pueblo Indio
Simpático hotel, bem localizado, quartos confortáveis com todas as comodidades.
http://www.puebloindiotilcara.com.ar/
Diárias para quarto standard duplo a partir de R$120
Onde comer
La Pena de Carlitos
Música local e pratos típicos. Ambiente animado.
Lavalle 397 esq. Rivadavia,
Cachi
Hosteria Cachi Pueblo Hermoso
Simpático, simples, familiar e quartos amplos.
Diárias a partir de R$100 o casal
Av. Gral. Guemes s/n
54 03868-491200
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