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Safári em Johannesburgo promove acampamento em selva urbana

19/03/2007 12h18

Por Rebecca Harrison

JOHANNESBURGO (Reuters) - Para a maioria dos turistas, um safári africano significa encontros de perto com elefantes e leões na selva.

Mas um grupo de artistas holandeses e sul-africanos criou um novo tipo de aventura selvagem, convidando os interessados a acampar no coração da cidade de Johannesburgo, onde a criminalidade armada corre solta e milhares de imigrantes ilegais vivem apertados em prédios decrépitos controlados por chefões das favelas.

Os organizadores do projeto experimental "Cascoland" esperam que seu acampamento em um dos bairros mais violentos de Johannesburgo ajude a combater a criminalidade e a romper as barreiras entre ricos e pobres, negros e brancos.

Os convidados pagam 25 rands (3,36 dólares) para dormir em barracas sobre o telhado de um antigo quartel do exército. Eles ganham tampões de ouvido para amenizar o ruído dos estampidos periódicos -- que podem ser causados por tiros ou pelos canos de escapamento de carros -- e da música disco congolesa tocada por camelôs.

O café da manhã é entregue em cada barraca, e então um guia local leva os hóspedes a um passeio guiado pelo bairro, onde uma caminhada desacompanhada normalmente seria um convite a um assalto ou coisa pior.

Os guias explicam como funciona a economia informal da cidade e apresentam os hóspedes, geralmente moradores dos subúrbios ricos da cidade, a mecânicos moçambicanos, camelôs nigerianos e, às vezes, às prostitutas do bairro.

"Queremos romper as barreiras entre as pessoas e contestar a mentalidade de muralhas e cercas vigente na África do Sul", disse o artista holandês Roel Schoenmakrs, co-fundador da Cascoland, que operou projetos semelhantes na Cidade do Cabo e na Holanda.

Em função do legado do apartheid, as cidades sul-africanas ainda se dividem pelo menos em parte por critérios raciais, e a criminalidade desenfreada leva os mais ricos a manter distância das partes violentas da cidade.

Schoenmakrs disse que ninguém se feriu durante o experimento de 10 dias realizado no início deste mês. Ele afirmou que a criminalidade diminuiu porque os organizadores fizeram uma limpeza na área e envolveram os moradores locais em projetos de animação e de arte nas ruas.

Além de operar o acampamento, artistas da Holanda e África do Sul exibiram filmes, converteram uma ex-galeria de tiro em espaço para brincar e piscina para as crianças locais, e convidaram corais e trupes de dança para se apresentarem.

Além disso, empregaram moradores da área para preparar comida e encorajaram os mecânicos informais da região a consertar os carros dos convidados.

Os moradores brancos de Johannesburgo abandonaram o centro da cidade após o fim do apartheid, em 1994, abrindo espaço para milhares de imigrantes ilegais que, em sua maioria, vivem em prédios abandonados controlados por gangues.

A área ficou sem lei durante anos, mas a prefeitura a está limpando aos poucos numa tentativa de atrair investimentos antes de 2010, quando a África do Sul vai sediar a Copa do Mundo de Futebol.