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Alice Wegmann: 'Abortar ou não deve ser uma decisão exclusivamente da mulher'

Mais E aí, Beleza?
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Marcela Cartolano

Colaboração para Universa, de São Paulo

27/07/2022 17h00

Quem ouve Alice Wegmann falar sobre autoestima, relacionamento e liberdade não pensa que a atriz tem apenas 26 anos. A maturidade com que discorre sobre esses e outros assuntos impressiona e a faz uma mulher ainda mais interessante do que o rótulo de uma das melhores atrizes de sua geração.

Em conversa com a maquiadora e colunista de Universa Fabi Gomes na estreia da sexta temporada do programa "E Aí, Beleza?", transmitido toda quarta-feira, às 17 horas, no UOL Play, Alice deixa transparecer sua personalidade intensa, guiada pela vontade de conhecer e se conectar às pessoas e por querer viver com a liberdade de ser quem é.

"Eu sou uma pessoa que me coloco. Se alguém reclama, eu falo 'olha, eu sou assim'. Sou atriz, vou ter par romântico. Se eu for para uma festa, eu vou dançar, porque amo dançar, eu vou rebolar a bunda, sim. A partir do momento que uma pessoa pede para eu não ser eu, para me comportar, não vale a pena."

Prestes a protagonizar a série " Rensga Hits!", no GloboPlay, em que viverá uma cantora sertaneja, a atriz relembra seu passado de atleta e a necessidade de prestar atenção no corpo desde cedo, fala sobre a importância de trazer à tona a questão dos transtornos alimentares, os quais enfrentou na adolescência, além da questão urgente das mulheres escolherem o que fazer com o próprio corpo. "Abortar ou não deve ser uma decisão exclusivamente da mulher. Isso é muito claro, cada um deveria fazer o que quiser da sua vida desde que não interfira na liberdade do outro."

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

UNIVERSA - Quem é Alice Wegmann?
Alice Wegmann - Uma mulher múltipla. Aos 3 anos, comecei a fazer ginástica olímpica. Acho que minha persona foi surgindo ali desde pequena por meio do esporte. Foram oito anos de ginástica olímpica, sete horas por dia de treino. Era puxado.

Alice Wegmann na época em que era atleta de ginástica artística Imagem: Arquivo pessoal

Você competia profissionalmente?
Sim, competia, era federada. Mas era uma paixão mesmo. Eu já tinha esse gosto artístico desde nova e tudo isso já vinha desse meu lado que de alguma forma eu já estava explorando. Cresci e me chamaram para fazer um teste para uma personagem de novela que era ginasta. Não passei, mas depois entrei em um curso de teatro.

Como foi a sua relação com beleza ao longo dos anos? Existia uma cobrança rígida em relação a isso?
A gente precisava se pesar toda semana. Existia essas questões e via muitas meninas preocupadas se estavam um pouco acima do peso que consideravam ideal na equipe. Mas as minhas questões principais foram na adolescência, quando comecei a ter peito. Eu tinha vontade de esconder, mas não conseguia esconder com sutiã de pano e tentava usar o bojo, mas falavam que eu usava enchimento. Tudo é um problema quando você é adolescente.

Você acha que tem a ver só com a adolescência ou com o fato de ser mulher?
Sobretudo com o fato de ser mulher. Estão sempre controlando os nossos corpos de qualquer maneira, o tempo todo. Mas, quando você é adolescente ainda está se descobrindo, tem a primeira menstruação, a primeira vez que você transa com alguém. São muitas primeiras vezes.

Você já falou sobre um distúrbio alimentar que teve na adolescência. Quando começou?
Já tive algumas fases, e por muito tempo tive a compulsão alimentar. Começou aos 15 anos, quando entrei para a TV e ao mesmo tempo tive a minha primeira transa. Mas, além disso, tive uma fase que tinha um tipo de bulimia, porque a bulimia não é só o "vomitar", tem o método compensatório de, por exemplo, comer um brigadeiro e correr na esteira para perder as calorias ingeridas. Descobri isso muito tempo depois. Eu fazia dieta restritiva por cinco dias e no fim de semana comia muito. Você não cura totalmente, ele pode voltar a qualquer hora.

Alice Wegmann, aos 9 anos, voando de parapente, no Rio de Janeiro Imagem: Arquivo pessoal

Pedimos para você separar uma foto que você tivesse se sentido gata e plena e você escolheu uma em que aparece voando de asa-delta, aos 9 anos. Como foi esse dia?
Eu tinha saído de um treino e fui à praia, estava com [os ginastas] Daniele Hypolito e Diego Hypolito e eles pediram para a minha mãe levá-los para pular de asa-delta. E eu disse que ia junto. Estava de chinelo e meu único medo era de perder esse chinelo, que era difícil de achar. Eu estava muito empoderada nessa foto, pleníssima e me lembro da sensação daquele silêncio lá em cima, de estar no céu, literalmente. Tenho essa memória tão viva em mim, que tive até medo de voar de asa-delta de novo e não ser uma experiência tão boa quanto essa.

O que é beleza para você?
Beleza, para mim, está muito ligada à liberdade. Acho que cada dia a gente pode querer uma coisa, escolher uma coisa. Acho que esse poder de escolha que a gente pode exercer sobre nós mesmas é a melhor liberdade que podemos ter.

Você tem algum exemplo de liberdade que possa ter conquistado que reflita na sua beleza?
Acho que sobretudo a minha liberdade financeira, pelo fato de eu ter trabalhado desde cedo. A liberdade financeira acaba trazendo muita coisa. Eu não dependo de ninguém e isso me traz um poder sobre mim mesma.

Eu entrevistei a Joice Berth para o programa e falamos sobre isso, que a liberdade empodera.
É muito interessante falar sobre o poder coletivo também, das mulheres em um geral, não só individual.

Alice Wegmann e Fabi Gomes no primeiro programa da nova temporada do "E ai, Beleza?" Imagem: Mariana Pekin/UOL

O que você sente do poder coletivo? É possível as mulheres não precisarem competir nem desenvolver uma relação de rivalidade? Sente que ainda tem muito chão pela frente?
Eu acho que tem muito chão. A gente não pode deixar de celebrar as conquistas que tivemos até aqui, que demoraram a chegar, mas acho que tem muita coisa a melhorarmos em todos os sentidos, principalmente na questão do corpo feminino, tanto dos homens quanto das mulheres sobre elas mesmas. Mas gosto de acreditar que é possível.

Como você acha que essas regras estipuladas pela sociedade refletem ainda hoje em dia entre as mulheres? Ainda tem muito chão pela frente?
Acho que sim. Eu acho que são sempre duas forças. Tem a força muito mais conservadora que quer limitar muito, sobretudo as mulheres. E tem a força da liberdade, que é o canal que eu acredito para a gente viver uma vida mais harmônica com nós mesmas e com o mundo. O fato de podermos escolher o que queremos fazer com o nosso corpo, principalmente em situações mais extremas, como o aborto, deve ser uma decisão exclusivamente da mulher que está vivendo essa situação. Para mim, isso é muito claro, cada um deveria fazer o que quiser da vida desde que não interfira na liberdade do outro, desde que não violente a vida de alguém.

Estamos nessa onda poderosa de libertação, de aceitar cada vez mais as pessoas como elas são. Mas ao mesmo tempo, vejo esse conservadorismo muito forte na sociedade. E não à toa, há quatro anos elegemos o presidente Bolsonaro, que é um presidente conservadoríssimo. Tem muita coisa ainda para melhorar pela frente.

Como é sua relação com sexo hoje em dia?
Muito melhor do que era até um ano atrás. Cada ano que passa me sinto mais solta. Muita coisa se transformou, mas principalmente a coisa da aceitação, de entender meu corpo, de saber a mulher que sou, de me reconhecer, de amar loucamente e me apaixonar de verdade.

Você se entrega quando se apaixona?
Muito! Mas não me apaixono com frequência. Acho que fiquei uns dez anos sem me apaixonar do jeito que estou apaixonada agora pelo meu namorado [o produtor musical Dudu Borges].

Alice e o namorado, o produtor Dudu Borges Imagem: Reprodução Instagram @alicewegmann

Como vocês se conheceram?
Eu estava filmando "Rensga Hits!" [série ambientada no universo feminejo que estreia no GloboPlay em 4 de agosto] em Goiânia, e fazia uma cantora sertaneja. Eu nunca tinha cantado e fiquei duas semanas fazendo preparação vocal. Entrei tímida para gravar as músicas, parecia que estava completamente nua porque cantar é muito difícil, você fica muito vulnerável. E logo de cara vi ele. Eu o conhecia de nome, mas olhei e pensei "caraca". Sabe quando você não consegue nem falar? Porque tinha um mistério, uma vontade de conhecer a pessoa.

Na terceira vez cantando eu olhava para ele e parecia que eu ia lamber o microfone (risos). Ao invés de ficar tímida, me joguei e falei: "Quero esse homem na minha vida". No último dia, mandei uma mensagem e a gente começou a conversar. Ele me mandou a foto de uma pasta que eu tinha esquecido no estúdio e falei: "Foi de propósito para te ver de novo". A gente ficou na última noite e estamos juntos há meses.

Me chama a atenção sua confiança e da sua relação com sexo, como você se posiciona.
Engraçado, meu inconsciente sempre me fez ficar tímida, era quase como se eu infantilizasse um pouco. Eu não conseguia assumir essa postura de "vamos?" Acho que deu um virote na minha vida. Hoje me sinto muito mais dona de meus desejos, de assumi-los.

Alice Wegmann mostra os produtos de maquiagem que não saem da sua nècessaire Imagem: Mariana Pekin/UOL

Você é monogâmica?
Temos osnossos acordos, mas não tem desejo fora. Quando penso, eu penso nele. Relacionamento é uma coisa de diálogo, toda semana ele vai se transformando e a gente está sujeito a tudo o tempo a todo, seja monogâmica ou não. Estamos muito apaixonados, sou muito feliz no meu relacionamento e quero preservar isso o máximo que puder.

Você fica com menina também? Já ficou?
Não fico. Eu sou uma pessoa aberta e pode ser que isso aconteça a qualquer momento, não tenho medo de me apaixonar por uma mulher. Mas ainda não aconteceu.

Vamos para um bate-bola:

Política para você é?
É tudo! Tudo é político!

Um desejo incontrolável?
Chocolate. Eu vejo chocolate e eu quero comer. Eu amo.

Seu brinquedo sexual favorito?
O bullet pra mim é tudo, está na minha bolsa inclusive hoje, carrego ele para todo lugar.

Pior coisa que pode acontecer no sexo?
Acho que machucar. Eu já passei por uma situação quando era nova, que estava me machucando e não conseguia falar para a outra pessoa.

Você tem medo de morrer?
Eu tenho medo de não envelhecer, de não ter tempo. Eu quero ter tempo para fazer tudo que eu quero fazer.

Você tem medo de viver?
Eu me jogo de cara em quase tudo. Tenho medo de viver uma vida que eu não quero. Sou aquela pessoa que vai tentar sobreviver.

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