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Conheça os bares descolados e a arte de rua de Melbourne, na Austrália

Ingrid K. Williams

New York Times Syndicate

05/07/2013 08h03

O fato de Melbourne, capital do estado de Victoria, na Austrália, sempre aparecer entre as melhores cidades do mundo para se viver é reflexo de sua eficiência, limpeza e segurança. O que esse reconhecimento não revela (pelo menos não de cara) é que ela é, sem dúvida, a mais estimulante do país em termos culinários. Porém, ainda mais forte é sua energia criativa, que se manifesta em todo lugar - da arte de rua aos bares descolados, das boutiques independentes aos cafés lotados. Quando até a cosmopolita Sydney já fala em "melbournização", é sinal que alguma coisa acontece na segunda maior metrópole da Austrália.

Sexta-feira

16h - Arte de rua, cerveja na ponte
Os maiores tesouros de Melbourne geralmente estão escondidos. Um exemplo é a arte de rua colorida que enfeita grande parte de suas vielas, as chamadas "ruas de serviço". Os exemplos mais sofisticados estão na Hosier Lane e Rutledge Lane, onde praticamente tudo – paredes, muros, portas, latas de lixo – foi coberto por murais de grafite. Depois de conferir essas verdadeiras galerias a céu aberto, vá para a ponte de pedestres perto da estação da Flinders Street para descobrir um bar meio diferente: literalmente embaixo da ponte, no meio do rio Yarra, fica o flutuante Ponyfish Island, onde você pode degustar a pale ale local, a Fat Yak (9 dólares australianos, praticamente o mesmo em US$).

19h - Pratos dourados
Pegue o bondinho e vá ao subúrbio tranquilo de St. Kilda para jantar no Golden Fields (2/157 Fitzroy St.; goldenfields.com.au), restaurante inaugurado em 2011 com decoração minimalista e chique e a cozinha dirigida pelo chef Andrew McConnell. Comece estimulando o paladar com um aperitivo no balcão de mármore do bar; o AYA! é um coquetel delicioso feito com gim West Winds, licor de camomila e saquê Rihaku Junmai (18 dólares australianos). Depois, passe para os saborosos pratos pequenos, como o pato crocante com pãezinhos no vapor e molho de ameixa (24 dólares) e a versão local do sanduíche de carne de lagosta da Nova Inglaterra, preparada aqui com lagostim, agrião e maionese japonesa (15 dólares).

23h - Drinques no andar de cima
Muitas vezes, para se chegar num bar, é preciso descer escadarias ou se enfiar em porões que mais parecem cavernas, mas duas das casas mais descoladas da cidade viraram esse conceito de cabeça para baixo, literalmente: o Everleigh (1/150-156 Gertrude St.; theeverleigh.com), classudo, com candelabros vintage e velas iluminando as cabines de couro e o balcão de madeira polida, fica no andar acima do térreo. Sente-se e peça um dos drinques da época da Lei Seca como Buster Brown (bourbon, bitter de laranja, limão siciliano e açúcar; 19 dólares australianos). Se preferir mais agitação, vá a Tattersalls Lane e siga a música, subindo dois lances de escadas cobertos com pôsteres de propaganda esotérica até chegar ao Ferdydurke (1 and 2/239 Lonsdale St.; ferdydurke.com.au), inaugurado há um ano. Experimente a suave Steam Ale, da cervejaria local Mountain Goat, e curta a boa música que sai da picape do DJ.

Sábado

10h - Fazendo feira
Há várias feiras diárias espalhadas pela cidade, mas nenhuma com tantas gostosuras e tesouros como a South Melbourne Market (322-326 Coventry St.; southmelbournemarket.com.au). Além dos produtos frescos e raridades, o mercado também abriga o SO:ME Space (somespace.com.au), área dedicada aos artistas locais e suas obras. Recentemente estive por lá e vi barraquinhas e stands recheados de cartões engraçados, capas estampadas para almofadas, roupas infantis feitas à mão e sapatos coloridos.

  • Jesse Marlo­w/The New York Times

    Cinéfilos podem curtir as sessões duplas do Astor Theater, um cinema art deco com apenas uma sala de exibição

13h - Um almoço delicado
A comida do Dainty Sichuan Food (176 Toorak Road; (61-3) 9078-1686) é tão delicada quanto água jorrando de uma mangueira - aliás, é disso que você vai precisar para aplacar a ardência das pimentas usadas na preparação dos pratos. O restaurante abriu uma filial (Level 2, 206 Bourke St.) em dezembro, no centro (Chinatown), mas vale a pena ir até a casa original, em South Yarra, para degustar um prato que não consta do cardápio do segundo endereço: a berinjela frita com sabor de peixe, adocicada e apimentada na medida certa. Almoço para dois, 50 dólares australianos.

15h - Exposições gratuitas
Pule da gastronomia para a cultura procurando a fachada de aço do Centro Australiano de Arte Contemporânea, ou ACCA (111 Sturt St., accaonline.org.au), um local de exposições de artistas plásticos nacionais e internacionais. A mostra atual de vídeos, "Desire Lines", vai até três de março; instigante e perturbadora, ela expõe trabalhos de Samuel Beckett e Bruce Nauman, entre outros. Depois, visite ali perto a National Gallery of Victoria International (180 St. Kilda Road; ngv.vic.gov.au) para admirar os modelos de alta costura idealizados por Viktor & Rolf e Valentino da exposição "Ballet & Fashion" (até 19 de maio). A entrada de ambas é grátis.

19h - Estrelas de cinema
O amplo Jardim Botânico Real (Birdwood Ave.; www.rbg.vic.gov.au) fica coberto da flora maravilhosa e exótica do continente o ano inteiro, mas durante o verão austral abriga também um cinema a céu aberto, que funciona ao pôr-do-sol, no gramado do Central Lawn. O Moonlight Cinema (moonlight.com.au/melbourne) exibe filmes que variam dos últimos lançamentos aos clássicos. Vale a pena comprar o ingresso Gold Grass (32 dólares australianos), que inclui um colchonete confortável numa localização privilegiada e serviço de bar antes do começo do filme. Se o tempo não ajudar, vá ao Astor Theater (1 Chapel; astortheatre.net.au) para uma sessão dupla nesse cinema clássico em art déco.

22h30 - Comer, comer, beber, beber
Depois do filme, vá jantar no sempre lotado Chin Chin (125 Flinders Lane; chinchinrestaurant.com.au), de leve influência tailandesa. Tanto o sashimi de cavala (18 dólares australianos) como a salada crocante de perca e maçã (27 dólares) oferecem sabores intensos e ousados. A seguir, desça ao Go Go, o bar da casa que fica no porão e foi inaugurado no final de 2011. Com um Bellini de lichia e cardamomo (15 dólares) na mão, ajeite-se numa das banquetas iluminadas pelos anúncios em neon nas paredes para curtir a noite.

  • Jesse Marlo­w/The New York Times

    Nas ruas Hosier Lane (foto) e Rutledge Lane, praticamente tudo - paredes, muros, portas, latas de lixo - foi coberto por murais de grafite

Domingo

11h - Café da manhã no Birdman
Se todos os cafés tivessem opções de café da manhã tão criativas como as do Birdman Eating (238 Gertrude; birdmaneating.com.au), o brunch seria a refeição mais popular do dia. Essa casa arejada, decorada com "homens pássaros" em tamanho real, pendurados no teto, é o lugar perfeito para começar o dia. Peça o flat white (3,50 dólares australianos) e o bolo de banana com coalhada de limão (11 dólares) e depois o arroz negro com iogurte de coco e manga fresca (10,50 dólares) ou os pãezinhos de ricota com iogurte de mirtilo e um crocante de muesli (15 dólares) – é tudo delicioso.

13h - Às compras
Não faz muito tempo, a Gertrude Street ainda era barra pesada, mas agora o trecho está lotado de lojas ecléticas e boutiques que vale muito a pena conferir. Depois do Birdman, comece pela loja vizinha, a Northside Records (236 Gertrude; northsiderecords.com.au), e sua enorme coleção de vinil; depois vá até o fim do quarteirão para comprar estampas malucas e malhas coloridas na Dagmar Rousset (157 Gertrude; dagmarrousset.com), uma lojinha adorável que, à noite, funciona como escola de francês. Por fim, dê uma olhada nas novidades dos estilistas locais na Since Grey (122 Gertrude; sincegrey.com), cujas coleções variam de tops e saias com estampas de galáxias a bolsas de couro da Jacki Anderson e joias de Isadora Filkovic.

14h30 - Casa Heide
A mais ou menos 16 quilômetros de Melbourne fica Heide, a antiga casa de John e Sunday Reed, patronos das artes que abrigaram artistas nos anos 30, 40 e 50. Hoje, ela faz parte do Museu de Arte Moderna Heide (7 Templestowe Road, Bulleen; heide.com.au), onde três salões de exposições e um parque de esculturas mostram os trabalhos de australianos contemporâneos. Depois de uma volta pelo museu, os jardins são uma boa pedida, tanto pelas obras espalhadas pela área verde como pelo clima tranquilo.