Copa movimenta turismo em favelas cariocas
"Esta favela é uma benção", afirma Edinalva da Silva. A comerciante mora há 50 anos no alto do Morro Azul, no bairro carioca do Flamengo. Todo dia ela vende água de coco gelada na entrada da comunidade. E, há pouco tempo, expandiu os negócios, alugando um quarto para turistas que vieram para a Copa.
"O dinheiro tem me ajudado muito", diz ela. Edinalva tem certeza de que a experiência positiva dos visitantes estrangeiros pode ajudar a melhorar a imagem de moradores de favelas também no próprio país.
A revolução das favelas está a todo vapor. Alojamentos em bairros mais carentes do Rio de Janeiro estão em alta, não somente entre os turistas, mas também entre os cariocas. A explosão dos aluguéis e a especulação imobiliária na capital fluminense explicam o interesse crescente.
Entretanto, a preferência dos turistas está em regiões baratas, estrategicamente localizadas na zona sul da cidade, de classe alta. As várias favelas da zona norte ou na periferia da cidade não lucraram com a explosão do valor dos aluguéis perto de Copacabana e do Pão de Açúcar. Investimentos públicos em infraestrutura também costumam passar longe dessas regiões.
No bem localizado Morro Azul, o aluguel de uma casa com dois ou três cômodos custa entre 750 e 1.200 reais. "Muitas pessoas querem morar aqui, a procura é enorme", conta Jussara Maria Silveira, moradora da favela. "Aqui, as pessoas pagam pelo aluguel o que pagariam pelas despesas extras num apartamento normal em outro local", completa.
Jussara também está alugando um quarto em sua casa para turistas que vieram para a Copa. Ela construiu uma parede para separar o espaço da cozinha e colocou um beliche no canto do cômodo. A cozinha é dividida com os hóspedes. E quando o aperto é grande, o jeito é colocar um colchão de ar no chão.
Por trás dos aluguéis no Morro Azul está a estudante de turismo francesa Laure Massat. Na página do Facebook Home Sweet Favela, ela anuncia os quartos disponíveis na região, informando o preço em inglês e francês. Ela também encoraja os moradores a se preparar para hospedar turistas e ajuda a receber os hóspedes.
"O objetivo era reduzir os preconceitos de ambos os lados", conta a jovem de 27 anos, conhecida por todos na comunidade. Os turistas costumam perguntar se o alojamento é seguro, diz Massat. "Os próprios moradores da favela costumam dizer: 'se eu fosse você, não faria isso'."
Entretanto, para Massat, os turistas estrangeiros servem como uma espécie de embaixadores dos moradores da comunidade. "Eles levam consigo uma boa impressão, a maioria quer voltar, e eles vão transmitir essa imagem positiva", acredita.
Com as favelas em alta, a autoconfiança dos moradores é perceptível, apesar de todos os problemas que ainda fazem parte do cotidiano. A maioria das favelas ainda sofre com o tráfico de drogas e a violência policial. Desde 2008, cerca de 40 comunidades foram pacificadas e, apesar da ocupação policial, o tráfico continua, mesmo que discretamente.
"Dá para viver bem na favela. Nada impede que uma favela se torne um bairro normal. O Estado precisa apenas investir em infraestrutura", opina Rossino de Castro Diniz, presidente da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj), que há oito anos luta por melhores condições de vida nas favelas. Veja a matéria completa aqui.
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