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Cidade subterrânea com 20 mil pessoas? Conheça Derinkuyu

De Nossa

18/06/2023 11h34

A cidade-caverna de Derinkuyu, na região turca da Capadócia, guarda não só um passado remoto curioso, como também uma redescoberta contemporânea igualmente incomum: sua estrutura subterrânea abandonada foi localizada em 1963 quando um morador local decidiu procurar as galinhas no porão de sua casa em reforma. Um guia da região, identificado apenas como Suleman, contou à BBC que o homem não aguentava mais perder os animais em uma brecha que ficou na parede durante a obra. Então, ele decidiu derrubar a parede e descobriu uma passagem escura: esta era a primeira de mais de 600 entradas de residências usadas por séculos pelos moradores de Derinkuyu.

Estima-se que sua rede de túneis e cavernas abrigavam, por vez, cerca de 20 mil pessoas. Elas constituem desde 1985 um Patrimônio da Humanidade segundo a Unesco e estão parcialmente abertas para visitantes. No entanto, é possível conhecer apenas oito de seus 18 andares. Segundo o Departamento de Cultura da Turquia, Derinkuyu foi construída pelos frígios — uma população indo-europeia relacionada aos gregos e armênios que viveu na região — entre o século 8 e 7 a.C.; a primeira referência a ela aparece no texto Anabasis, escrito em 370 a.C. pelo filósofo, historiador e líder militar Xenofonte de Atenas, em que ele menciona que o povo da Anatólia vivia no subterrâneo em casas escavadas. A cidade "enterrada" a 85 metros de profundidade foi usada por milhares de anos por outros povos — como os persas e os cristãos buscavam proteção contra a perseguição islâmica durante o período Bizantino — primeiro como depósito e depois como esconderijo em tempo de invasões e guerras.

Seus moradores conseguiam sobreviver ali por meses antes que precisassem voltar à superfície. Com extensão de 445 quilômetros quadrados, ela estaria conectada a outras 200 cidades subterrâneas menores da região, formando uma verdadeira rede conectada por túneis. Ainda de acordo com a BBC, a Capadócia é particularmente apropriada para a construção de cidades subterrâneas graças à sua paisagem repleta de rochas de cinzas vulcânicas, um material maleável e seco que é ideal para ser esculpido com ferramentas mais rudimentares. Quando as escavações começaram após sua redescoberta nos anos 60, pesquisadores encontraram construções com usos distintos e específicos: dispensas para alimentos secos, estábulos, escolas, adegas e até uma capela. Um poço artesiano abastecia o local com água limpa e mais de 50 túneis de ventilação permitiam que o ar circulasse entre quartos e níveis de cada casa. Toda a engenharia da cidade foi cuidadosamente pensada: gado ocupava apenas os níveis superiores, para que seus cheiros e gases se dissipassem para a superfície e não se espalhassem pelas residências e espaços inferiores.

Os animais ainda funcionavam como uma camada viva de insulação que mantinha a cidade abaixo aquecida nos meses frios. Apesar de tanto cuidado, o guia Suleman disse à BBC que acredita que a vida subterrânea "era provavelmente bem difícil". Os moradores faziam suas necessidades em jarros de argila selados, viviam com luz de tochas e tinham que dispor de corpos de pessoas mortas apenas em áreas designadas" Parte dos desafios têm a ver com o nível de isolamento proporcionado por Derinkuyu para os seus "protegidos", cujas portas eram fechadas com enormes rochas. A repórter Geena Truman, do veículo britânico, descreve que os corredores são apertados e formam verdadeiros labirintos em que a única "janela" são pequenos buracos na parede de onde se pode identificar invasores ao complexo. A cidade, definitivamente abandonada pelos gregos que fugiram da Capadócia nos anos 20 devido à Guerra Greco-Turca, hoje recebe visitantes — mas claustrofóbicos devem se manter longe. Derinkuyu fica aberta todos os dias da semana, das 8h às 17h. Para explorar sua estrutura, é preciso desembolsar 250 liras turcas (R$ 50,80). Mais informações e acesso à bilheteria on-line estão disponíveis no site muze.gov.tr.