"Paris está um caos para turistas", relata brasileira que vive na cidade
Depois de 3 anos morando aqui em Paris, de todos os movimentos populares que presenciei, a paralisação dos últimos dias é, com certeza, a mais impactante. É assustador ver como a greve dos transportes afeta o país gradualmente.
Escolas pararam, funcionários não conseguem se deslocar para dentro ou fora de Paris, turistas dormem em aeroportos para não perder o voo, hotéis estão perdendo reservas - justo em uma época na qual o país aguarda visitantes para as festas de Natal e Réveillon.
Atualmente, trabalho com minhas redes sociais e tenho recebido diversos relatos de seguidores que estão em Paris ou passaram pela capital francesa e compartilharam suas dúvidas e preocupações. O principal medo: terem suas férias frustradas.
Alguns deles me procuraram amedrontados com a possibilidade de não conseguir embarcar. Outros relatam cancelamentos de voo e de bilhetes de trem - situação que tem afetado, inclusive, os países vizinhos que recebem turistas franceses ou que estão circulando pela Europa.
Na última quinta-feira (5), um seguidor teve o bilhete de trem cancelado e precisou fazer de avião o trajeto entre a Itália e Paris. Ele contou que cancelar o hotel sairia mais caro do que pagar a mais pelo voo até Paris. Foi um custo pesado e não previsto em uma viagem que ele passou mais de oito meses planejando.
Paris está um caos para turistas e moradores. Quase todas as linhas de metrô estão interrompidas. Apenas duas, que são automatizadas, estão circulando normalmente. Os horários de ônibus estão reduzidos.
A melhor opção para os turistas tem sido andar a pé, de bicicleta ou de patinete. Para pegar o metrô, os horários de pico são os mais conturbados: uma multidão de gente, poucos trens, pessoas amontoadas nas estações e vagões e aquela tensão diária aguardando o término da greve.
O deslocamento para aeroportos, a meu ver, são os mais preocupantes. Algumas pessoas têm optado por aguardar o embarque do dia seguinte no próprio aeroporto e dormem por ali mesmo. Outras saem com bastante antecedência para pegar o trem e torcer para que ele não esteja lotado e consega entrar com as malas. A preocupação de perder o voo virou rotina.
As pessoas que trabalham em Paris têm se deslocado a pé, fazem home office quando é possível ou enfrentam com muita paciência a falta de transporte. Ontem (9), uma colega teve que voltar para casa no meio do caminho pois não havia trem para chegar ao trabalho.
Além de presenciar toda a extensão da greve, é horrível ver tantas pessoas que se programaram por meses, anos ou até por uma vida toda para conhecer Paris verem seu sonho marcado por momentos de angústia, dúvidas e, em alguns casos, decepção.
A tensão do momento gera ainda mais angústia pelo fato de sabermos que os trabalhadores franceses dificilmente abrirão mão de suas reivindicações caso o governo decida ir adiante com as cláusulas da reforma trabalhista. Alguns têm esperança de que a greve acabe logo, outros apostam que o mês de dezembro ficará marcado pelo movimento.
Sei que conhecer Paris é um sonho para muitos turistas brasileiros e que situações como essa podem, definitivamente, acabar com a experiência. Por isso, tento ajudar quem me procura. Sempre compartilho saídas, alternativas de transporte e até relatos de pessoas que, sim, estão conseguindo realizar seu passeio apesar de todos os imprevistos.
Para quem está por aqui ou com a viagem comprada, uma dica que sempre dou é verificar o trajeto desejado pelas plataformas das empresas que administram os trens e metrô. Todos os dias, às 17 horas (horário local), há atualizações sobre a previsão de circulação dos transportes no dia seguinte.
O importante é não desanimar. A greve está acontecendo e tem causado grandes transtornos, tanto para moradores quanto para quem visita, porém, fico na torcida para que Paris consiga mostrar sua melhor versão mesmo em dias turbulentos.
O QUE ACONTECE POR LÁ
Greve - A mobilização é um protesto contra um "sistema universal" de aposentadorias. De acordo com a proposta do governo, ele deve alterar os atuais 42 regimes especiais existentes. Os sindicatos e a oposição de esquerda alegam que a medida precariza a situação dos aposentados que não puderam contribuir tempo suficiente
Trens - Trajetos que normalmente levariam cerca de 45 minutos estão levando mais de duas horas nos dias de greve e chegam lotados. Não é raro o tráfego ser interrompido sem maiores explicações
Metrô - Nove das 14 linhas de metrô de Paris estavam fechadas até terça-feira (10). Apenas duas, 100% automatizadas, que não precisam de condutores, funcionavam normalmente.
Museus - Estão adaptando seus horários de abertura e funcionamento pois os funcionários têm dificuldade de chegar ao trabalho. Nesta segunda (9), o Louvre fechou algumas salas. Visitar o palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, é desaconselhável. A linha RER C, que leva até o monumento, estava fechada na última segunda-feria. A empresa estatal de ferrovias SNCF cancelou pelo menos 80% das viagens dos trens de alta velocidade e recomendou aos passageiros que evitassem as estações. Quem vai não consegue voltar e vice-versa.
Atrações - Na Sacre Coeur, o funicular que conecta a parte baixa de Montmartre, no 18° distrito, à sua parte alta, está parado. A solução é enfrentar a pé os 197 degraus que levam ao topo.
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