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Democracia, samba e doces memórias: Teresa Cristina recebe Martinho da Vila

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De Nossa, UOL

15/10/2021 11h00

"Mas você não está aqui? É o Brasil cantando para a Democracia", entoa Teresa Cristina, na abertura de mais um episódio da nova temporada do Botequim da Teresa, para receber ninguém menos que o cantor e compositor Martinho da Vila.

"Estamos num momento promissor, vem eleições no próximo ano, a chance de atuar e participar para quando mais tarde se lembrar: é, eu fiz parte desta história", profetiza Martinho.

Martinho da Vila - Leo Aversa/Divulgação - Leo Aversa/Divulgação
Imagem: Leo Aversa/Divulgação

Comida de botequim, papo bom e música. É a combinação harmônica do programa, que exalta sabores da botecagem carioca, como é o caso do Bar do Omar, sede da receita servida por Teresa ao convidado de honra: bolinho de jiló com linguiça toscana.

"O Bar do Omar é um lugar muito importante para a esquerda festiva, à qual eu pertenço. Um espaço muito agradável no Morro do Pinto, tem um pôr do Sol incrível, os donos são divertidos", descreve a anfitriã, que escolheu a dedo o botequim que serviria de gancho para iniciar a conversa com Martinho

Achei que era um bar muito parecido com seu jeito, sua família. Um dos grandes mestres da música brasileira, o grande griô", dá as boas-vindas.

"Teresíssima!", responde Martinho, contando o que todo mundo quer saber: como a música entrou em sua vida. Algum palpite?

Quando eu era bem garoto, tinha mania de fazer paródias, pegava uma música de sucesso e fazia uma brincadeirinha. Tinha um time de futebol, o devagar devagarinho para a Seleção Brasileira. Vamos ganhar, vamos ganhar?"

Teresa Cristina nos bastidores da entrevista com Martinho da Vila para o Botequim da Teresa - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Imagem: Zô Guimarães/UOL

A primeira composição ele nem gravou. "Um lance de uma índia que casou mas morreu na hora do parto, um drama. E aquilo era um assunto no Brasil inteiro, fiz a música assim: 'Aquela índia que eu amei/Tudo que é bom dura pouco'."

O encontro com Candeia, 'o dono da Portela'

Em casa, Martinho não era de ouvir música. "Não sou de família de músicos, então não tinha estas referências". Já adulto e engajado ao mundo dos bambas, ele compôs "Camafeu", gravada no disco "Samba de roda", do Candeia. Para Teresa Cristina, um hino que faz lembrar o meu pai.

Candeia eu conheci na Portela, até não era muito simpático a ele, que tinha um ar muito pedante, negro muito bonito, andava de terno, bem vestido, cabeça em pé e nariz empinado. Parecia o dono da Portela. E ainda por cima era da polícia", diz Martinho.

O sambista Candeia - Reprodução/Youtube - Reprodução/Youtube
O sambista Candeia
Imagem: Reprodução/Youtube

A falta de empatia durou pouco. Passados alguns carnavais, lá estava nosso compositor da Vila na casa do portelense, já cadeirante. O início de uma amizade que durou uma eternidade.

"Diziam que ele estava muito sozinho em casa, então decidi ir até lá. As coisas ruins sempre trazem algo de bom. Guardo excelentes memórias do Candeia."

Num show em homenagem ao amigo, Martinho abriu cantando: "De qualquer maneira, meu amor, eu canto", e Paulinho da Viola, como lembra Teresa, chorou.

"Ele falava 'Martinho, você faz umas músicas românticas, poéticas, e modéstia à parte eu fiz uma melodia à altura, e quero que você coloque uma letra caprichada. Com esse passar do tempo, o Candeia viajou, né", conta Martinho que, em vez de fazer uma música romântica, compôs "Eterna paz", que diz assim: "Como é bom adormecer com a consciência tranquila?/Onde o medo não existe, nem das reencarnações/Jamais será luz que inclui a vida na eterna paz".

Samba-enredo: uma devoção

Capa do single "Juntos e Misturados", com música gravada por Martinho Teresa Cristina - Divulgação - Divulgação
Capa do single "Juntos e Misturados", com música gravada por Martinho Teresa Cristina
Imagem: Divulgação

Um apaixonado devoto por sambas-enredo, Martinho da Vila mudou a sonoridade do mesmo dentro da Vila Isabel.

"A Vila teve coragem de inovar, começou em 1967, quando fui para lá. Ideias novas, encorajei-os a algumas coisas. Eu fiz o samba-enredo e botei a cadência do Partido Alto, que era muito dolente. Aí nasceu '4 séculos de modas e costumes'", recorda-se.

O samba-enredo é um tipo de música que é difícil, cantada em movimento, ao mesmo tempo tem que ser alegre, "é carnaval, afinal de contas". O mais difícil, adverte o compositor, é mesclar alegria e emoção. "Quando o samba-enredo é alegre com uma boa dose de emoção, é uma maravilha!" Ou seja, literalmente, "Pra tudo se acabar na quarta-feira".

Ao fim da conversa sincera e marcada por memórias afetivas do samba, Teresa Cristina e Martinho da Vila se despedem pedindo paciência e cantando a música que fizeram e, recentemente, gravaram juntos: "Unidos e misturados".

Samba, série e Teresa

O "Botequim da Teresa" vai ao ar todas as sextas-feiras, às 11 horas, no Canal UOL e no YouTube de Nossa (inscreva-se já para receber os lembretes). Em cada episódio, Teresa Cristina recebe um convidado especial e ensina a fazer os petiscos clássicos de alguns do botequins mais famosos do Rio de Janeiro. O programa é uma coprodução de Nossa e MOV, a plataforma de vídeo do UOL.