Burkini e bronca de guarda: brasileira conta como é ir à praia em Dubai
Maior cidade dos Emirados Árabes Unidos, Dubai pode oferecer praias com belas paisagens e um verão unicamente quente. As temperaturas podem alcançar 50ºC.
Além dos cuidados relacionados ao extremo calor, quem decide viajar para os Emirados Árabes e visitar as praias precisa também se atentar às questões culturais do país muçulmano. Já morei em diferentes países do mundo, mas as primeiras experiências visitando as praias de Dubai valem um capítulo à parte.
Um fato importante não só sobre as praias, mas sobre Dubai em geral: não é permitida a demonstração de afeto em locais públicos. Embora haja uma tolerância muito grande com turistas, é importante ter em mente que a regra do país deixa explícito que não se deve beijar, envolver-se em carícias e abraços mais prolongados.
Se você pensa em passear pelas praias de Dubai, enfim, é recomendável ter essas informações em mente.
Praia nem sempre refresca
Depois de crescer em Minas Gerais, longe do mar, e entender que passar alguns dias na praia era um grande privilégio, sair de casa para um mergulho nas águas do Golfo Pérsico me pareceu uma experiência extremamente atrativa.
Após menos de uma semana de mudança da Austrália para os Emirados Árabes, por motivos profissionais, me vi confusa e sem espontaneidade para ter a simples experiência de esfriar a mente na praia. Em primeiro lugar, o grande choque foi perceber que praia deixava de ser um local para refrescar, uma vez que o verão de Dubai se aproximava e a alta temperatura já afastava muitos das areias e do mar durante o dia.
Logo em seguida, outros fatores que me fariam racionalizar todo o processo de ir para a praia eram a cultura e a religião. O que vestir? Deveria eu ter algum comportamento diferente para não fazer alguém se sentir desconfortável? Quais eram os limites culturais daquelas areias?
Eram tantas perguntas misturadas ao natural choque cultural de quem se muda para um país novo, que decidi simplesmente não pensar muito, pegar o biquíni mais "conservador" (seja lá o que isso significasse naquele momento) e ir.
A primeira ida à praia sozinha
Era sexta-feira (primeiro dia de final de semana aqui, uma vez que os países muçulmanos seguem um calendário diferente e o domingo é o primeiro dia útil da semana), fazia aproximadamente 33ºC.
Eu estava ansiosa para colocar pela primeira vez na vida os pés no Golfo Pérsico, e então saí de casa após almoço para a famosa praia JBR (Jumeirah Beach Residences).
Poucos dias antes, eu havia feito uma caminhada à noite pela mesma região, mas devido ao horário não havia pessoas no mar. Logo, eu continuava sem referências com relação às roupas e sobre o que mais eu pudesse encontrar por lá. Nesta sexta-feira, entretanto, a praia estava cheia de vida.
A vista era muito bonita. A roda-gigante ocupa grande parte da vista e algumas dezenas de turistas construíam um ambiente babilônico -- com conversas em árabe, russo, italiano e outros idiomas que se misturavam no ar.
Tinha gente de biquíni de todos os tamanhos, tinha gente de maiô e também uma moça de "burkini": a vestimenta tradicional que algumas muçulmanas usam quando vão nadar.
Quando vi que seria apenas mais uma tarde comum, sem nenhum choque cultural como eu temia, consegui relaxar e perceber que ali era um ponto de interseção multicultural.
Nas praias dos Emirados Árabes o consumo de álcool é proibido (exceto para quem está em uma área privada da praia, dentro de um resort ou hotel, por exemplo). Então, bebidas na praia já não fazem parte da expectativa de quem está por aqui. O que me restava, portanto, era apenas alguns cuidados relacionados à vestimenta e, simples assim, eu já estava à vontade.
No meio do caminho tinha o Ramadã
A situação mudou um pouco quando chegou o Ramadã, que é o momento em que os muçulmanos celebram a revelação do Corão, o livro sagrado do Islã, ao profeta Maomé. Na prática, todos os muçulmanos passam um período em jejum enquanto há luz do sol e torna-se proibido fumar em locais públicos e, naturalmente, a atmosfera da sociedade se transforma de forma perceptível. Não há festas, não há música alta, as pessoas usam roupas mais cobertas e discretas e exige-se uma restrição com relação a tudo. É tempo de recolhimento.
Era meu primeiro Ramadã e meu segundo mês em Dubai. Ao chegar na praia usando um vestido comum, me organizei e passei algumas horas usando a parte de cima do biquíni e uma saia que cobria todo o meu quadril para a Kite Beach, inclusive no mar.
A praia era linda e a temperatura da água estava perfeita. Logo após um tempo na areia avistei uma grande bandeira do Brasil em um trailer e já logo pensei: "deve ter açaí, vou até lá". Com um amigo belga caminhei até o local e a minha intuição estava certa. Empolgados, pedimos açaí com frutas, além de pão de queijo e pastel para que ele experimentasse as especiarias brasileiras.
Eu ainda estava vestida do mesmo jeito, com a parte de cima do biquíni e saia. Quando eu estava enfim com o pote nas mãos, pronta para a primeira colherada, um guarda me abordou. Eu gelei.
Tento ser o mais correta possível o tempo todo e respeitar tudo. O que eu estaria fazendo de errado? Seria o problema o meu biquini?
"O sol ainda está se pondo, não terminou", disse o guarda. Eu, desatenta, não entendi o que ele quis dizer com a informação sobre o sol e então, provavelmente devido a minha cara de estrangeira desinformada, ele explicou: "Somente é permitido quebrar o jejum depois do último raio de sol se pôr".
Claro, eu sabia disso, mas não me lembrei do detalhe quando vi o pote de açaí. A solução foi simples: ainda usando meu biquíni (pois isso não era o problema ali), tampamos as comidas com um guardanapo e aguardamos o início das orações em árabe que tocam em todos os lugares assim que o pôr do sol se conclui. Depois disso sim, desfrutamos a refeição na praia sem surpresas.
Definitivamente, praias em Dubai são mais que uma experiência de descanso e informalidade. Para mim, uma grande experiência multicultural, e uma inspiradora oportunidade de entender como várias diferenças de valores e preferências podem se adaptar em um mesmo ambiente com harmonia.
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