Quando tudo era mato: Supla, Frota e Zeca Camargo contam bastidores dos primeiros realities do Brasil
Sendo febre no Brasil há mais de 20 anos, parece até mentira pensar que os reality shows algum dia não fizeram parte das nossas vidas. Imagina ter a ideia de colocar artistas e anônimos confinados em um mesmo espaço em busca de um prêmio em dinheiro, enquanto todo mundo assiste a cada passo deles?
É isso que "Realities: o Brasil na TV", novo documentário de Splash e MOV.doc, revive, lembrando perrengues e curiosidades da chegada dos reality shows ao nosso país com a ajuda de alguns de seus principais personagens.
Sequestro e pijama
Enquanto a Globo ainda fechava negócio com a Endemol para idealizar o primeiro "BBB", Silvio Santos acabou passando na frente e estreou a "Casa dos Artistas" no SBT, nosso primeiro reality show, lá em 2001.
"Teve as mais variadas reações. Lembro que a mais engraçada de todas foi o Mateus Carrieri tendo certeza absoluta que aquilo era uma grande pegadinha do Silvio", relembra Rodrigo Carelli, diretor da "Casa dos Artistas" e depois de "A Fazenda" na RecordTV.
Tudo foi preparado sob muito sigilo, e fazer o reality nascer foi um verdadeiro desafio. Uma casa de Silvio Santos ao lado da mansão onde mora o apresentador serviu como cenário do programa, o que gerou as mais inusitadas situações antes e durante a atração.
"Nessa época que a gente estava montando [a casa], aconteceu o sequestro da Patrícia e o sequestro do próprio Silvio, que foi dentro da casa do Silvio, então a imprensa inteira do Brasil estava na frente. A gente fazia tudo isso com a imprensa ali sem saber", relembra Carelli.
"Olho para o espelho e vejo o Sílvio Santos do outro lado do vidro de pijama. Todas as filhas, todo mundo assistindo o programa atrás do vidro", conta Alexandre Frota. "Ele estava curtindo que era do lado, então ficava vendo", revela Supla. Os dois foram participantes da primeira edição da "Casa dos Artistas".
A corrida da Globo
Um ano antes da "Casa dos Artistas", estreava o "No Limite" na Globo, inspirado no formato do norte-americano "Survivor". A competição linha dura também bombou na audiência, mesmo diante de muita confusão.
"Eu lembro delas [participantes] perguntando: 'Mas eu vou ter que ficar longe da minha família?' Óbvio. 'Mas eu vou passar fome?' Talvez sim. 'Assistência médica?' Aí a gente olhava um para o outro", relembra Zeca Camargo, apresentador do primeiro "No Limite".
Com o estouro do SBT, porém, a Globo precisou apressar a grande estreia do "BBB", fazendo até matérias no "Fantástico" para explicar do que se tratava um reality show. "Casa dos Artistas" chegou a vencer o dominical na audiência.
"Foi um caos na Globo. Milhões de reuniões, o que fazer, de quem foi a culpa, quem não descobriu isso antes. Uns cinco dias depois, chega uma liminar da Justiça para tirar do ar o programa [Casa dos Artistas], que eles consideravam que era um plágio. Tinha atrapalhado a audiência de 'O Clone'", conta Carelli.
"Casa dos Artistas" não saiu do ar, mas o "BBB 1" estreou logo um mês depois do fim do reality do SBT em um formato muito diferente do atual.
"A gente não sabia o que tinha para comer. Era o primeiro Big Brother. Eu ouvia no corredor passando os carrinhos, a câmera dando zoom, um cara falando. Era tudo um teste", revela Kleber Bambam, vencedor do primeiro "BBB".
Para conferir essas e outras histórias dos primórdios dos reality shows no Brasil, assista a "Realities: o Brasil na TV", que estreia nesta quarta (26) no YouTube de MOV.doc e de Splash. O segundo episódio, "Teste de Elenco", estreia dia 27, e o terceiro, "Pode isso, produção?", estreia na sexta, dia 28.