'Não existe modelo sem complexo com o próprio corpo', diz Ellen Milgrau
Quem joga o nome de Ellen Milgrau no Google pela primeira vez se surpreende. A modelo, da zona leste de São Paulo, virou notícia após criar um projeto em que ajuda pessoas com depressão a limparem e colocarem em ordem suas casas. No TikTok, um dos vídeos em que mostra o antes e depois das faxinas alcançou mais de 10 milhões de visualizações.
Mas, apesar da importância do projeto, essa é só uma das muitas curiosidades que envolvem seu nome. Começando pelo "Milgrau", que veio da personalidade rebelde, passando pela carreira internacional na França e na Itália e chegando até a porca de estimação que ela criou durante um tempo dentro de casa: Ellen é uma caixinha de surpresas.
Neste episódio da sexta temporada do "E Aí, Beleza?" —que vai ao ar toda quarta-feira, às 17h, no UOL Play —a modelo fala sobre esses e outros assuntos, incluindo as pressões estéticas da profissão. "Não existe, que eu conheça, uma modelo que não seja complexada com o próprio corpo", ela garante em conversa com a maquiadora e colunista de Universa Fabi Gomes.
No seu ponto de vista, o universo da moda continua patinando quando o assunto é inclusão. "Quando a Rihanna faz um desfile com vários corpos, de vários tipos, começam a querer quebrar o padrão da extrema magreza. Mas se você analisar as tendências, está tudo voltando. As Kardashians, por exemplo, são todas magérrimas e influenciam o mundo todo", avalia.
Leia a seguir os principais momentos da conversa:
De onde vem esse 'Milgrau'?
Eu era muito revoltada e minha agência não concordava muito com essa postura. Então eu disse que ia desistir de tudo porque 'eu sou milgrau'. Assumi Ellen Milgrau e o nome pegou. Acabei mudando de agência e aí o dono disse 'vai ficar com assim mesmo, gostei, bora' e ficou.
A profissão de modelo afetou a sua autoestima de alguma maneira?
Destruiu minha mente, porque você nunca está perfeita para as pessoas, para os agentes. Ou você não está com a pele boa, ou seu cabelo não está com um corte legal. Ou você está magra demais ou acima da medida. Nunca tá bem. Desde pequena, já está sendo analisada. Isso mexe muito com a nossa cabeça. Não existe, que eu conheça, uma modelo que não seja complexada com o próprio corpo. Inclusive, fiz um trabalho esses dias com uma modelo f***, Victoria's Secret. As fotos eram mais peladas. Eu falei: 'Caraca, bicho, que corpão'. E ela ficou se escondendo, toda insegura.
Você acha que a moda vem mudando, se tornando mais inclusiva?
Posso ser sincera? Vem mudando, mas muito sutilmente. Ainda está engrenando, a introdução está sendo lenta. Quando galera vê lá fora uma Rihanna que faz um desfile com vários tipos de corpos, começa a querer quebrar esse padrão de extrema magreza e etc. Mas, pelo que eu vejo das tendências, está voltando tudo de novo. As Kardashians, por exemplo, são todas magérrimas e acabam influenciando todo mundo. Ao mesmo tempo que você dá alguns passos para frente, você retrocede.
O que é beleza para você?
Hoje em dia, para mim, é se sentir bem. A beleza vem de um processo interno. Então, se não estou bem psicologicamente, me sinto horrorosa. Primeiro tenho que estar bem na questão mental, para então começar a ver beleza física nas coisas.
Como é esse projeto de faxinar a casa de pessoas que estão com depressão e problemas mais sérios?
Eu tenho esse projeto no TikTok. Um dos meus amigos tem depressão, a casa dele estava um caos há muito tempo, desde o ano passado. Tinha comida estragada, sujeira de cachorro, roupa sem lavar. Ele estava usando roupas sujas, a casa já com um cheiro estranho, tudo muito sujo. Até a cor dele estava diferente, como se não tivesse vida. Um dia ele disse que estava precisando de ajuda. Aí eu falei com outra amiga, Lua, e surgiu a ideia de gravar.
Depois que postei, começaram a chegar pedidos para mim de outras pessoas pedindo ajuda. Eu falei: 'Vou engatar nessa'. É uma coisa que gosto de fazer, me sinto útil. Pode parecer clichê, mas é muito gostoso quando você vê a diferença do antes, quando chegamos na casa, e do depois, quando entregamos a casa. O semblante e a energia da pessoa mudam.
Como surgiu essa imagem "debochada" das redes sociais? De onde vem o deboche?
Acho que é da minha família, da criação, da Zona Leste.
Você já pensou que isso poderia te prejudicar?
Me prejudicou muito. Clientes não gostam das modelos que se posicionam, que falam muito. E eu sempre falei muito e sou de tirar satisfação mesmo. Mas a culpa é do meu pai, que dizia para eu não levar desaforo para casa.
Uma vez, tive que entrar em um sapato número 35 para um desfile. Meu pé estava quase necrosando porque eu calço 38. Liguei para casa chorando e meu pai foi logo dizendo que não era pra levar desaforo para casa, tinha que falar mesmo. Aprendi com ele esse jeito meio revoltada de ser, mas isso me prejudicou muito. Hoje em dia eu me contenho, faço terapia para não ser uma pessoa compulsiva —porque é na compulsão que você solta tudo isso. Mas hoje estou medicada.
Quando você passou a tomar medicação?
Eu tinha voltado [de Milão, na Itália] para o Brasil, larguei tudo porque levei o pé na bunda de um boy. Ele acabou com a minha vida, me desestruturou inteira. Gastei todo o dinheiro que tinha feito lá fora com ele. Voltei com uma mão na frente e outra atrás, perdida e sem saber o que fazer. Entrei em um buraco total. Perdi 7 kg em uma semana, fiquei muito mal e, graças a Deus, tive amigos que perceberam que eu não estava bem, porque não era normal não levantar nem para tomar banho.
Meus pais eram pessoas mais simples, eles não tinham o discernimento de notar que o problema era sério. Eles falavam que era 'falta de trabalhar e lavar uma louça'. Só que é um fardo, você não consegue sair daquela situação. Fui a uma consulta com psiquiatra para conversar e ele me diagnosticou com depressão. Desde então faço tratamento: tomo remédio controlado e terapia. E se fico sem remédio, é muito louco, porque eu caio em um buraco de novo.
O que quer dizer caçamba fashion?
Na verdade, era meio que um protesto audiovisual com a moda. Eu tinha uma ligação fortíssima com caçamba. Não podia ver uma caçamba que já queria entrar dentro dela. No carnaval eu entrava e dançava. Era tudo pra mim, tipo a moda. O que é a moda? Para muita gente é só usar coisa de grife e arrasar, mas você não precisa ser milionário para estar na moda, no fashion.
É verdade que você tinha uma porca?
Eu comentei com uma amiga que queria um gato. Ela disse: 'Por que você não pega uma porca? Um mini porco, não cresce'. Achei a ideia genial. Procurei no Google, achei uma página no Facebook, fui lá conhecer os porcos. Mas assim, passaram-se oito meses e a porca estava pesando 50 kg. Eu gastava muito dinheiro com ela. É um porco, come muito e tem muita energia. Então um boy virou pra mim e falou 'Você gasta muito dinheiro. Por que não me dá? Você pode conhecer o lugar, ela vai ter um cuidado extremamente incrível, ser bem assistida'. E assim foi. Hoje ela tem veterinário, continua fazendo natação, tem esteira. Ela é ativa.
'O mundo da moda é tóxico'
Ellen Milgrau respondeu a um bate-bola:
Qual setor da sua vida ainda precisa de desconstrução?
O estresse. Eu me estresso muito fácil, explodo e acabo com tudo. Preciso desconstruir essa coisa do estresse e do 'agora'.
A sua característica mais irritante?
Ficar no celular. Eu fico muito tempo. Às vezes as pessoas falam comigo e eu lá, olhando para a tela.
O lugar mais inusitado onde você já transou?
Uma pedreira.
O mundo da moda é?
Tóxico.
Uma música que te inspire?
Eu acho que Dua Lipa. Dua Lipa é bem feliz.
Cut crease: saiba como deixar o côncavo marcado
Questionada por Fabi Gomes, Ellen respondeu que tem vontade de aprender a fazer cut crease, a técnica de maquiagem para os olhos que deixa o côncavo bem marcado. Veja a seguir o tutorial do quadro "Make Sem Drama".
Você vai precisar de:
. Pó compacto
. Lápis marrom escuro ou preto
. Cotonetes
. Demaquilante
. Sombra preta
. Hidratante labial
. Máscara de cílios
. Pinceis do tipo chanfrado e fofinho
Agora veja o passo a passo:
. Comece passando pó compacto na região superior dos olhos, para tirar a oleosidade. Faça isso com um pincel fofinho.
. Usando um lápis de olho macio, preto ou marrom, comece a fazer o traço pelo canto interno do olho e acompanhe a curvatura do côncavo até chegar do outro lado.
. Depois, use um pincel chanfrado para percorrer o traço, esfumando levemente.
. Com o auxílio de um cotonete, embebido em demaquilante, corrija as imperfeições.
. Com o pincel chanfrado, aplique uma camada de sombra preta por cima do traço.
. Usando o lápis de olho, faça um traço na parte de baixo do olho, junto à raiz dos cílios inferiores e esfume com o pincel chanfrado.
. Use o cotonete embebido em demaquilante para retirar o excesso do pó que foi passado anteriormente, na região da pálpebra.
. Aplique uma camada generosa de máscara de cílios.
. Por fim, use um hidratante labial ou gloss para preencher a pálpebra e gerar um efeito de "brilho molhado".
Batom vermelho nunca falta: o que tem na nécessaire de Ellen Milgrau?
A modelo explica que não gosta de usar bolsas grandes, por isso precisa comprar os produtos com as menores embalagens, para caberem na sua nécessaire vermelha. "Mas aqui tem tudo o que eu preciso, consigo me virar perfeitamente", garante. Seus itens essenciais são: corretivo, para camuflar olheiras e espinhas, e uma água de beleza, para revitalizar e dar "um glow" na pele. Ela também carrega pó translúcido, lip tint, pincéis pequenos, máscara de cílios e balm.
Outro item que não pode faltar é o batom vermelho. "É para caso você queira dar uma ousada. Tipo: vou sair para tomar um drink e não tenho nada", conta. O que ela não usa no dia a dia? Base. "Faço uma skincare dedicada, gosto de deixar a pele respirar", diz.