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Vida noturna, centros culturais e o já consagrado vinho marcam o passeio em Porto

Seth Sherwood

New York Times Syndicate

08/03/2012 09h15

Por anos, o lema do Porto foi, basicamente, “Você provou o vinho; agora prove a cidade!” Mas atualmente a segunda maior metrópole de Portugal – uma atraente cidade de encosta com casarões veneráveis e igrejas barrocas – não mais precisa se apoiar na reputação de seu famoso digestivo. Um novo bairro de vida noturna movimentado está ganhando forma e uma florescente cena criativa exibe de tudo, de um novo centro de design até a vanguardista Casa de Música, projetada por Rem Koolhaas, um espaço de concerto deslumbrante. E também há ótimas notícias para os enófilos. Com a ascensão da região do Douro como incubadora de vinhos tintos premiados – não apenas o do Porto – a cidade agora pode inebriar você com uma miríade de vinhos vintage, novos restaurantes ambiciosos e até mesmo hotéis temáticos de vinho.

Sexta-feira

 
18h - Vá para o Oeste
Um passeio barato (2,50 euros, ou US$ 3,35, com o euro cotado a US$ 1,34) pelo Porto aguarda na linha Nº1 do bonde, que começa próximo da Praça do Infante e segue na direção oeste, até a costa do Atlântico. Com antigos bancos de couro e painéis de madeira, os bondes de hora em hora (ou de meia em meia hora, dependendo da temporada) seguem por seus trilhos ao longo do Rio Douro, passando por praças, igrejas e casas de vinho do Porto. A jornada de 20 minutos deixa você no bairro à beira-mar da Foz do Douro, onde você pode parar facilmente no Shis (Praia do Ourigo, Esplanada do Castelo; 351-22-618-9593; shisrestaurante.com), um elegante bar-restaurante em frente à praia. O terraço é ótimo para apreciar o por do sol e a cerveja Super Bock (2,50 euros).
 
21h - Evite se estiver de dieta
O Francesinha é um sanduíche local, não aprovado por cardiologistas, de presunto, bife de carne bovina, linguiça e queijo com molho quente de tomate e cerveja. No Restaurante DOP (Palácio das Artes, Largo Santo Domingos, 18; 351-22-201-4313; ruipaula.com), um espaço minimalista aberto no ano passado pelo célebre chef Rui Paula, o lanche de trabalhador é elevado a um nível epicurista, com ingredientes como filé mignon, linguiça artesanal, mussarela e um pouco de lagosta no molho de carne. Também de primeira são os filés úmidos de peixe com delicado molho de três queijos. Uma carta de vinhos com 60 páginas oferece vintages da região do Douro, incluindo o tinto sedoso e medianamente encorpado Quinta de Roriz 2005 (8 euros a taça). Jantar para dois, sem vinho: cerca de 80 euros.
 
23h - Um mercado renascido
Perto dali, o venerável mercado coberto, no estilo Belas Artes, conhecido como Mercado Ferreira Borges, renasceu neste ano como Hard Club (Praça do Infante, 95; 351-70-710-0021; hard-club.com). Após quatro anos de obras, a estrutura renovada de vidro e aço abriga uma livraria, uma área de exposição de arte, um restaurante, um pátio, bares e salas de concerto. O mais difícil no Hard Club é decidir entre todos os eventos, de concertos de rock independente até feiras de artesanato. Para as noites de balada nos fins de semana, o público chega depois das duas horas da manhã e não vai embora antes do nascer do sol. O preço do couvert varia.
 

Sábado

 
10h - Alguns preferem à moda antiga
Diferente do Mercado Ferreira Borges, o Mercado do Bolhão (esquina da Rua Formosa com Rua de Sá da Bandeira) parece intocado desde que abriu em 1914. Majestoso e dilapidado, o imenso espaço coberto e ao ar livre lembra uma clássica estação de trem europeia, graças à grande quantidade de ferro batido, grandes escadarias, paredes de azulejos brancos e domos com pontas. Dentro, velhos vendedores trocam fofocas em meio a castanhas, polvo, sardinhas, pés de porcos e galos vivos. No andar de cima, no canto nordeste, uma banca chamada Manteigaria do Bolhão estoca carne curada suficiente para alimentar um piquenique corporativo (ou provocar um protesto do PETA): chouriço (2,40 euros o quilo), presunto (9,50 euros o quilo), salpicão (6 euros o quilo) e muito mais.
  • Joao Pina/The New York Times

    O Mercado do Bolhão parece intocado desde que abriu em 1914

 
12h30 - Carne, pães e mais
Para as muitas pinturas, esculturas e instalações em exibição nas galerias ao longo da Rua Miguel Bombarda, nós podemos adicionar dois novos tipos de empreendimentos criativos: receitas de carne bovina e peixe. No interior arejado do Bugo Art Burgers (Rua Miguel Bombarda, 598; 351-22-606-2179; bugo.com.pt), os hambúrgueres são colagens culinárias de ingredientes locais. O Porto e Serra Burger é de carne bovina banhada em vinho do Porto e coberta com queijo serra da estrela. O Cod Burger transforma o bacalhau em uma empada servida com uma clássica açorda (uma papa grossa de pão e coentro). E se você gostar de comer seu hambúrguer com pauzinhos, o Oriental Assortment é uma mistura de três carnes – carne bovina, atum dos Açores, frango caipira – com macarrão noodle. Um excelente panna cotta vem acompanhado de uma cobertura de vinho do Porto, framboesa, groselha preta. Almoço para dois: 35 euros.
 
14h - Sábado no shopping
Descolado e inovador não são dois adjetivos que costumam descrever shopping centers. Mas o Centro Comercial Bombarda (Rua Miguel Bombarda, 283-285; ccbombarda.blogspot.com) é uma exceção. Dedicado em grande parte aos estilistas e designers portugueses independentes, o complexo abriga grifes cult como Storytailors (351-22-201-7409; storytailors.pt), conhecida por sua moda feminina inspirada em contos de fadas, e Piurra (351-22-201-6012; piurra.com), um paraíso de móveis minimalistas animados por tecidos coloridos.
 
16h30 - Espiras e ângulos
Lembrando um meteorito branco dentado, a futurista Casa da Música (Avenida da Boavista, 604-610; 351-22-012-0220) é tanto uma obra-prima de arquitetura do Porto quanto uma meca de música. As visitas diárias em inglês às 16h30 (3 euros) conduzem os visitantes pelas espiras do prédio angular de 17 lados, projetado pelo astro holandês da arquitetura, Rem Koolhaas, e aberto em 2005. Entre os destaques estão a Sala VIP, um salão angular coberto de azulejos portugueses azuis , e a chamada Sala Laranja, cujo piso emite sons – gorjeios de pássaros, percussão – quando você pisa nele. Mas o melhor é a sala principal, decorada com uma estampa dourada de listras de tigre. Não deixe de checar a programação de concertos e festas mensais com DJs.
 
20h - Alimentação nas entrelinhas
Há abundância de livros – segurando os cardápios, cobrindo as paredes – no Book (Rua de Aviz, 10; 351-91-795-3387; restaurante-book.com), um restaurante literário aconchegante, à luz de velas e autoconsciente, que abriu recentemente. Graças à nova culinária portuguesa que transforma ingredientes prosaicos em pratos poéticos (bochechas de porco com tripas ou filé de vitela com molho de vinho Torres), o restaurante já é um best seller. A sopa de peixe tem uma base picante de tomate, textura grossa, croutons crocantes e pedaços de camarão local. O carré de cordeiro também é bom, graças a uma redução de vinho do Porto com toques de baunilha e condimentos. O bolo esponja, uma obsessão do Porto, chega como uma rica massa com fatias de laranja e kiwi. O suave vinho da casa, o tinto Terras do Grifo, é prova adicional de que o Porto produz mais do que vinho do Porto. Jantar para dois, sem vinho: cerca de 55 euros.
 
22h - Junte-se à congregação
Antes um paraíso de lojas de tecidos fora de moda, o bairro de Clérigos atualmente está repleto de bares e um acúmulo de festeiros lembrando o Carnaval – universitários, jovens profissionais e socialites cinquentonas – que lotam as ruas à noite. A Galeria de Paris (Rua Galeria de Paris, 56; galeriadeparis.com) está cheia até as vigas elevadas de rádios antigos, velhas máquinas de costura e outros itens retrô. Até mesmo a bomba que serve a cerveja Sagres (1 euro) tem um quê de Júlio Verne. Mais contemporâneo é o bar à meia-luz Baixa (Rua Cândido dos Reis, 52; baixa.pt), onde um enorme globo de discoteca fica pendurado sobre a pista de dança e drinques como o Cosmo Porto (Cointreau, vinho do Porto, frutas vermelhas; 6 euros) estão no cardápio.
  • Joao Pina/The New York Times

    Vista geral da cidade de Porto, em Portugal, a partir da Vila Nova Gaia

 

Domingo

 
10h - Uma fundação sólida
Arte está por toda parte na Fundação Serralves (Rua Dom João de Castro, 210; 351-80-820-0543; serralves.pt): nos jardins, onde obras enormes ao ar livre como a escultura colher de pedreiro de Claes Oldenberg se destaca; na livraria excepcional, repleta de tomos que cobrem de joias art nouveau até fotografia moderna; e é abundante no museu da fundação, que oferece exposições de arte contemporânea. Até 5 de fevereiro, “Da Página para o Espaço: Esculturas de Papel Publicadas” exibe trabalhos para recortar e montar e outras criações de papel de artistas como Marcel Duchamp, Keith Haring e Barbara Kruger.
 
Meio-dia - Enter Sandeman
Por que a maioria dos vinhos do Porto – Graham’s, Cockburn, Taylor – possui nomes britânicos? Qual é a diferença entre um Porto branco, ruby e tawny? As respostas são dadas durante as visitas com guias (4,50 euros) às adegas da Sandeman (Largo Miguel Bombarda, 3, Vila Nova de Gaia; 351-22-374-0534; sandeman.eu). Se você não tiver dinheiro suficiente para uma garrafa de tawny 40 anos (127 euros), uma caixa de chocolates feitos com vinho do Porto é um souvenir mais barato da cidade (10 euros).
 

O básico

 
Você não pode estourar uma rolha no The Yeatman (Rua do Choupelo, Vila Nova de Gaia; 351-22-013-3100; the-yeatman-hotel.com) sem atingir algo relacionado a vinho. Rotulado como “hotel vínico de luxo”, este estabelecimento com 82 anos tem uma adega de vinho, um bar de vinho, um restaurante de vinho, jantares especiais com vinho e até mesmo um spa de vinho. Quartos duplos em dezembro a partir de 139 euros (aproximadamente US$ 184).
 
E você não pode acusar os proprietários do novo Gallery Hostel (Rua Miguel Bombarda, 222; 351-22-496-4313; gallery-hostel.com) de ser mesquinhos. O espaço estilo casarão conta com bar, cinema, biblioteca, jardim, jardim de inverno, noites de karaokê, degustações de vinho, exposições e passeios turísticos pela cidade. Camas no dormitório a partir de 20 euros; quartos duplos, 50 euros. (Tradução: George El Khouri Andolfato)