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Após volta ao mundo, navegadora relata "pesadelo" com autoridades holandesas

Laura Dekker se tornou a velejadora mais jovem a dar a volta ao mundo - JEAN-MICHEL ANDRE/AFP
Laura Dekker se tornou a velejadora mais jovem a dar a volta ao mundo Imagem: JEAN-MICHEL ANDRE/AFP

23/01/2012 10h04

Uma navegadora adolescente, fazendo uma volta ao mundo sozinha, pode enfrentar vários problemas comuns a viagens como esta, desde o risco de sequestro por piratas até recifes de corais que podem danificar um pequeno barco.

Mas para Laura Dekker, a holandesa de 16 anos que completou a volta ao mundo no final de semana, o maior problema foram os obstáculos colocados pelas autoridades da Holanda à sua viagem.

Desde que começou a planejar sua viagem, a jovem afirma que os serviços sociais da Holanda tentaram impedir a jornada.

Laura nasceu em um barco e, aos seis anos, já velejava sozinha atravessando lagos.

Aos 13 anos, ela navegou sozinha da Holanda para a Inglaterra. Depois desta façanha, a adolescente decidiu que o próximo desafio seria a volta ao mundo.

Pais e governo

Os pais de Laura inicialmente resistiram, mas, depois, concordaram com a viagem da filha. No entanto, as autoridades holandesas não se convenceram tão facilmente.

A Justiça do país proibiu a viagem de Laura, alegando que ela era jovem demais para cuidar de si mesma no mar.

Depois de uma batalha judicial, Laura conquistou o direito de navegar com a condição de completar um curso de primeiros socorros e se inscrever em um programa de educação à distância.

Mas, pouco depois de iniciar a jornada, aos 14 anos, Laura se deu conta de que sua família estava sendo pressionada pelas autoridades holandesas.

No começo de janeiro, autoridades escolares advertiram os pais que Laura não estava fazendo o dever de casa no tempo previsto.

Mas, como o advogado da família Peter de Lange explicou, não é fácil estudar durante uma viagem de volta ao mundo.

"Há algumas limitações. Laura nem sempre tem acesso à internet. Às vezes ela enfrenta tempestades e precisa colocar a sobrevivência em primeiro lugar", afirmou.

"Ela está fazendo o melhor que pode, mas a escola já sabia antes da viagem que haveria ocasiões em que ela poderia não conseguir cumprir os prazos."

"Temos o dever de investigar. A lei afirma que você deve permanecer na escola até os 16 anos", disse Caroline Vink, do Instituto Holandês para Juventude.

"Tínhamos que ter certeza de que Laura era capaz de lidar com as exigências de um desafio como este, coisas como falta de sono e o fato de estar sozinha todo o tempo", acrescentou.

Blog e pesadelos

Laura manteve um blog durante a viagem e, no final da jornada, a adolescente refletiu sobre a experiência.

"Naveguei o mundo todo, passei por portos difíceis e recifes perigosos e atravesseis tempestades pesadas, sendo responsável por mim e por Guppy (o barco) todo o tempo", escreveu.

"Ao olhar para trás, acho que as autoridades holandesas me trataram de forma errada. Temo que os pesadelos continuem a me assombrar. No mar, me sinto confortável e relaxada, especialmente durante a longa travessia dos oceanos Índico e Atlântico."

"Mas agora parece que as autoridades holandesas começaram a causar problemas de novo", afirmou a jovem.

Joost Lanshage, do Escritório de Proteção à Juventude da Holanda, afirma que o governo tinha que intervir.

"Se Laura tivesse se afogado, seríamos acusados de não ter feito o bastante para protegê-la. Graças a Deus ela está bem e acho que se deve, em parte, às medidas de segurança que aplicamos como parte das condições para deixá-la ir", afirmou.

"Elaboramos uma lista para tentar assegurar que ela tivesse uma viagem segura. Sinto muito que Laura tenha ficado traumatizada, mas não me arrependo que cumprir nossa responsabilidade com esta criança", acrescentou.

Desvio na volta

Laura Dekker escolheu concluir sua viagem na ilha de Saint Maarten, território autônomo que fazdas Antilhas Holandesas, no Caribe, por temer que a presença dos serviços sociais se voltasse diretamente para a Holanda.

Ao chegar na ilha caribenha, Laura foi recebida por um batalhão de jornalistas, centenas de equipes do mundo todo. A maioria dos programas de entrevistas de canais americanos já tentaram marcar uma entrevista com a adolescente.

Mas, Laura não parece interessada em nada disso.

Depois de chegar à ilha, a adolescente vai passar um tempo com a família, antes de se recebida pelo primeiro-ministro de Saint Maarten.

Apesar de seus pais morarem na Holanda, ela tem a cidadania da Nova Zelândia, pois nasceu em um barco parado na costa daquele país. E Laura já deixou claro que prefere voltar para a Nova Zelândia, e não para a Holanda.

Mas, antes deste plano, a jovem pretende completar o livro sobre suas aventuras e o documentário.

Laura Dekker é a pessoa mais jovem a completar a viagem de volta ao mundo sozinha. Mas o Livro Guinness dos Recordes não tem a categoria de "mais jovem navegador", para evitar o incentivo a pais exigentes que queiram obrigar seus filhos a bater o recorde.