Assim como Noronha, outros locais paradisíacos pelo mundo cobram entrada
Em vídeo publicado nas redes sociais neste fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro chamou de "roubo" taxas cobradas de turistas que visitam praias de Fernando de Noronha, no Nordeste do país.
Viajantes brasileiros têm que pagar, atualmente, um ingresso de R$ 106 para visitar o Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha. E o preço imposto aos estrangeiros é ainda maior: R$ 212 por pessoa. Criticando a cobrança, Bolsonaro afirmou que é por isso que "quase inexiste turismo no Brasil". Este tipo de taxa, entretanto, não é exclusiva do arquipélago brasileiro.
Para entrar em áreas protegidas das ilhas Galápagos, um dos principais destinos de ecoturismo no mundo (e que, assim como Fernando de Noronha, é considerado Patrimônio Mundial pela Unesco), viajantes estrangeiros maiores de 12 anos de idade chegam a pagar um ingresso de US$ 100 (mais de R$ 375).
O Parque Nacional Galápagos informa que "os fundos provenientes destes tributos são destinados à conservação da biodiversidade da fauna e flora terrestres e marinhas de Galápagos, além de beneficiar a população local com a melhoria de serviços como saneamento básico".
Já para pisar e nadar em certas áreas das paradisíacas Ilhas Virgens Americanas, no Caribe, o forasteiro também deve colocar a mão no bolso, mas o preço é bem menor do que em Noronha: lá, é preciso pagar US$ 5 (quase R$ 20) ou ter um passe anual individual de US$ 20 (mais de R$ 75) para explorar a região de Trunk Bay, onde estão algumas das mais lindas paisagens litorâneas do arquipélago. O valor é usado na manutenção da infraestrutura que existe em Trunk Bay, que inclui chuveiros e banheiro.
Permissão de US$ 1.500
É também bem caro visitar a ilha de Páscoa (hoje chamada oficialmente de Rapa Nui), localizada no oceano Pacífico, parte do território chileno e famosa por suas estátuas conhecidas como moais.
Viajantes estrangeiros chegam a desembolsar US$ 80 (aproximadamente R$ 300) para explorar o Parque Nacional Rapa Nui, que faz parte da ilha: o local é Patrimônio Mundial de Unesco e lá se encontram diversos exemplares de moais.
E o que dizer dos turistas que pagam milhares de reais para realizar o sonho de ver de perto um dos animais mais imponentes da Terra? Isso acontece no Parque Nacional dos Vulcões, em Ruanda, que cobra US$ 1.500 (mais de R$ 5.600) para permitir que turistas entrem em seu território para observar os ameaçados gorilas-das-montanhas.
O governo de Ruanda informa que parte desta renda "é canalizada para a construção de escolas e centros de saúde para as comunidades locais, além da manutenção de estradas".
E, no próprio Brasil, há outras joias naturais (a exemplo de Fernando de Noronha) que exigem ingresso de seu público: o Parque Nacional do Iguaçu, por exemplo, que exibe as famosas Cataratas do Iguaçu, cobra ingressos de mais de R$ 70 para estrangeiros e mais de R$ 40 para brasileiros.
Destino caro
Mas não há como negar: Fernando de Noronha é um destino turístico caro dentro do Brasil. Além da taxa de entrada de R$ 106 para brasileiros, o visitante deve pagar, para a Administração Distrital de Fernando de Noronha (submetida ao governo de Pernambuco), a partir de R$ 73,52 por dia passado por lá.
Para o engenheiro sanitarista e ambiental Gabriel Pessina, que já esteve quatro vezes em Noronha como turista, "é fundamental que estas taxas existam na ilha. Elas ajudam na parte de preservação ambiental da região, que é um lugar com muita biodiversidade e que deve ser cuidado. Mas eu acho que o valor das taxas deveria ser reavaliado, para saber se todo dinheiro arrecadado está sendo direcionado unicamente para a infraestrutura da ilha e da preservação do seu meio ambiente. Se ele estiver, acho justo pagar".
Pessina, entretanto, admite que as taxas pesam no bolso: "no final das contas, cerca de 10% do que gasto nas viagens a Noronha ficam em taxas. Mas, se for pensar bem, em uma viagem ao exterior a gente também tem gastos altos com IOF [imposto sobre operações financeiras] e afins. A gente sempre vai ser taxado de alguma maneira".
O vídeo divulgado por Bolsonaro, por sua vez, mostra a praia do Sancho (uma das mais famosas do arquipélago) aparentemente sem muitos banhistas (dando a entender que isso era consequência das altas taxas cobradas dos visitantes). O fluxo de turistas em Fernando de Noronha, entretanto, vem crescendo nos últimos anos.
De acordo com o governo de Pernambuco, foram 103.548 passageiros que, em 2018, desembarcaram no Aeroporto Governador Carlos Wilson, que serve Noronha (e quase 91% deste total foi composto por brasileiros). Em 2017, o número foi de 94.151 desembarques e, em 2016, de 91.194 pessoas.
Para onde vão as taxas?
O ICMBio, submetido ao ministério do Meio Ambiente, que cobra a taxa federal, afirma que a arrecadação "deste ingresso tem cerca de 70% do seu valor revertido em ações de melhorias diretas em Fernando de Noronha através de projetos como reforma e manutenção de trilhas, sinalização interpretativa e manutenção do Centro de Visitantes. Sendo assim, todo visitante colabora diretamente com a conservação dos recursos naturais e a preservação de toda beleza cênica deste arquipélago".
Já a taxa que o turista paga por dia é, segundo a Administração Distrital, "totalmente revertida na preservação da ilha, na realização de obras de infraestrutura e na manutenção dos serviços públicos. Entre as realizações recentes [feitas com este dinheiro] estão a entrega de 26 habitações populares, agendada para este segundo semestre, e a requalificação do porto de Santo Antônio. A taxa também garante os serviços de limpeza urbana, coleta de lixo, conservação da malha viária e no custeio do Centro Infantil Bem-Me-Quer [uma creche], da Escola de Referência Arquipélago Fernando de Noronha e do Hospital São Lucas".
Questionado pelo UOL se já existe alguma avaliação de quanto pode aumentar o turismo em Noronha caso as taxas de visita ao Parque Nacional fiquem mais baratas, o ministério do Turismo do governo Bolsonaro informou que "aguarda os novos estudos e diagnóstico técnico do ministério do Meio Ambiente para dimensionar e viabilizar estímulos ao turismo na ilha de Fernando de Noronha, de acordo com as regras estabelecidas para a preservação da fauna e flora locais".
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