Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Gênesis acerta ao não esconder incesto na trama
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A versão bíblica dos primeiros humanos da Terra é cheia de contradições e costumes que escandalizam os cristãos de hoje. Por isso, contar a história de Gênesis, como faz a novela da Record, é sempre um grande desafio. Não só pelas tramas grandiosas, que exigem efeitos especiais, mas também pela abordagem de temas delicados e indigestos, como o incesto.
O leitor mais atento da Bíblia sabe como a formação familiar e a genealogia são importantes para o desenvolvimento das principais tramas. No livro de Gênesis, há capítulos inteiros dedicados ao registro da descendência de personagens fundamentais para o cristianismo. Dessa forma, com a família no centro, está a reprodução entre os primeiros humanos.
Incesto como ordem de Deus
Há maior tolerência para o incesto entre os descendentes de Adão e Eva. Como se tratava da primeira família da Terra, a única saída para os filhos do casal era a reprodução entre eles. É como se a prática tivesse sido uma ordem de Deus.
O mesmo dá para dizer sobre a família de Noé. Após a destruição em massa da humanidade, a única saída para os sobreviventes era se relacionar entre si. Novamente, o incesto pareceu um plano divino.
Relações evitáveis
Porém, há relações incestuosas que poderiam ser evitadas, como a de Semíramis e seu filho Ninrode. O relacionamento entre os dois foi o mais chocante e a novela não aliviou nas cenas entre o casal. O telespectador acompanhou uma mãe seduzindo o próprio filho, chegando ao ponto de engravidar dele.
Outra relação totalmente evitável é a de Abrão e Sarai. Ambos poderiam se envolver com pessoas de outras famílias, mas formaram um casal mesmo sendo irmãos. Na Bíblia, há poucas informações sobre o relacionamento anterior ao casamento deles, o único registro é que eram meio-irmãos.
Novela deu ênfase ao casal de meio-irmãos
A escolha dos autores de Gênesis foi dar ênfase ao desenvolvimento do casal. Para justificar a relação incestuosa, criaram uma trama em que Abrão e Sarai se apaixonam sem saber que eram irmãos e, em nome do amor, optam pelo casamento. A única oposição à união foi de Terá, pai do casal. E o motivo não era o incesto, e sim o fato de desejar que o filho se casasse com uma mulher de origem nobre.
Abrão e Sarai já envelheceram e Gênesis está em nova fase. O tempo passou, mas a reprodução segue sendo uma questão para o casal, já que ela não consegue engravidar. Com o tempo, eles deixaram de ser vistos como irmãos e agora representam muito mais um casal feliz, porém com dificuldades para terem um filho.
Record se posiciona sobre o tema
No site oficial da novela, há um posicionamento claro sobre o incesto. De acordo com o texto, a prática acontecia porque o homem se afastou de Deus e é pecado, já que é reprovado nas leis deixadas por Deus a Moisés.
Esse tipo de posicionamento deixa evidente a preocupação da Record em manter claro quais são seus princípios e doutrinas. Assim, enfatizam o que o telespectador deve pensar sobre as cenas exibidas.
Para além de um panfleto
Diante do posicionamento claro da emissora, vale elogiar a postura dos autores da novela ao optar por uma trama arriscada como essa. O incesto poderia ser esquecido ou tratado com menos importância, já que é um tabu para toda a sociedade.
Ao abordar o tema de maneira notória, Gênesis sinaliza que pode ser mais do que um panfleto doutrinador. Quando a novela apresenta histórias complexas e interessantes para acompanhar, quem ganha é o telespectador.
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