Filme de ação é coisa de homem? 'The Old Guard' prova que não
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Uma semana após o lançamento de 'The Old Guard', a Netflix divulgou que o filme entrou para a lista dos dez mais vistos em toda a história da plataforma. No total, a produção estrelada por Charlize Theron alcançou 72 milhões de lares.
Por si só, esse já é um grande feito, mas 'The Old Guard' vai além porque prova como mulheres podem estrelar filmes de ação de todas as formas possíveis e inova na narrativa das grandes produções desse gênero.
Quebrando tudo
Charlize Theron é o nome mais conhecido do filme, mas outra mulher também fez história: a diretora Gina Prince-Bythewood. Ela quebrou duas barreiras de uma só vez.
Gina é a primeira mulher negra a dirigir um filme baseado numa história em quadrinhos. Ela também é a primeira mulher negra a entrar no seleto grupo de diretores que estão no Top 10 da Netflix. Com certeza, a diretora abriu caminho para todas as mulheres, principalmente as negras, que possuem pouco espaço na indústria cinematográfica.
Mulheres reais
'The Old Guard' apresenta uma grande contribuição às narrativas dos filmes de ação porque não sexualiza as personagens femininas. Se por um tempo pedíamos para que tivéssemos mulheres como protagonistas, hoje o pedido é outro: que essas mulheres não sejam colocadas como objeto de desejo do público masculino.
Filmes como Lucy, As Panteras, Tomb Raider, Mulher Maravilha, entre outros, apresentam mulheres fortes, mas que estão sempre belas, com a maquiagem em dia e um look sexy.
Você não precisa ser um especialista para perceber que não dá para moer alguém no soco estando um salto nos pés e um vestido apertado.
'The Old Guard' nos oferece uma cena impecável em que Andy (Charlize Theron) e Nile (Kiki Laybe) se enfrentam numa luta coreografada. É possível ver todo o potencial das duas, sem a necessidade de exaltar a sexualidade de ambas. Ali, são duas mulheres que sangram, se sujam, se superam e se ajudam quando necessário. E é assim a história de ambas até o final do filme.
Mudança de narrativas
Andy e Nile também apresentam uma nova forma de parceria entre uma mulher branca e uma mulher negra. Um dos estereótipos mais comuns do cinema é que numa relação desse tipo, a mulher branca seja sempre a protagonista e a negra apenas a amiga, conselheira ou uma engrenagem para o crescimento da outra.
Cada vez mais vemos a inclusão de personagens negros em produções audiovisuais, mas raramente os vemos representados da forma que a comunidade negra deseja. É difícil encontrar personagens negras poderosas.
A diretora Gina Prince-Bythewood conseguiu usar todo o talento de Charlize Theron, mas sem ofuscar o enorme potencial que Kiki Laybe tinha para mostrar. Na história, Andy e Nile se tornaram companheiras, mas Nile nunca cedeu o seu protagonismo. Ela lutou por ele e ganhou o respeito da veterana Andy, muitas vezes a desafiando. Uma não sobrepõe a outra.
Nova masculinidade
É comum associarem filmes de ação ao universo de homens héteros, mas até nisso há um rompimento em 'The Old Guard'. Já houve filmes baseados em histórias em quadrinhos que sugeriram que alguns personagens eram LGBTQ+, mas a intimidade deles nunca foi muito explorada.
No filme da Netflix, somos apresentados a Joe (Marwan Kenzari) e Nicky (Luca Marinelli), que vivem um relacionamento amoroso. Eles não são comicamente escandalosos, afeminados e não entram nos estereótipos rotineiramente usados pelo cinema.
Eles vivem uma relação interracial e a conexão que possuem os torna mais poderosos. Joe e Nicky ainda protagonizam uma das cenas mais lembradas pelos fãs.
Após serem capturados e jogados numa van, os guardas fazem piadas homofóbicas e tiram sarro da troca de carinhos entre eles. É aí que podemos assistir uma poderosa declaração de amor e o jogo começa a virar. Quando a porta da van é aberta, o casal está sorrindo e os guardas inconscientes e machucados.
Não foi necessário mostrar uma briga. A cena serve muito mais como reflexão sobre masculinidade tóxica e quebra de estereótipos negativos sobre homens gays. A forma como Joe e Nicky lutam é mostrada em outros momentos do filme.
Com 'The Old Guard', Gina Prince-Bythewood reinventa os filmes de ação para além da glorificação da violência. Ela reformula narrativas e oferece uma produção para um público que há muito tempo quer se ver nas telas.
Agora quero ver alguém me dizer que filme de ação não é coisa de mulher.
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