País perigoso? Dez coisas que você (provavelmente) não sabe sobre o Irã
Morei durante um ano no Oriente Médio e, entre os muitos países que visitei na região, o Irã foi o que mais me surpreendeu.
A República Islâmica, que tem imagem de nação perigosa e fanática ao redor mundo, é um dos lugares mais fascinantes do planeta, com cidades marcadas por verdadeiras obras de arte arquitetônicas, um povo absurdamente hospitaleiro e sítios arqueológicos de primeira grandeza.
Sim, cheguei a Teerã e, logo de cara, vi mulheres totalmente cobertas por mantos negros (o xador) seguindo seus maridos nas calçadas e fotos, na rua, de soldados iranianos mortos durante a guerra travada contra o Iraque nos anos 1980, em homenagens que, para mim, pareceram um tanto macabras.
Mas, além destes conhecidos aspectos de belicosidade e religiosidade, o Irã é um universo a ser descoberto: a cada dia que passei lá, vivi situações extremamente inusitadas, que me fizeram comprovar que a nação persa é muito mais do que as leis do Corão e os discursos inflamados de seus governantes.
A seguir, veja dez coisas surpreendentes que você (provavelmente) não sabia sobre o Irã.
Lá está Pasárgada
"Vou-me embora pra Pasárgada" é um dos mais famosos poemas de Manuel Bandeira.
Nem todos sabem, entretanto, que Pasárgada não é uma criação do escritor brasileiro, mas um lugar que realmente existe.
Trata-se de uma antiga capital do Império Aquemênida que se localiza no que hoje é o Irã.
O lugar fica a aproximadamente 140 km da cidade de Shiraz e, hoje, é um sítio arqueológico que abriga diversos atrativos de interesse turístico.
Lá existe, por exemplo, um mausoléu que, segundo os iranianos, abriga os restos mortais de Ciro, o Grande, líder do império Aquemênida e que, no século 6 a.C., construiu Pasárgada como a sede de seu governo.
O local também exibe ruínas de palácios reais e resquícios do que teriam sido alguns dos primeiros exemplos de "chahar bagh", um estilo de jardim persa com lindos espaços verdes simétricos.
Há judeus no Irã
Apesar de seus conflitos com Israel, o Irã abriga uma comunidade judaica com milhares de pessoas, que praticam sua religião em sinagogas que existem em grandes cidades como Teerã e Shiraz.
E é um grupo com raízes antigas neste território: a presença de judeus no que hoje é o Irã remonta à época de Ciro, o Grande, nos anos 500 a.C.
E, via de regra, a convivência deles com os muçulmanos iranianos é pacífica.
Há igrejas no Irã
O nome do país é República Islâmica do Irã, mas, nem por isso, outras religiões estão proibidas neste território.
Além da comunidade judaica, o Irã abriga uma numerosa população cristã (principalmente de ascendência armênia).
Não é raro que o turista se depare com igrejas ao visitar o país. Uma delas é a catedral Sarkis, que se destaca na paisagem de Teerã.
Isfahan, por sua vez, abriga uma região chamada Nova Jolfa, onde também existem lindos templos cristãos. Na cidade, por exemplo, fica a linda catedral de Vank (na foto).
Há heavy metal no Irã
O rock, definitivamente, não é a trilha sonora da República Islâmica, mas, na cidade de Teerã (capital do Irã), existe uma surpreendente cena de heavy metal.
No meu primeiro dia em Teerã, me deparei com um show de uma banda chamada Kahtmayan em um teatro que existe sob a Torre Azadi, um dos símbolos da metrópole.
No local, havia mais de 200 pessoas (entre elas, muitos homens cabeludos) curtindo o som pesadíssimo feito pelo conjunto.
Ao saber que eu era brasileiro, alguns dos presentes vieram falar sobre o Sepultura comigo.
Mas um detalhe: o som do Kahtmayan era só instrumental. Letras, potencial fonte de mensagens políticas, foram proibidas pelo governo.
Há cerveja (islâmica) no Irã
No Irã, álcool é proibido para a maior parte da população, incluindo turistas.
Mas, mesmo assim, é possível saborear, no país, uma bebida chamada "cerveja".
Trata-se da "islamic beer" (cerveja islâmica), produzida com cevada, mas não alcoólica.
Ela traz sabores artificiais de frutas e tem, na verdade, gosto de refrigerante.
Se você gosta muito de uma cerveja de verdade, pode ficar desapontado.
Um dos povos mais hospitaleiros do mundo
Os iranianos são o povo mais hospitaleiro que conheci em minhas viagens pelo mundo.
Todos os dias, seja em grandes ou pequenas cidades do país, pessoas se aproximavam de mim na rua para perguntar (muitas vezes em um bom inglês) de onde eu vinha e se estava gostando do Irã.
Frequentemente, estes estranhos me chamavam para tomar chá (com tudo pago por eles) e, às vezes, para jantar em suas casas.
Certa vez, aceitei o convite do jantar, feito por um rapaz de 18 anos na cidade de Yazd: fui recebido na casa de sua família com um verdadeiro banquete e tratado como um rei durante toda a noite.
Iranianas vaidosas
No Irã, as mulheres (incluindo as turistas) devem cobrir todo o corpo (menos o rosto e as mãos) ao frequentar espaços públicos.
Mas, nas grandes cidades do país, muitas mulheres dão um jeito de burlar a regra para realçar sua beleza.
Elas penteiam as franjas para fora do véu e usam roupas que realçam as curvas do corpo, em uma atitude pouquíssimo vista em outros países muçulmanos.
E isso sem falar das plástica de nariz, que é uma verdadeira moda por lá: dezenas de milhares de mulheres iranianas passam por este procedimento a cada ano.
Um dos países mais lindos do Oriente Médio
O Irã também tem algumas das paisagens e construções mais lindas do Oriente Médio.
A joia turística do país é a cidade de Isfahan, onde se destaca a incrível praça Naqsh-e Jahan, considerada Patrimônio Mundial pela Unesco e cercada por mesquitas que são verdadeiras obras de arte, com decorações interiores altamente trabalhadas.
Entre os cartões-postais de Teerã, por sua vez, se destaca o Palácio Golestão, completado durante a monarquia dos Qajar e que hoje funciona como um museu, abrigando opulentos espaços forrados por espelhos e cristais que poderiam muito bem estar dentro do Palácio de Versalhes.
E Shiraz, além de ter um bazar extremamente fotogênico, exibe a fascinante mesquita Nasir al Molk: ao bater em seus vitrais coloridos, o sol forma imagens caleidoscópicas no interior do templo religioso, em uma imagem inacreditável.
Shiraz é também ponto de partida de viagens para Persépolis, um sítio arqueológico com cerca de 2.500 anos e que serviu como capital cerimonial do Império Aquemênida. Imperdível.
O Irã é mais seguro do que você pensa
O Irã está envolvido em conflitos armados fora de seu território (como na guerra da Síria) e é acusado, por países como Estados Unidos, de financiar grupos terroristas no Oriente Médio.
Mas a República Islâmica é bem mais segura do que muita gente pensa: atos de violência contra turistas, como assaltos à mão armada na rua, são raros por lá.
Andei tarde da noite por diversas cidades iranianas e me senti mais seguro do que em muitos outros lugares do mundo (incluindo, logicamente, o Brasil).
Atentados terroristas também são menos recorrentes do que muita gente imagina: eles podem acontecer, visto que o Irã faz parte do complexo jogo geopolítico do Oriente Médio, mas não são regra.
Na foto acima, a cidade de Teerã à noite.
A "cidade brasileira" no Irã
E a República Islâmica ainda tem, de quebra, uma cidade que se acha um pequeno pedaço do Brasil no Irã.
É um centro urbano chamado Abadan, cuja população simplesmente ama a seleção brasileira de futebol e, por consequência, a nação verde e amarela.
O time de futebol local tem um uniforme parecido com o do escrete canarinho e há notícias de que a cidade passou por um longo sofrimento após o 7x1 contra a Alemanha.
Não tive a oportunidade de ir até Abadan (que fica a mais de 660 km de Isfahan), mas muitos iranianos me disseram que, como brasileiro, eu seria muito bem recebido por lá.
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