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Violência no Rio preocupa mais turistas brasileiros do que estrangeiros, diz pesquisa

Vista do Rio de Janeiro, registrada em 360° pelo Ministério do Turismo - Reprodução/Ecoviagem
Vista do Rio de Janeiro, registrada em 360° pelo Ministério do Turismo Imagem: Reprodução/Ecoviagem

07/12/2011 08h24

A violência é o principal problema que turistas veem no Rio de Janeiro, mas a preocupação é mais recorrente entre brasileiros do que entre estrangeiros, segundo pesquisa da Middlesex University, de Londres.

Em estudo sobre a imagem que pessoas de dentro ou de fora do Brasil têm do Rio, divulgado com exclusividade para a BBC Brasil, a pesquisadora Ana Cecília Duék constatou que a violência é apontada como principal atributo negativo da cidade em 68% dos casos.

Porém, o problema se mostrou uma preocupação mais frequente entre os brasileiros. Entre os turistas nacionais, 85% citaram a violência como principal problema da cidade, contra 61% dos estrangeiros consultados.

A pesquisa se baseou em entrevistas feitas pela internet a 680 pessoas de diversos países e de outras partes do Brasil. Em uma parte do questionário onde os entrevistados deveriam citar aleatoriamente palavras que associavam ao Rio, as respostas dos brasileiros também indicaram maior preocupação com a segurança.

"Os brasileiros trouxeram muito mais respostas ligadas à violência, associando o Rio a expressões como roubo, assalto, perigo, medo", aponta Duék.

Uma explicação para a diferença de percepção seria a proximidade maior dos turistas brasileiros com os problemas da cidade. "Os brasileiros têm mais contato com a cidade através da imprensa e muitos têm conhecidos ou parentes na cidade", afirma.

Para Duék, a pesquisa indica que o aumento da sensação de segurança no Rio, com a implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em favelas e a redução de índices de criminalidade nos últimos anos, ainda é uma percepção local que não extravasou os limites da cidade.

"Aqui no Rio percebemos um certo otimismo, os cariocas estão se sentindo mais seguros com as UPPs. Mas os resultados da pesquisa indicam que os viajantes brasileiros e estrangeiros ainda não estão sentindo isso", afirma.

"A violência foi marcando a imagem do Rio ao longo do tempo, e agora vai ser preciso um bom tempo e bastante trabalho para mudar isso", considera Duék.

Visão das favelas
O estudo mostrou também que brasileiros e estrangeiros têm uma percepção diferente sobre as favelas cariocas: 60% dos brasileiros consultados veem as comunidades como um atributo negativo do Rio, enquanto apenas 37% dos estrangeiros as enxergam como um problema.

Para Duék, isso reflete diferentes olhares sobre as favelas, que podem ser vistas como comunidades carentes, regiões com cultura própria ou focos de violência e tráfico de drogas.

Os dados também indicam que uma possível melhora na imagem dessas comunidades a partir da implantação das UPPs ainda não teve efeito para além da cidade.

O presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação, Alexandre Sampaio, observa que o turismo está crescendo em algumas comunidades pacificadas e pode exercer um papel importante na consolidação de uma imagem mais positiva das favelas.

Para ele, os brasileiros tendem a ter uma visão mais negativa das favelas por associá-las a problemas do país, e geralmente não buscam conhecê-las. Já o estrangeiro a incorporou à vivência que tem da cidade.

"Acredito que o brasileiro ainda veja a favela como um retrato da desigualdade do Brasil, enquanto o estrangeiro quer conhecê-la e sai de lá encantado, porque vê que as pessoas são alegres e que o convívio é pacífico e possível", afirma.

Cristo e Carnaval
A pesquisa, realizada pela internet entre julho e agosto deste ano, foi parte do trabalho de mestrado de Duék, feito em conjunto com a pesquisadora Maureen Ayikoru.

Dos 680 entrevistados, cerca de 30% eram brasileiros e pouco mais da metade já esteve no Rio. Os demais responderam a partir das impressões e informações que têm da cidade.

"É importante consultar pessoas que nunca estiveram aqui para saber qual é a imagem que elas têm à distância", afirma Duék, que buscava mais dados sobre a imagem que a cidade tem lá fora para desenvolver seu mestrado.

Sua dissertação foi sobre como o Rio pode explorar os megaeventos - a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 - para melhorar a sua imagem.

Entre os pontos positivos da cidade, a maioria dos entrevistados elegeu as praias, paisagens naturais, a cultura e a vida noturna, e citaram ainda o Carnaval e o Cristo Redentor como principais atrações.

Já na lista de atributos negativos, a insegurança para turistas também teve destaque. Citado por 63% dos turistas, foi o segundo item mais votado entre os problemas da cidade - atrás da violência.

"O Rio passou por anos sistemáticos de violência, seja em favelas da zona sul ou nas periferias. Isso consolidou uma imagem de violência que não é fácil de contornar", considera Alexandre Sampaio.

Sampaio afirma que o setor turístico viu a sua pior fase nos anos 1990, quando notícias sobre tiroteios na cidade eram frequentes, levando muitos congressos e contratos a serem cancelados. "Em alguns momentos pensamos que a guerra estava perdida, que era melhor mudar de negócio", afirma.

Nos setores de hotelaria e de restaurantes, Sampaio afirma que se percebe uma melhora sensível na segurança de turistas nos últimos anos, mas mudar essa imagem vai levar tempo.

"Agora temos uma grande chance com os megaeventos que serão sediados pelo Rio. Mas será um processo demorado", acredita.