Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Assédio na Fazenda: 7 pontos para refletir sobre relação de Borel e Dayane
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Desde a madrugada do último sábado (18), a relação entre Nego do Borel e Dayane Mello tem sido um dos principais assuntos de A Fazenda 13. Embriagados após a primeira festa do programa, os dois estavam deitados quando o cantor tentou beijá-la algumas vezes e teve o pedido repetidamente negado, ainda que tenha ganhado um selinho. Ele também tentou abraçá-la e segurou o rosto dela, que ficou incômoda e tirou a mão dele.
A cena repercutiu bastante nas redes sociais. Muita gente apontou assédio na atitude de Nego do Borel e exigiu a expulsão dele do programa. Outras pessoas afirmaram que não houve assédio porque Dayane deu um selinho no cantor.
A própria modelo afirmou que Borel não passou do limite com ela. Porém, o irmão dela, Juliano Mello, deu entrevista para o UOL e quer que Dayane analise as cenas assim que deixar o programa. Ele considera que ela estava bêbada e, em alguns momentos, sem reação, além de não lembrar de muita coisa da festa. Juliano disse estar "impotente", mas não quer acusar e aguarda providências da Record.
O tema é complexo, delicado e envolve diversos outros debates também importantes. Por isso, resolvi tratar de alguns pontos nesta coluna.
Foi assédio?
Três especialistas no tema ouvidas pela reportagem do UOL consideram que as atitudes de Nego do Borel configuram assédio. Elas destacam fatores como a vulnerabilidade de Dayane no momento, pois estava alterada após a festa, a insistência do cantor após sucessivas negativas da modelo, o comportamento agressivo dele no contexto do ato e o histórico de acusações de violência doméstica contra o artista.
A compreensão não é individual
Mesmo com os indícios apontados, ainda há bastante dificuldade para compreender o que é assédio. Há diversos fatores que geram esse problema, e entre eles estão a falta de educação sexual e a ausência de debates de gênero no Brasil.
Essas lacunas acabam levando a outros equívocos, como a noção de assédio apenas do ponto de vista individual. Não é porque uma pessoa não se sentiu assediada que ela necessariamente não tenha sido.
Essa compreensão ocorre porque o tema é complexo e, em muitos casos, difícil de entender por causa da normalização que há na sociedade. Não é raro mulheres perceberem que foram assediadas dias, meses e até anos depois. Esse não é necessariamente o caso, mas também pode acontecer.
Tema não deve ser tratado como guerra de torcidas
Como tem sido cada vez mais comum em realities shows, as torcidas dos participantes têm sido bastante engajadas na defesa de seus preferidos. Porém, no caso de um debate sobre assédio, essa lógica é contraproducente e deve ser evitada.
É inviável tratar o tema como sendo uma disputa de narrativas entre fãs. É impossível ser justo dessa forma, tanto com Nego do Borel quanto com Dayane. As opiniões sempre ficam extremadas e, no final, não se tem uma verdadeira preocupação com os envolvidos.
Racismo se faz presente, mas não inviabiliza acusações
A equipe de Nego do Borel divulgou uma nota em que afirma que o cantor está sofrendo racismo estrutural dentro e fora do programa. De acordo com o texto, por ser uma pessoa negra, ele não tem o mesmo direito de errar que brancos e que sofre o massacre implacável que outros negros já sofreram em realities shows. O post também lembra que Dayane falou que não houve assédio por parte do artista.
É certo que na sociedade em que vivemos há racismo e também violência de gênero. Ambos são crimes e geram sérios danos às vítimas. Não se pode fazer com que uma coisa exclua a outra.
Por ser um homem negro, Borel é mais criticado e tem a imagem mais prejudicada do que brancos famosos envolvidos em acusações do tipo. Um dos estereótipos racistas que o envolve, e já foi citado por ele, é o que coloca o homem negro como violento e predador sexual. Esse pensamento existe e, por estar presente na cabeça das pessoas, é facilmente reproduzido.
Ainda assim, o racismo não invalida as acusações que o cantor tem sofrido. Assédio também é coisa séria e um crime a ser tratado com rigor e cuidado.
Edição e silêncio do programa não colaboram com debate
O programa que foi ao ar no sábado (18) exibiu as cenas da tentativa de Nego do Borel de beijar Dayane, mas de forma suave, com trilha sonora animadinha e sem tratar o ocorrido com a seriedade devida. Além disso, a edição omitiu os sucessivos "nãos" que a modelo falou para o cantor.
Três dias após o ocorrido, e com o debate ainda intenso nas redes sociais, A Fazenda segue sem fazer nenhum esclarecimento. Seria o caso de, ainda no sábado (20), falar sobre o assunto. Não é preciso tomar partido de nenhum dos envolvidos para abordar o tema. O público precisa estar dentro dessa conversa, mas foi tratado com desrespeito com esse silêncio.
Aos finais de semana, o programa que vai ao ar é gravado. Porém, situações excepcionais devem ter respostas no mesmo nível. O Big Brother Brasil tem dado aula nesse sentido ao levar temas densos debatidos pelo público para o programa sem fingir que os debates não existem. A escolha que A Fazenda fez até o momento desperdiça uma grande oportunidade de tratar o assunto e ajuda a normalizar as situações de assédio.
Culpar Galisteu não ajuda em nada
Adriane Galisteu não é responsável pelos atos de Nego do Borel, Dayane ou qualquer outro participante. Ir às redes da apresentadora acusá-la de ser conivente com a situação de assédio, como tem sido feito, é injusto e não colabora em nada com o debate. Ela não responde pela direção do programa.
Entretenimento prejudicado
Acompanhar o programa sabendo que há uma história de assédio mal resolvida atrapalha o entretenimento e gera uma experiência negativa para muitas pessoas, principalmente mulheres, que podem ter gatilhos e traumas relacionados ao assunto.
Tudo o que mais queremos é assistir A Fazenda e os demais realities shows pela diversão e bobajada que proporcionam. O formato também existe para esse fim. Entretanto, para que tenhamos entretenimento, é preciso resolver tudo o que não é entretenimento. A Record está nos devendo essa.
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