Índia tem templo onde fiéis veneram ratos; a gente entrou lá
Usando um manto laranja sobre o corpo, o rosto coberto por uma longa barba, um velho homem hindu se detém na entrada do templo indiano de Karni Mata, se ajoelha e inclina o corpo em direção ao solo, como se estivesse orando.
No chão à sua frente correm dezenas de ratos cinzentos, como se a tampa de um bueiro de esgoto tivesse acabado de se abrir e liberá-los para o mundo.
Não se trata, entretanto, de uma invasão de roedores: aqui, os animais são seres venerados por uma legião de fiéis.
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"Você vai entrar aí mesmo? Este lugar é horrível", me diz Lazar, um motorista indiano cristão que me levou até os portões de Karni Mata e que não se identifica, em quase nada, com as crenças hinduístas.
Não me deixo desanimar: saio do carro e caminho resoluto em direção à entrada do templo.
Sou avisado rapidamente, porém, que terei de tirar os sapatos (um gesto obrigatório quando se ingressa na maioria dos edifícios religiosos da Índia), o que, para falar a verdade, abala minha coragem para andar lá dentro.
A quantidade de ratos que circula no interior do Karni Mata é impressionante: são centenas deles. Os animais se movimentam livremente, às vezes se trombando, brigando rapidamente, e seguindo cada um seu curso.
Muitos sobem em vãos que existem nas paredes do templo, enquanto outros se reúnem ao redor de enormes tigelas de metal para tomar leite colocado ali especialmente para eles.
Estou só de meias e um dos bichos passa correndo sobre meus pés.
Há pelo menos 100 pessoas dentro deste lugar sagrado. E a palavra sagrado não é exagero: a maioria dos presentes, tirando os turistas, se dirige para fazer orações em um pequeno espaço interno, onde se amontoam na frente de uma espécie de altar (sobre o qual, logicamente, se penduram mais ratos).
Todos, menos eu e outros estrangeiros, parecem completamente à vontade ao lado dos roedores.
A crença
O santuário dos ratos está localizado na região indiana do Rajastão, em uma cidade chamada Deshnok.
De acordo com a crença hinduísta, os roedores do templo são descendentes de Karni Mata, uma mulher que viveu no século 14 e que era uma encarnação de uma deusa chamada Durga, de grande importância para os hindus. É por esta razão que eles são venerados.
Ao sair da área do altar do templo, sou abordado por um homem indiano que me aconselha a tentar encontrar um rato branco no meio das centenas de bichos de pelo cinza que se mexem na minha frente. "Se você conseguir vê-lo, terá muita sorte na vida", diz ele.
Influenciado pelo ambiente religioso fervoroso do templo (e de toda a Índia), começo a caçar o animal impacientemente com os olhos, sem sucesso. Penso que, talvez, encontrar o roedor branco seja tão difícil quanto entender a complexa religião hinduísta. Mas vale a pena tentar.
Karni Mata fica a cerca de 540 quilômetros de Nova Delhi, a capital da Índia.
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