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Tem gente trocando trabalho por hospedagem para poder viajar o mundo

Amanda trabalhando na construção de um banheiro seco em um sítio na Inglaterra - Arquivo Pessoal
Amanda trabalhando na construção de um banheiro seco em um sítio na Inglaterra Imagem: Arquivo Pessoal

Helena Bertho

do UOL

17/09/2017 04h00

Era para ser um ano de férias rodando o mundo, mas no meio do caminho Gilsimara Caresia, 38, decidiu dobrar o tempo de viagem. Mas como fazer o dinheiro previsto para 12 meses se esticar por 24? Foi aí que ela decidiu começar a trabalhar em seus destinos em troca de hospedagem. "No fim, foi maior que o dinheiro. Eu criei famílias no mundo inteiro, aprendi a conviver com culturas diferentes. Isso mudou minha vida", conta.

Gil também foi figurante na gravação de um filme em Bollywood - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Gil também foi figurante na gravação de um filme em Bollywood
Imagem: Arquivo Pessoal
"Fui até figurante em Bollywood"

Durante sua viagem, Gil rodou 90 países sozinha e trabalhou com as mais diferentes atividades: foi atendente em hostel, voluntária em uma ONG para crianças órfãs e até figurante em Bollywood. Para conseguir os trabalhos, ela usou duas estratégias: em alguns lugares, se oferecia para trabalhar, em outros, fechava o combinado antes, por sites específicos para isso.

"O bom dos sites é que você já chega sabendo o que vai fazer e pode ver as avaliações de pessoas que já foram. É mais seguro", diz. Os tais sites conectam viajantes com quem precisa de mão de obra. Com uma assinatura mensal, você tem acesso às oportunidades disponíveis no mundo todo, explicando qual é o trabalho, a carga horária e o que é oferecido, como refeições. 

Ela gostou tanto que criou um site brasileiro

Foi através de um desses serviços que Amanda Barbosa,33, conseguiu trabalhar em fazendas orgânicas na Inglaterra e nos Estados Unidos. "É uma experiência mais profunda, principalmente se você fica mais tempo, porque consegue fazer uma imersão na cultura, na língua, costumes e culinária do local", conta.

Ela gostou tanto, que quando voltou para o Brasil em 2016 decidiu criar uma plataforma nacional para esse esquema de viagem, o Work Nômades. Desde então, ela tem viajado o Brasil convidando e testando empregadores para seu site. "Já rodei todo o Sul e o Sudeste".

No Nepal, Gil Caresia ajudou a cuidar de 22 crianças órfãs em uma ONG. "Mudou minha vida" - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
No Nepal, Gil Caresia ajudou a cuidar de 22 crianças órfãs em uma ONG. "Mudou minha vida"
Imagem: Arquivo Pessoal
O melhor é a experiência

Para as duas, a economia com o esquema de viagem é bem importante, mas o melhor é a experiência do trabalho. Além da imersão na nova cultura, é possível fazer coisas completamente novas. "Eu tenho duas faculdades, MBA, tinha carrão, uma vida boa e de repente me via varrendo o chão de um hostel. Lembro de parar, olhar para o que estava fazendo e perceber que eu nunca tinha sido tão feliz como naquele momento. Eu tinha aprendido a distanciar o que é importante para a sociedade do que realmente é importante para mim", conta Gil.

Como o trabalho exige que você fique períodos mais longos --normalmente, no mínimo uma semana-- no lugar, também é possível criar mais vínculos com as pessoas que conhece. "Até hoje as pessoas que conheci na fazenda são contatos meus. Você tem uma relação mais profunda com quem mora lá e com os outros voluntários".

Amanda gostou tanto das experiências que teve, que lançou uma plataforma no Brasil. Na foto, com seus anfitriões em uma ecovila nos Estados Unidos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Conheça as plataformas para viajar trabalhando

Work Nômades -- é o site brasileiro, totalmente em português, ele reúne oportunidades no país. O cadastro por seis meses custa R$ 87.

Worldpackers -- em português, reúne experiências no mundo todo e você pode fazer a busca de acordo com a localidade ou o tipo de experiência e trabalho que quer. Custa $ 30 para uma única viagem ou $ 49 ao ano para viagens ilimitadas. Ele também garante a estadia em um hotel caso algo de errado na sua experiência.

Workaway -- em inglês, funciona de forma parecida com o Worldpackers. A assinatura anual custa $ 28 para uma pessoa ou $ 38 para duas.

WWOOF -- é focado completamente no trabalho e hospedagem em fazendas orgânicas ao redor do mundo. O preço de assinatura varia de acordo com o país de destino, mas o máximo é de $ 72.

Dicas para não entrar em furada

  • Prefira sites: dá para combinar o trabalho por conta, mas sites são mais seguros;
  • Combine tudo: antes de viajar, combine o máximo possível sobre como vai ser o esquema: horas de trabalho, turnos, refeições, se vai dividir quarto etc.;
  • Dupla checagem: além da plataforma para contato com seu anfitrião, busque informações on-line sobre ele para garantir sua idoneidade.
  • Leve dinheiro: a hospedagem será grátis, mas todo o resto tem custo: passeios, locomoção etc.;
  • Lembre que é trabalho: é preciso ter de responsabilidade afinal, seu anfitrião está contando com sua mão de obra;
  • Entre em grupos de brasileiros: antes de chegar ao destino, use o Facebook para encontrar grupos de brasileiros no local e peça dicas;
  • Não dependa do WiFi: ?um cartão SIM do país garante que você possa se comunicar com sua família e amigos caso algo dê errado;
  • Saiba onde é a embaixada brasileira: de perda de documentos a problemas de saúde, a embaixada pode ajudar você a resolver questões complicadas;
  • Mente aberta: lembre-se que você vai trabalhar com pessoas de outra cultura, então abra a mente para entender os costumes locais;
  • Vá para um lugar que você se interessa: pesquise bem antes de viajar para ir a um destino onde você realmente vá gostar de passar esse tempo.