Trilha no Alasca segue os passos do livro e filme "Na Natureza Selvagem"

Para muitos mochileiros Christopher McCandless é um ícone. Ele abandonou emprego, questionou o sistema, e partiu por uma jornada solitária pelos Estados Unidos, chegando até o Alasca. Seu caminho, porém, foi sem volta. Ao adentrar por uma trilha próxima ao Parque Nacional Denali, não previu o aumento das águas do rio Teklanika, e ficou preso. Ficou sem comida e terminou morrendo de fome.

Sua morte, porém, não foi o fim de sua história, que virou livro e posteriormente o filme “Into the wild”, traduzido no Brasil como “Na Natureza Selvagem”. Hoje o Magic Bus, ônibus em que viveu por quatro meses antes de sua morte, virou destino de peregrinação para viajantes que tiveram sua vida inspirada pela trajetória de Alex Supertramp, nome utilizado por McCandless durante sua viagem.

A trilha que leva ao ônibus é antiga e conhecida. A Stampede Trail foi uma rodovia aberta em 1903 levando até as minas de ouro da região. Na década de 1960 houve uma tentativa de pavimentá-la, possibilitando a passagem de caminhões. Mas logo o projeto foi abandonado, sendo declarado intransitável o trajeto devido ao gelo e constantes enchentes. O Magic Bus é, na verdade, o Fairbanks City Transit System Bus 142, utilizado pela construtora para transportar operários de Fairbanks, a cidade mais próxima, até as obras. Foi abandonado ali em 1961.

O caminho não é fácil e indicado para viajantes com experiência em trilhas. A Stampede Trail parte a 3 km ao norte do pequeno vilarejo de Healy, seguindo cerca de 13 km até o Lago Eight Mile. A partir dali, somente veículos 4x4 conseguem seguir adiante, mas não por muito tempo. Logo será preciso atravessar o temido rio Teklanika. Ele não é o único a ser cruzado no caminho, sendo o segundo mais longo. Mas é sem duvida o mais temido devido à correnteza e profundidade. 

A coisa fica ainda mais complicada durante o verão, quando a temperatura fica enfim agradável, chegando à quase 20°C (contra os até 50°C negativos do inverno), mas o derretimento das geleiras faz com que o nível da água suba muito. Ainda tem o risco de se deparar com um urso no caminho.

São pouco mais de 60 km para chegar até o ônibus. Apesar de ter sido parcialmente pichado por visitantes e até ter algumas marcas de tiros deixadas por caçadores que passaram por lá, o ônibus continua praticamente com mesma aparência da vista no filme (que não foi filmado ali e sim em uma réplica). Uma placa lembra da passagem de Christopher McCandless por ali, no ano de 1992.

Agora você deve estar pensando que o esforço parece desproporcional à recompensa de chegar a um ônibus velho, mas aqueles que tem alguma ligação com a história de Alex Supertramp garantem que a sensação de estar em meio à "natureza selvagem" é gratificante. Prova disso são as diversas mensagens deixadas pelos turistas agradecendo pela inspiração proporcionada por McCandless.

É bom se preparar bem antes de ir, além de contratar um guia da região e ter certeza de estar bem equipado para a época do ano. O site criado em memória ao viajante, www.christophermccandless.info, assim como o www.stampedetrail.info, trazem mais informações do trajeto. O segundo possui um fórum onde é possível conseguir companhia para quem não quiser fazer o percurso sozinho, afinal, como diria McCandless, "a felicidade só é verdadeira quando compartilhada".