País machista ou encantador? Brasileira fala como foi passar férias no Irã
Para muita gente ao redor do mundo, o Irã é um país ameaçador. E o que acontece quando uma mulher estrangeira resolve viajar por lá?
No final de 2017, a turista brasileira Cassia Dian percorreu o território iraniano e se surpreendeu com o que viu: ela cota que esperava encontrar um lugar onde mulheres são totalmente reprimidas, mas não foi bem assim.
"Eu tinha outra ideia sobre o Irã, principalmente no que diz respeito à condição da mulher", conta ela. "Muitas iranianas estão, hoje, no mercado de trabalho e nas universidades, sabem falar inglês e conversam abertamente sobre qualquer assunto".
"É lógico que há muitas questões com as quais não concordei, como a obrigatoriedade de todas as mulheres, inclusive as estrangeiras, usarem o véu sobre a cabeça desde a infância [imposição baseada em preceitos islâmicos]. Em muitos aspectos, elas têm suas liberdades diminuídas. Mas, lá, eu senti que há uma solidariedade muito grande entre as mulheres: elas se ajudam, recebem muito bem as estrangeiras que visitam o país e estão em uma condição melhor do que muita gente pensa".
Durante sua viagem pelo Irã (feita ao lado do namorado), Cassia foi guiada por uma jovem mulher nativa. "Ela era formada em História da Arte, conhecia de cabo a rabo a história do seu país, tinha um inglês impecável e não tinha medo de fazer críticas à política ou à cultura religiosa do Irã [uma nação controlada por um governo teocrático, onde muitas das leis são baseadas no Corão]. Ela, inclusive, não praticava o islamismo, apesar de sua família ser muçulmana".
Vaidade, plásticas e hospitalidade
A enorme vaidade das mulheres iranianas também chamou a atenção de Cassia. Segundo a brasileira, principalmente nas grandes cidades do Irã, como a capital Teerã, muitas iranianas burlam a obrigatoriedade do véu, deixando a peça cobrindo apenas metade da cabeça, para poder exibir penteados e cabelos tingidos. Intervenções estéticas mais profundas também são moda por lá: é extremamente comum ver na rua iranianas recém-saídas de cirurgias plásticas para afinar o nariz.
E como os homens iranianos tratam as estrangeiras? "Em nenhum momento eu sofri qualquer tipo de assédio no Irã", relata ela. "Eu já viajei para vários países e acho que os iranianos são as pessoas mais legais do planeta. Todos os homens conversavam comigo de maneira educada e jamais me senti desrespeitada. Lá, a hospitalidade é levada muito a sério".
Cassia foi convidada a jantar no lar de uma família iraniana e recebida com um banquete de comidas típicas. Fez um tour pela casa para conhecer os tapetes persas e ainda participou de uma festinha (sem bebidas alcoólicas, proibidas no país).
"Entre os convidados, havia um turista inglês que fazia aniversário naquele dia. Os anfitriões ficaram sabendo disso de antemão e prepararam uma surpresa: a luz da casa apagou no meio da noite e eles nos disseram que a energia havia sido cortada. De repente, um enorme bolo com velas iluminou o ambiente, para celebrar o aniversário do britânico. Isso mostrou como os iranianos não poupam esforços para receber bem os estrangeiros".
No dia a dia, na rua, a atitude dos nativos não era diferente, segundo ela: "Conhecemos diversas pessoas que, após bater um papo conosco, simplesmente faziam questão de pagar nossos táxis ou nos davam números de telefone, caso tivéssemos qualquer problema. Ou pessoas, homens e mulheres, que nos davam presentes ou comida pelo simples fato de sermos estrangeiros".
Repressão e golpe
Uma viagem pelo Irã, entretanto, não está livre de sobressaltos. Entre o final de 2017 e o começo de 2018, bem na época em que Cássia estava lá, o país foi atingido por uma onda de protestos que exigiam melhores condições econômicas para a população e que se opunha à teocracia que governa a nação. Houve mortes em confrontos com a polícia e, apesar de não ter chegado perto das manifestações, Cassia sentiu alguns de seus reflexos.
"Durante os protestos, o governo cortou o acesso ao Telegram [aplicativo de troca de mensagens, parecido com o Whatsapp, muito usado no Irã] e ao Instagram [o Facebook já é proibido por lá]. Também encontramos uma legião de policiais da tropa de choque ao visitarmos a ponte Si o Seh [construída entre os séculos 16 e 17, com quase 300 metros de comprimento e que é um dos cartões-postais da turística cidade de Isfahan]. Eles pareciam estar prontos para reprimir alguma manifestação. Foi tenso, mas conseguimos fazer o tour", lembra ela.
A brasileira e seu namorado também passaram por um perrengue mais sério. Em um passeio por Teerã, eles foram abordados por dois homens que, mentindo, disseram ser policiais e pediram para ver seus documentos. Durante a abordagem inesperada, um dos homens deu um jeito de furtar o dinheiro que estava com o namorado de Cassia.
"Fizemos uma denúncia à polícia e eles realmente levaram a sério a missão de pegar os dois ladrões. Meu namorado ficou o dia inteiro na delegacia relatando o caso e fazendo retratos falados dos homens".
Para ela, porém, a sensação que o Irã passa na maior parte do tempo para o turista é de organização. "Fiquei impressionada com a sensação de segurança e a limpeza nas cidades do país. Você não vê um papel no chão". E viajar pelo Irã não é difícil: há ônibus e trens confortáveis conectando algumas das principais cidades da nação persa.
Destinos imperdíveis
Cassia passou 20 dias no Irã e ficou fascinada por diversos dos lugares que visitou. Um deles foi a cidade de Isfahan, que abriga o que é considerada uma das praças mais lindas do mundo: a Naqsh-e-Jahan, considerada Patrimônio Mundial pela Unesco e que abriga a mesquita Jame Abbasi (com um enorme domo azul-turquesa), o palácio Ali Qapu (do século 16) e a mesquita Xeque Loftollah, com um domo com um interior dourado que encanta quem o visita.
Segundo Cassia, é imperdível entrar na mesquita Nasir al Molk, na cidade de Shiraz, e ver a luz do sol batendo em seus vitrais coloridos e produzindo imagens caleidoscópicas no solo do templo (segundo a brasileira, esta imagem produziu a foto mais curtida da história do seu Instagram). "E o Palácio do Golestão, em Teerã [usado pela dinastia da monarquia Pahlevi, derrubada pela Revolução Islâmica de 1979], é um passeio imperdível. O lugar abriga uma sala completamente coberta por espelhos que é um negócio de louco".
E o melhor: o Irã ainda está se abrindo para o turismo. "No país, ainda não existe cultura de cobrar mais caro dos turistas. É um lugar extremamente barato e onde os viajantes não costumam pagar preços acima do normal só porque são estrangeiros".
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