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Pantanal fracassa ao debater racismo na família de Tenório
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Tenório (Murilo Benício) tem se dividido entre duas famílias há anos. Porém, agora que os filhos de seu segundo casamento cresceram, surgiu um novo impasse em Pantanal. Para os garotos, eles e a mãe, Zuleica (Aline Borges), são preteridos porque são negros. A reclamação até faria sentido se tivéssemos acompanhado qualquer sinal de discriminação de Tenório durante a trama, mas essa história não foi contada.
A falta de conexão com o enredo de Pantanal atrapalha o entendimento do público sobre o que está sendo apresentado. Tenório é um ser humano execrável, mas a novela não o retratou como uma pessoa com falas ou comportamentos racistas. Não fica claro que ele prefere Maria Bruaca e Guta por serem brancas.
A situação fica ainda mais crítica porque Zuleica deixa claro que a percepção de que Tenório é racista não é dela, mas dos filhos. Quando Renato (Gabriel Santana) e Roberto (Cauê Santana) reclamam com o pai sobre o tema, Tenório fica em silêncio porque foi pego de surpresa. Não nega, não bate de frente, apenas ouve.
Debate sem sentido
Bruno Luperi, autor da novela, chegou a criar um grupo com esse núcleo para que pudessem sugerir alterações no texto em cenas sobre racismo e evitar qualquer tipo de ruído. Mas isso não foi o suficiente, afinal, o problema está na estrutura narrativa de Pantanal.
O texto pode ser perfeito, mas se não faz sentido para o público, não vai surtir efeito. Se a intenção era apresentar Tenório como um vilão racista, deu errado. Ele pareceu um cara minimamente equilibrado nessa situação. Em contrapartida, os filhos negros foram retratados como adolescentes com mania de perseguição por conta da raça.
Diferentes versões
Na primeira versão da Pantanal, Zuleica foi interpretada por Rosamaria Murtinho, uma atriz branca. A mudança de característica física dos atores do núcleo foi feita de modo intencional para o remake. Além de ser uma forma de adicionar atores negros ao elenco, seria uma oportunidade para debater racismo na novela.
Essa também foi uma forma de Bruno Luperi atualizar o texto de 30 anos atrás, feito pelo seu avô, Benedito Ruy Barbosa. Em entrevista à Cristina Padiglione, o autor tentou explicar as motivações de Tenório:
Largar uma família hoje não tem aquele peso que tinha 30 anos atrás. Precisava ter um motivo agora pelo qual o Tenório não assumiria a Zuleica, e nisso, pegando esse personagem que é o nosso antagonista, que flerta muito com o imoral, ele tem essa consciência escravagista muito forte dentro dele, de explorar o outro, de ser espertalhão, de dar o golpe, de manter os outros sob o seu jugo.
É interessante notar o processo entre o que um autor espera transmitir e o que o público recebe de fato. Por mais que haja boas intenções, fica evidente, mais uma vez, que a Globo precisa de autores negros para contar histórias negras. Enquanto tivermos apenas brancos nessa função, as tramas serão sempre as mesmas, e muitas vezes mal contadas.
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