Manual de sobrevivência: saiba o que fazer em caso de queda no mar
Apesar de parecer difícil, cair no mar enquanto viaja em um cruzeiro é algo possível de acontecer. E por vários motivos. Uma turista britânica de 65 anos, por exemplo, quase morreu afogada no final de março ao tentar alcançar, a nado, um navio que passava pela ilha da Madeira, em Portugal. Já no ano passado, um americano de 22 anos que viajava em uma embarcação da Royal Caribbean caiu no mar e foi encontrado boiando com vida algumas horas mais tarde, por um navio da Disney Cruise Line.
Parecem histórias isoladas, mas um levantamento feito pelo site Cruise Junkie descobriu que 270 passageiros de cruzeiros e barcos tiveram esse tipo de experiência desde o ano 2000. O auge, porém, foi em 2015, quando 27 pessoas acabaram na água por motivos diversos, como tentativas de suicídio, excesso de álcool ou um simples acidente.
Baseado nesses dados, o jornal inglês The Telegraph foi investigar quais são as nossas chances reais de sobrevivência caso uma situação assim ocorra. E a verdade nua e crua? Todas as probabilidades estão contra nós, mas existem muitas variáveis para determinar se a pessoa vai ou não sair dali com vida.
"Os segundos iniciais são críticos", explica o Dr. Simon Boxall, oceanógrafo da Universidade de Southampton, na Inglaterra. Segundo ele, se você cair de uma altura muito grande, não apenas corre o risco de se quebrar todo na hora em que bater na água como, muito provavelmente, irá perder o fôlego durante a queda e poderá se afogar rapidamente.
Aconteceu, e agora?
Se as águas forem frias, muito provavelmente a vítima entrará em uma espécie de choque térmico, por conta da queda abrupta na temperatura do corpo. A situação acaba tomando o fôlego da pessoa, que inevitavelmente engole a água do mar e fica suscetível ao afogamento.
De acordo com Mike Tipton, que é professor da Universidade de Portsmouth e autor de um guia de sobrevivência, 60% das mortes em mares frios ocorrem nos primeiros minutos após o contato com a água.
Outros 20% das vítimas irão sucumbir à hipotermia, que pode acabar com as suas chances de sobrevivência após 30 minutos em águas geladas. Os 20% restantes costumam morrer quando já estão sendo resgatados - uma incidência estranha, mas que os especialistas atribuem ao fato das vítimas de repente relaxarem com a chegada do socorro.
Frio ou tubarões?
A temperatura do mar é um ponto importante na hora de sobreviver a uma situação dessas, mas as chances de ser resgatado vivo aumentam se o acidente acontecer nas águas mornas do Caribe do que no gelado mar do Norte. Isso porque, como regra geral, estima-se que em temperaturas de 5°C, as vítimas têm cerca de 60 minutos antes de sucumbirem a hipotermia. Em 10°C, o tempo dobra para duas horas; e a 15°C se estende para seis horas.
Acontece que, quando as águas estão acima dos 25°C, o problema passa do frio para a possível presença de tubarões. Contudo, explica o professor Tipton, um ataque do tipo em tais circunstâncias ainda é extremamente raro. Um dos maiores problemas de sobrevivência é não saber o que vai acontecer.
"Lembre-se que o frio causado pela queda repentina na água é normal e diminui depois de alguns minutos. O melhor é não se debater, conservando o calor e a energia. Também tente ficar quieto e flutuar enquanto aguarda o socorro", recomenda.
O excesso de movimentos, aliás, acaba tornando a vítima fisicamente incapacitada, a ponto de não conseguir segurar um possível dispositivo de flutuação com as próprias mãos por conta do cansaço. Assim, o melhor conselho para essas horas é se preparar antes que isso aconteça, tentando amarrar algum objeto que a ajuda a flutuar junto ao corpo (enroscado dentro da blusa, por exemplo) ou nadando para uma posição melhor.
Quem não tem nada para se segurar, pode tentar se enrolar em posição fetal para conservar o máximo calor possível com a ajuda das próprias pernas. No entanto, saiba que flutuar em mares calmos aumenta as chances de ser descoberto por equipes de resgate, enquanto águas raivosas as diminuirão drasticamente.
Para aqueles que sobrevivem aos primeiros minutos, o segredo é manter o otimismo e focar em uma atitude mental positiva, para não desistir. "Afinal de contas, em águas de 15°C, por exemplo, a perspectiva são de seis horas de sobrevivência a longo prazo. Basta não relaxar, mesmo quando estiver sendo resgatado", aconselha o professor Tipton.
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