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Aline Ramos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Pantanal' exagera em cenas de violência e ultrapassa limite do aceitável

Colunista do UOL

27/09/2022 04h00

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No capítulo de Pantanal exibido na última segunda-feira (26), alguns limites foram ultrapassados dentro do que é esperado em uma novela das 21h na TV aberta. O telespectador foi exposto a uma sequência de cenas violentas que não desceram bem para boa parte do público.

Tenório (Murilo Benício) levou Maria Bruaca (Isabel Teixeira) e Alcides (Juliano Cazarré) como reféns após flagrá-los juntos. Totalmente fora de si, buscava vingança e reparação de sua honra por conta da traição dos dois. Em longa sequência, o fazendeiro humilhou e agrediu inúmeras vezes a ex-esposa. Depois, o filme de terror continuou de portas fechadas, e ele torturou e estuprou o peão.

Gatilhos

É importante destacar que o personagem foi estuprado de forma não gráfica. Ou seja, não foi mostrado como isso aconteceu. A violência ficou implícita pelos diálogos. Porém, ainda que o ato em si não tenha sido exibido, as cenas que compuseram o momento são animalescas e incômodas. Alcides foi desumanizado, e o fato de ser homem não diminui a gravidade do ocorrido.

Em cenas mostradas na totalidade, Maria também foi vítima de repetidas agressões físicas e verbais de Tenório. A violência com ela desceu rasgando a garganta de quem assistiu. A atuação incrível de Isabel Teixeira tornou o momento ainda mais atormentador.

De uma vez, e sem qualquer tipo de aviso, Pantanal jogou gatilhos no colo das vítimas de violência doméstica e sexual. Para quê? Precisava de tanto?

Cuidados

É preciso bastante cuidado ao abordar esses tipos de violência em uma novela como Pantanal. A trama nunca foi pacata e já havia apresentado diversas situações violentas, mas que ficaram confortáveis por conta do universo de realismo fantástico em que está inserida.

Até o capítulo em questão, nenhuma cena de violência havia sido tão real e trazido tanta brutalidade. Essa ruptura abrupta de tom também pode ser vista como uma quebra de confiança com o público e a história que acompanhou até o momento. Se Pantanal fosse conhecida como uma novela de cenas tão fortes, ninguém seria pego desprevenido.

Como abordar violência?

A solução, obviamente, não é deixar de abordar qualquer tipo de violência nas tramas ficcionais, mas repensar como isso é feito. Fotografia, texto, cenário, trilha sonora, tempo, duração, tudo isso interfere no resultado final. Estupro e violência contra a mulher são assuntos delicados demais para serem usados como forma de chocar o público. Pantanal poderia ser muito mais.