Miá Mello fala sobre tesão no casamento: 'É com meu marido que eu fantasio'
O passar dos anos faz com que as mulheres se sintam mais bonitas? Se antes Miá Mello jurava que esse papo era furado, aos 41 ela tem certeza de que é real. Para a atriz, a maturidade foi o ingrediente que faltava para alcançar o que chama de "auge da beleza", que só foi atingido graças a uma boa dose de autoestima —e de gentileza consigo mesma, uma qualidade que ela garante ser difícil de colocar em prática.
Miá é conhecida pelo jeito "sincerona" e, no quarto episódio de "E Aí, Beleza —transmitido toda quarta-feira, às 17h, no UOL Play— não foi diferente. Em conversa com a maquiadora e colunista de Universa Fabi Gomes, garante que não se imagina vivendo um relacionamento aberto e considera um privilégio sentir tesão há 11 anos pela mesma pessoa, o marido Lucas Melo.
Quando o assunto é carreira, Miá confessa que não gosta de ser chamada apenas de humorista e que já entrou em crise por causa disso. "Eu faço outras coisas também. Na televisão, estava sempre indo [para os trabalhos de comédia], mas remando para uma direção contrária, onde pudesse fazer coisas diferentes, com mais dramaticidade."
Em cartaz com a peça "Mãe Fora da Caixa", no Teatro das Artes, em São Paulo, a atriz relembra ainda a felicidade de reencontrar o público após o período mais crítico da pandemia e conta alguns dos perrengues que já passou com a filha Nina, de 13 anos e com o caçula Antonio, de 5 anos.
Confira o bate papo:
UNIVERSA - Quem é Miá Mello na fila do pão?
MIÁ MELLO - Alguém que tenta se descobrir o tempo inteiro, que tenta fazer o melhor dentro do possível. Uma pessoa que tenta ser mais gentil com ela mesma -- e esse é um desafio bem tenso nessa fase da minha vida. Uma vez, li uma frase perfeita: "Dentro de mim existe um chefe abusador e eu sou a empregada abusada". Sou assim, muito rígida comigo. Ao mesmo tempo, posso dizer que estou em eterna mutação. De que adianta a gente ficar parado? Não só na vida pessoal, mas profissional também. De repente sou a borboleta na fila do pão, a lagarta ou a borboleta eterna.
Na escola, você era a garota do fundão?
Eu era do fundão, mas nunca faltei com respeito com os professores. Nunca passava aquele limite final. O slogan de quando minha mãe era chamada era esse: "Nossa, ela é muito legal, mas não para um minuto". Eu não parava. Fala, anda, causa e vai lá atrás, faz piada, cria coreografia. Sempre quis fazer graça meio que usando a escola e os meus amigos de plateia.
Pedimos para você separar uma foto em que se sentisse incrível. Por que escolheu essa?
Eu amo essa foto. Consigo ver nitidamente como eu estou feliz e realizada. Ela foi tirada na reestreia da temporada de "Mãe Fora da Caixa", peça que eu faço aqui em São Paulo e que está em cartaz agora. A peça era para ter ficado um ano inteiro em cartaz, mas a gente fez cerca de dois meses e meio. Aí a pandemia veio, fechamos tudo. A foto é do primeiro dia [depois de retornar]. Quando eu olho para ela, vejo a volta, as pessoas, o público, a esperança.
Nela, você parece à vontade no próprio corpo. Sente isso sempre?
Nossa, nem sempre. Principalmente na vida profissional: muitas vezes você faz personagens, mas não está tão confortável. Ali foi uma como uma comunhão. Encontrei uma personagem com uma história que não é a minha, mas poderia ser. Por isso estou 100% confortável, à vontade, me sentindo plena. Mas, de uma forma geral, acho que eu tenho um corpo muito disponível. Sou feliz e agradecida com ele -- e nisso existe uma boa dose de genética também.
Antes, quando eu via pessoas na casa dos 40 anos dizendo "me acho mais bonita hoje", eu duvidava. Tinha uma sensação de que era balela. E, hoje, juro por Deus, eu me sinto muito mais bonita. Acho que eu estou no auge.
O que é beleza para você?
Por exemplo, estou em uma fase em que acho a minha pele boa quando está natural. Isso é beleza: você acordar e estar se sentindo bonita, aceitar as suas coisas. Não é fácil, mas acontece quando de fato você está bem com seu corpo. Não é só aquele papo de "sinta-se bonita", é uma comunhão de coisas. É nítido que a beleza é o que está fora, mas ela vem de dentro. Eu sou uma apreciadora da beleza. Inclusive, costumo achar as mulheres bem mais bonitas do que os homens. É muito difícil eu parar e pensar: "Nossa, que homem bonito".
Você está casada há quanto tempo? É uma relação monogâmica?
Estou com meu marido há 11 anos. A relação é supermonogâmica. Imagina? Não tem condição. Como é que administra? [risos]. Não tenho maturidade para administrar muitas coisas emocionais. E sou tão feliz e satisfeita. Mas acho que tenho um privilégio, que é achar o meu marido um tesão, maravilhoso e ser apaixonada por ele. É com ele que eu fantasio.
Há tanto tempo juntos, como vocês fazem? Depois que as crianças nascem...
Não tem dica, mas isso das crianças é verdade. Na peça, minha personagem fala sobre sexo depois da maternidade e eu costumo dar uma pausa para brincar com a plateia: "Acho engraçado que a autora coloca uma vez por semana como sendo pouco".
Se fosse uma vez por semana estava maravilhoso. É quando dá. Mas aí quando dá, é uma coisa com qualidade, com intensidade e os dois estão satisfeitos com a dinâmica. Não tem fórmula, não tem número, não tem vezes por semana, o que é o certo ou o errado. Existe o que funciona para os dois. Somos parceiros e nos divertimos muito juntos. Isso é um privilégio. São poucas pessoas que conquistam isso na vida"
Você prefere ser chamada de atriz ou humorista?
De atriz, com certeza. Eu já fiquei em crise de ser só humorista, porque eu faço outras coisas. Na televisão existe esse estigma: quando você dá certo em uma coisa, começa a fazer muitos trabalhos parecidos. Um convite puxa o outro. Então, desde o começo, tentei remar contra essa maré. Eu ia, mas também remava para uma direção contrária, na qual pudesse fazer coisas diferentes, com mais dramaticidade.
O humor, na minha opinião, é uma das coisas mais difíceis de serem feitas. É uma ferramenta extremamente democrática porque consegue atrair muita gente e falar sobre assuntos que seriam espinhosos, chatos. Resumindo, eu queria fazer muitas coisas, de tudo. Tanto que as minhas musas da vida (Regina Casé, Andréa Beltrão, Denise Fraga) são mulheres que transitam tanto no humor quanto no drama.
É clichê mas a gente precisa perguntar: você acha que existe limite pro humor?
Eu acho que tem. Tem coisa que não dá pra brincar. Escuto muito hoje em dia ?é bobagem falar disso?, mas a gente precisa fazer coisas bem radicais, para ver resultados no futuro. Minorias, piadas raciais, isso não dá e parte da gente. Às vezes você está acostumado a usar uma palavra e entendeu que não é para usar: tudo bem se corrigir. Direto, se eu falo alguma coisa que eu acho que não está legal, eu corrijo na frente das pessoas, até pra ficar marcado que não é mais pra fazer aquilo.
Como surgiu a ideia da peça?
Ela foi idealizada pelo Pablo Sanábio [ator e roterista], que também é produtor de teatro. Na época, meu filho estava com 2 anos, a Nina com 10. Meu marido tinha sido transferido para São Paulo e eu estava com os dois no Rio, sozinha. Ele só voltava nos finais de semana. A professora da creche falava que as segundas-feiras eram difíceis para o Antônio e eu quase chorava dizendo que eram pra mim também. Ou seja, barra pesada. Quando ele me procurou, me veio a sensação de que a única coisa da qual eu poderia falar naquele momento era sobre maternidade.
Veio de encontro ao que eu estava vivendo — e eu estava procurando alguma coisa que me movesse. Muitas vezes a minha terapeuta me pergunta: 'O que você quer?'. Uma frase tão simples e tão difícil. Você acha que sabe, mas na hora de falar, gagueja. Queria um projeto que mexesse comigo. No final, a peça foi muito importante para mim como mãe, porque fiz um processo de pesquisa, de cura, de reflexão, de me aceitar, me transformar. Também foi um divisor de águas na minha carreira.
Agora é vamos para um bate-bola. O que você espera para o Brasil em 2022?
Estou na expectativa para as eleições. Acho que vai ser um momento muito difícil. Aliás, já está sendo. Tenho fé de que esse governo vai cair. Não é possível que a gente siga com um governo tão difícil e sub-humano. Quando outro assumir, também vai ser necessário cobrar e ficar em cima, porque a política do nosso país é muito precária, tem defeitos e problemas. Mas ainda estamos antes disso. Estamos vivendo coisas muito duras, dolorosas, falta de empatia, tragédias. Acho que a gente vai sair disso, tenho que ter esperanças.
Uma piada de tiazona que você adora contar?
É horrível. A moça sempre ia no médico e ela falava: "Moço, acho que eu tô grávida" e ele respondia: "Não, são gases". Muitos anos depois, o doutor passou no parquinho e disse: "Ei, tudo bem? Quanto tempo que não te vejo". Ela respondeu: "Olha, esse aqui é meu filho. Mas pra você é um peido vestido de marinheiro" [risos].
Um tipo de humor que você não acha a menor graça?
Aqueles que mexem com minorias ou muito escatológicos.
Uma situação constrangedora como mãe?
A cabeça da minha filha estava cheia de feridinhas na cabeça e fui passar um remédio. Tinha que esfregar no couro cabeludo para amolecer as casquinhas. Enquanto eu passava, senti um cheiro de mel, que era muito parecido com um produto veterinário que uso para estimular o cachorro a fazer xixi no lugar certo. Quando bati o olho, vi que os dois tinham a mesma embalagem: um potinho branco com a tampa laranja. Fiquei em pânico, pedi perdão para ela, coloquei no banho e não sabia nem o que fazer. No final deu tudo certo e ela até sarou.