Pais anunciam filhos em cartazes no Mercado do Casamento chinês
Aos fins de semana, uma área da famosa Praça do Povo, em Xangai, é coberta por centenas de cartazes e folhas sulfite exibindo os dados pessoais de jovens chineses.
Eles trazem informações como idade, nível educacional e a localização da moradia de homens e mulheres de toda a China (e são analisados com cuidado pelos transeuntes).
Não se trata, porém, de currículos de gente que está em busca de trabalho na cidade grande, mas de anúncios feitos por pais e mães que querem encontrar maridos e mulheres para seus filhos.
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O local é conhecido popularmente como Mercado do Casamento e, devido à sua peculiaridade, atrai a atenção de turistas que visitam Xangai.
Ao pisar lá, é possível se sentir realmente em um lugar de trocas comerciais, com muitos pais negociando com estranhos um possível matrimônio entre seus filhos (que, vale ressaltar, raramente se encontram presentes).
Pendurados em grades do parque e até em guarda-chuvas espalhados pelo chão, os cartazes, por sua vez, além das informações pessoais básicas, costumam trazer dados como a condição financeira, a altura e até o signo do horóscopo chinês dos jovens solteiros.
Não raro, no caso das mulheres, os anúncios informam se elas sabem cozinhar. Retratos destas pessoas, entretanto, quase nunca são exibidos: no que diz respeito à aparência dos envolvidos, as prospecções nupciais são inicialmente feitas às cegas (se der "match" entre os pais, um encontro entre os filhos é marcado posteriormente, mas os jovens podem não se curtir e o matrimônio nunca se concretizar).
Machismo
"Em muitos casos, os filhos podem nem saber que estão sendo anunciados pelos seus pais. Parece que eles estão sendo colocadas à venda", diz Guo Yingguang, uma pesquisadora chinesa que realizou um trabalho fotográfico no Mercado do Casamento de Xangai e postou um vídeo no YouTube sobre suas interações com as pessoas que frequentam o local (o material já teve mais de 370 mil visualizações).
Solteira e com 34 anos de idade, Guo levou um anúncio de si própria ao Mercado do Casamento e, com uma câmera escondida, gravou toda a experiência.
Muitos senhores e senhoras, em busca de uma esposa para seus filhos, se aproximaram dela e fizeram olhar de reprovação ao saber sua idade, dando a entender que ela já estava muito velha para casar (e houve até um homem que fez o seguinte comentário, ao saber que Guo tem diploma universitário e mestrado: "Não é bom para as mulheres ter muita educação").
E uma declaração de outro transeunte mostra bem o tipo de pensamento que leva muitos chineses a caçar um par para seus filhos (e principalmente para suas filhas) em um local como o Mercado do Casamento: "Mulheres com mais de 35 anos provavelmente ficarão solteiras para o resto da vida".
A política do filho único, por sua vez, implementada nos anos 1970 na China (e extinta em 2015) com o objetivo de conter o crescimento populacional do país (que hoje tem mais de 1,3 bilhão de habitantes), é apontada como outra das razões por trás da existência de lugares como o Mercado do Casamento: para muitos pais que tiveram autorização do governo para ter apenas um filho nas últimas décadas, é uma questão de honra conseguir um matrimônio para seu único rebento e vê-lo gerar sua própria família.
Há pais que, literalmente, passam anos indo à Praça do Povo de Xangai para completar esta missão.
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