Olivier Anquier: 'Muitas vezes não me enxergo como alguém de 62 anos'
O que leva um chef de cozinha francês a sair de seu país de origem e se mudar para o Brasil logo no início da carreira? Para Olivier Anquier, que chegou no Rio de Janeiro aos 20 anos, a resposta não está nas praias, nem nas paisagens da cidade —mas sim em um "match" instantâneo entre a sua personalidade e o jeito brasileiro de encarar a vida.
O chef foi o convidado do programa "E Aí Beleza", que vai ao ar às quartas-feiras, às 17h, no UOL Play. Em conversa com a maquiadora e colunista de Universa Fabi Gomes, ele explica que considera importante manter corpo e mente ativos e que, por isso, está sempre envolvido em atividades "improváveis", que vão desde participar de competições de rali de moto até aprender a tocar trompete.
Seus gostos fazem com que, muitas vezes, ele não se identifique com o estereótipo da faixa etária a qual pertence. "Aos 62 anos, não consigo me enxergar da mesma forma que muita gente da minha idade", confessa. Isso acontece pela sua energia. "Vivo intensamente. Sempre fui assim e quero continuar dessa forma enquanto estiver consciente", garante.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Quem é Olivier Anquier na fila do pão?
Eu vim para o Brasil passar um mês de férias em 1979. Tinha 20 anos, mas acabei esticando. De um mês para dois, de dois meses para três. Em determinado momento, me olhei no espelho e pensei: 'Parece que quero ficar'. E você vai me perguntar o porquê. Poderia ter sido a praia, as mulheres. Poderia ter sido a exuberância da natureza que tem no Rio de Janeiro, mas não foi isso. Foi justamente o brasileiro. O jeito brasileiro de encarar a vida.
Quando você era pequeno, já tinha na cabeça uma ideia do que queria ser?
Quando moleque queria ser piloto de avião. E qual a chance de eu ter virado? Nenhuma. Tanto é que sou padeiro. O ato de cozinhar está presente na minha vida desde pequeno. Na família do meu pai, temos uma filosofia. A filosofia da busca dos prazeres e das emoções através de tudo que envolva a culinária.
Lembro a primeira vez em que meu pai, muito decepcionado com meus resultados escolares, perguntou o que eu queria fazer da vida. Olhei para ele e respondi que queria ser cozinheiro. Então, ele me mandou para cozinha, a fim de preparar alguma coisa. Ali, peguei um livro e vi a fotografia de um omelette norvégienne [prato doce, que também é conhecido como Baked Alaska], falei 'vou fazer isso', mas confesso que não ficou espetacular [risos].
E foi na cozinha que você encontrou sua verdadeira paixão?
Foi. Conquistei minha independência muito cedo, com 16 anos. Peguei meu destino, coloquei na palma da mão e falei: 'Daqui pra frente, vou cuidar da minha vida'. A partir daí, cozinhar virou uma ferramenta mágica, que me fazia diferente. A cozinha me dava uma atenção particular. Fazia com que eu fosse diferente dentro de um grupo. Foi a partir daí que comecei a entender minha capacidade de proporcionar prazer às pessoas.
Pedimos para você separar uma foto na qual estivesse se sentindo bonito e poderoso. Por que escolheu essa imagem?
Essa é de quando comecei a ter o cabelo grisalho. Eu não me acho desagradável visualmente [risos]. Ser agradável não prejudica, seria mentira pensar diferente. Agora, tem que saber administrar. Ter qualidade de vida pode levar você para uma outra direção. Aos 62 anos, reconheço que não consigo me enxergar da mesma forma que muitas pessoas da minha idade. Provavelmente, isso acontece pela qualidade de vida. Uso essa expressão para falar sobre a minha energia e sobre a maneira que eu vivo. Vivo muito intensamente. Sempre fui assim e quero sempre dessa forma, enquanto estiver consciente.
O que é beleza para Olivier Anquier?
A beleza são os olhos dos outros. Agora, o bem-estar é uma coisa muito pessoal. O bem-estar se traduz por uma tranquilidade interna.
A convivência com a sua mulher e com a sua filha mudou a sua percepção sobre o racismo?
Minha primeira mulher era judia, meus dois primeiros filhos são judeus. A Adriana é negra e brasileira. 'Ah, você gosta mais de brasileiros, você gosta mais de negro...' Não, eu gosto de pessoas. De mulheres, com certeza.
Você nunca ficou com homem?
Ainda não. Não quer dizer que eu nunca ficaria, mas não. O que gosto é a pessoa. Antes de chegar na parte da estética, daquilo que se projeta visualmente, existe a pessoa e a alma. E, para mim, a Adriana é uma pessoa muito especial e única.
E você já acompanhou alguma situação de racismo pela qual elas tenham passado?
Sim, claro. Na França, no Brasil, mas é coisa rara. Eu posso falar isso por justamente viver com uma mulher negra e ter uma filha negra, não é sistêmico. Te garanto por experiência de vida. Foram raríssimas vezes. Quando aconteceu foi violento e veio de pessoas que a gente nem imaginava. Mas é uma vez aqui e outra vez ali, em 15 anos. Então, a gente não pode traduzir isso como se fosse uma coisa constante, presente em todos os seres humanos que a gente cruza na vida. Isso é mentira.
Você é um homem branco, cis, hétero e tem o passaporte europeu. Ainda assim, já foi vítima de xenofobia?
Sim, mas também é raríssimo, de pessoas mal resolvidas. A partir do momento em que você constrói qualquer coisa, passa a incomodar quem não constrói. Eu tenho pena das pessoas que possam me dizer 'volta para a França' ou algo do tipo. Eu sei o que eu fiz, sei o que o Brasil me deu, o quanto sou grato ao Brasil e ao brasileiro.
Que lição ficou da pandemia de covid-19?
Primeiro, tive a oportunidade de ficar quatro meses em um sítio que construí, onde apresentei meus programas durante 20 anos. Tenho consciência de que fui um privilegiado. Mas nesse terror que nós vivemos, perdemos algumas plumas. As minhas tinham cheiro de pão. Fechei duas padarias em São Paulo. Doeu. Não no aspecto material, mas o fato de perder algo que construí.
Quantos funcionários você tinha?
Eu tive que vender a nossa casa para pagar a conta. Vendi a casa, isso dói. Por isso entrei em depressão? Não. Nem a Adriana entrou em depressão, nem a Olívia. Vira a página, fecha um capítulo e inicia um novo capítulo.
O que você faz para se manter são?
Sempre fico trabalhando a cabeça. Parece até ridículo, tenho 62 anos e faz um ano que aprendi a tocar trompete. Eu toco todo dia, 7h da manhã. Estou sempre aceso. E fisicamente, faço coisas improváveis, das quais gosto. Por exemplo, faço rali de moto. Tenho dificuldade de ficar dentro de uma academia. Você não vai me ver em uma nunca. Eventualmente, na piscina, mas só. Eu gosto da vida, gosto de morder a vida.
Arroz doce e bala de goma
Agora um bate-bola. Uma memória gastronômica afetiva?
Arroz doce do meu pai.
O que ninguém imagina que o Olivier Anquier come?
Aquelas balas de gomas coloridas e bem industrializadas.
Um desejo para o Brasil em 2022?
Esperança.
Nem protetor solar? Saiba o que tem na nécessaire de Olivier
Embora tenha sido convidado a trazer sua nécessaire para a gravação, o chef de cozinha preferiu deixar a bolsa em casa e explicou o motivo. "Eu não uso nada. Só pasta de dente sabor menta, fio dental, escova de dente, barbeador, sabonete e um desodorante simples", confessou. Fabi questionou se nem protetor solar entra na sua lista e ele respondeu que não, que só usa para esquiar, a fim de não se queimar.
"Maquiagem invisível": aprenda os truques das francesas
Inspirada em Olivier, Fabi Gomes ensinou a fazer uma maquiagem tão leve que fica até difícil identificar quais produtos foram usados. Veja o resumo a seguir.
Você vai precisar de:
. Uma colher de café
. Iluminador cremoso
. Base com protetor solar ou de cobertura leve
. Corretivo
. Cotonete
. Pó compacto
. Pincel fofinho de calibre fino
. Blush líquido, cremoso ou batom rosado
. Curvex
. Rímel
. Batom de cor de forte
Confira o passo a passo:
. Usando o dedo anelar, aplique ¼ da colher (café) de iluminador cremoso nos planos mais altos da maçã do rosto, na ponte do nariz e no centro queixo.
. Também com os dedos, aplique uma colher (café) rasa de base de cobertura leve. Comece no centro do rosto, expandindo para as laterais.
. Use um pincel para aplicar três pontinhos de corretivo ao redor de cada olho. Use o anelar para dar batidinhas, depositando o produto.
. Molhe um cotonete em um pouquinho de saliva e passe rente à raiz dos cílios, para tirar o excesso de produto.
. Com um pincel fofinho, aplique pó compacto ao redor do nariz, no centro da testa, entre as sobrancelhas e por cima do corretivo.
. Escolha um blush que se aproxime do seu rubor natural e aplique com os dedos na maçã do rosto. Espalhe até se fundir com a base.
. Use um curvex para arrebitar os cílios. Depois, passe uma quantidade pequena de máscara nos cílios superiores e inferiores.
. Finalize aplicando um batom de cor forte direto da bala. Depois, usando um cotonete fino, esfume as laterais da boca.