Viajar para o Egito não é fácil, mas serão férias de cair o queixo
A cultura rica e exótica de uma das civilizações mais antigas da humanidade sempre mexeu com o imaginário dos viajantes. Terrorismo, instabilidade institucional após a Primavera Árabe e casos de violência fizeram cair o turismo no Egito. No entanto, é possível fazer um passeio seguro e que vale muito a pena, sem necessariamente gastar uma fortuna, desde que observados alguns cuidados. UOL Viagem percorreu a terra dos faraós por 12 dias, sem supervisão de entidades do Estado.
Exército por todos os lados
A presença do Exército na rua é intensa e pode assustar. Os soldados batem ponto até na recepção dos hotéis e chegam a exigir informações sobre hóspedes. A reportagem, porém, foi bem tratada em todas as abordagens.
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“É apenas por uma questão de segurança. Nem todos estão aqui para passear, mas todos os turistas são muito bem-vindos. Temos consciência de que precisamos da renda gerada pelo turismo”, afirma um militar em um ponto de checagem, que pede para não ser identificado.
Mesmo no Cairo, igrejas ortodoxas dos cristãos copta começaram a ser alvo de ataques à bomba do Estado Islâmico nos últimos anos. No entanto, em pontos turísticos na capital e ao longo do rio Nilo, em cidades como Luxor ou Aswan, esse sentimento de que é preciso recuperar o turismo parece mais difundido e há respeito ao visitante, exceto pelo irritante assédio voraz dos vendedores.
É no sul, partindo de Aswan, o caminho para o imperdível templo de Abu Simbel, construído por Ramsés II. O mais longevo e poderoso dos faraós, mandou erguer na entrada seis estátuas gigantes dele mesmo — coisa de quem ficou mais de 60 anos no poder. No entanto, o governo vê riscos na rota pela proximidade com as fronteiras do Sudão e da Líbia.
Já no Sinai, se a parte Sul está repleta de turistas nas cidades litorâneas de de Sharm el Sheikh, com seus resorts, e Dahab, ideal para mergulhos em recifes de corais, grupos radicais dominam a parte Norte e mantêm comunicação com a faixa de Gaza.
“Deixe a preocupação para os russos”
“Isso é por causa do norte. Aqui não há problema, ainda mais para brasileiros. Deixe a preocupação para os russos”, diz Amud Habba, que aluga máscaras de mergulho em Dahab.
Com os bombardeios do presidente russo Vladimir Putin na Síria, russos, que adoram as praias da região, entraram na mira dos jihadistas. Uma bomba derrubou um avião russo saído da região turística Sharm el-Shaik em novembro de 2015, matando 224 pessoas. Reforçado desde então, o controle nos aeroportos continua elevado.
Monte Sinai
Um pouco acima das praias, ainda na parte sob controle do Exército egípcio, está o parque do Monte Sinai, onde Moisés recebeu os dez mandamentos, segundo a tradição judaico-cristã. O local pode ser visitado e a subida de 2.285 metros não requer equipamento profissional, apenas a contratação do acompanhamento de um beduíno credenciado que conheça a trilha.
O que visitar
Cairo é obrigatório. Todo mundo quer visitar as pirâmides de Gizé e a esfinge. O museu também não deve ser descartado. Há de múmias assustadoramente conservadas ao tesouro de Tutancâmon — a máscara 100% ouro de 110 kg com a qual ele foi enterrado e é talvez a imagem mais famosa do Egito. Depois das pirâmides, claro. Não deixe de ver a bela Mesquita de Alabastro, erguida por Mohamed Ali. Não o lutador, mas sim o rei do país de 1804 a 1849, já no período islâmico.
Em Luxor, estão os maiores templos, o que leva o nome da cidade e o de Karnak, enormes e bastante preservados. Do outro lado do Nilo está o Vale dos Reis, onde é possível percorrer um labirinto de túneis sob as montanhas para visitar as 63 tumbas subterrâneas encontradas até agora.
No antigo império, os faraós e nobres eram enterrados em pirâmides, sendo as de Gizé famosas pelo tamanho, embora existam centenas. Já no novo império (entre 1570 a 1070 a.C), os faraós e todos os seus tesouros passaram a ser enterrados em tumbas subterrâneas no Vale dos Reis.
E quanto custa?
Para dar uma ideia, as passagens pesquisadas no dia 26 de janeiro de 2018 para viajar de 1º a 5 de maio de 2018, saindo do Brasil, estão custando entre US$ 1.100 e US$ 1.600, em classe econômica e com escalas. Não há voos diretos do Brasil para o Egito.
Para um pacote básico de cinco dias, com Cairo, Luxor e Aswan, agências egípcias cobram cerca de US$ 300 com deslocamento de trem ou US$ 500 por barco, no rio Nilo, incluindo guias e hospedagens. As mais conhecidas são: Holaegypt Tours, Adventure Club, Memphis Tours, Descobrir Egipto e Tour Egypt. Agências brasileiras não cobram menos de US$ 1.000 pelo mesmo serviço.
Os voos não estão na conta e foram considerados hotéis três estrelas, carros mais simples e visitas em grupo com outros turistas.
Passeios ao templo de Abu Simbel, subida no Monte Sinai e uns dias na praia podem subir o pacote local a até US$ 800 ou US$ 1.600 quando comprados no Brasil.
Mais por vir
Quem vence a barreira do medo e se entrega à aula de história viva e a céu aberto que é o Egito encontra um patrimônio ainda bastante preservado e construções com mais de 5.000 anos. Embora itens inestimáveis tenham sido destruídos pela ação da natureza ou levado por saqueadores, internos e invasores, ainda há muito o que ver e a sensação é de ser transportado no tempo.
Além destas orientações, nas próximas semanas o UOL Viagem traz os detalhes de cada local visitado na terra dos faraós para ajudar você a planejar a sua visita. Aguarde.
Guia de sobrevivência
- Vá preparado. A viagem para o Egito é rica em paisagens e cultura, mas não é para descansar. Há muitas caminhadas longas sob clima severo. Em algumas cidades, terá de lidar com infraestrutura precária, sujeira nas ruas e trânsito caótico;
- Uma gorjeta em troca de uma ajuda é cultural entre os locais. E em meio à imensa pobreza do país, o turista reluz como ouro. Pessoas surgirão dos lugares mais improváveis para fazer coisas que você nem precisava e pedir dinheiro por isso;
- Abrir a porta do carro. Surgir ao seu lado no banheiro e lhe abrir a torneira. Oferecer um colar ou para aparecer em uma foto com roupas típicas. Não se engane. Toda ação será seguida por um sorriso e um pedido de dinheiro;
- Não se sinta obrigado a aceitar nada. Recuse. Se você deixar bem claro que não quer logo no início, não há problema. Alguns podem gritar, mas não se intimide. Evite convites para lojas “especiais” ao ser abordado na rua;
- Em todos os pontos turísticos há egípcios oferecendo para explicar algo ou mostrar uma área de visitação supostamente exclusiva, também para tentar conseguir dinheiro. As entradas cobradas na bilheteria são as únicas que você tem de pagar. A visitação com guias reduz um pouco esse assédio;
- Vendedores de passeios e lembrancinhas também são muito insistentes. Não se espante se for seguido por muitas quadras. Só pergunte preços se realmente tem interesse. Como em outros países da região, abrir a negociação é compromisso de compra. Pegar na mão também. A pechincha faz parte do processo e é longa;
- “La Shukran” (lê-se “lá xucran”) é a expressão mais importante em árabe para a sua viagem ao Egito. Significa “não, obrigado”. Diga isso incansavelmente a quem lhe oferece uma “cortesia” ou produto que não é de seu interesse. Se a pessoa insistir muito, apele para “Hallas!” (fala-se “ralás!”, que seria um “chega!” ou “basta!”, demonstrando irritação;
- A atenção também na negociação de passeios de camelo ou cavalo. O preço pode ficar mais caro no caminho ou ajudante do proprietário que conduz os bichos resolve exigir gorjetas exorbitantes. Guias brincam que o problema não é quando o turista sobe nos animais, mas, sim, quando desce;
- Tome muita água para não desidratar e sempre saia para os passeios com uma garrafa na mochila. Vendedores de rua, hotéis e bares em locais de visitação cobram muito caro. Procure supermercados de bairro que cobram o equivalente a centavos de dólar por um litro;
- A comida no Egito tem quase sempre uma boa dose de pimenta adocicada. Há lugares de todos os tipos e preços, uns melhores do que outros. Se não for a sua praia ou estiver enjoado do cardápio, há McDonald's no Cairo e em Luxor;
- O inverno, no final do ano, é o período mais cheio. No entanto, o final da primavera, em maio, ainda tem temperaturas consideradas amenas para o Egito, entre 35ºC e 45ºC, e os locais de visitação não estão lotados. No verão, é difícil passear: quase todo o dia bate nos 50ºC;
- Os preços de comidas e taxas de entrada, embora existam muitas, às vezes duas ou três no mesmo local (uma para entrar e outras para atrações específicas), não são elevadas e o câmbio favorece: na cotação de janeiro de 2018, um dólar equivale a mais de 17 libras egípcias. Sempre troque em casas oficiais e cuidado no troco;
- Brasileiros precisam de visto. Embora a informação oficial costume dizer o contrário, ainda é possível tirar na chegada, no aeroporto. Antes da imigração há um balcão onde se cola o selo no passaporte em minutos. O importante é pagar a taxa de US$ 25. E tirar o visto no Brasil é difícil. A reportagem procurou o consulado do Egito no Rio de Janeiro e a embaixada em Brasília, mas não obteve resposta. Não há representação em São Paulo.
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