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Mesmo com núcleo evangélico, 'Vai na Fé' passa longe de novelas da Record
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Quando a Globo anunciou que faria uma novela com um núcleo evangélico, muito se especulou sobre o desejo da emissora em conquistar o público da Record. Porém, "Vai na Fé" passa longe de ser semelhante às novelas da emissora de Edir Macedo.
Ter um núcleo evangélico não torna uma novela evangélica. Para que isso acontecesse, Vai na Fé teria que transformar seus personagens em ventríloquos de doutrinas de determinada religião. Não parece ser o caso após assistirmos o primeiro capítulo da nova trama das sete.
Em "Vai na Fé", os personagens fazem parte do mundo e da sociedade, como na vida real. Não são necessariamente melhores ou piores que o restante, mas possuem seus problemas e desafios como qualquer um. O culto e a igreja surgem como elementos de identificação e não como oportunidade de doutrinação.
Já em "Amor Sem Igual", novela de 2019 que está sendo reprisada pela Record, há um dualismo muito grande entre bem e mal. A protagonista, Poderosa, que começa a trama como garota de programa, come o pão que o diabo amassou para que, no final, se converta e case com o homem que a ajudou a encontrar a religião. Tudo de ruim que acontece com Poderosa é usado para esse fim, incluindo a violência contra a mulher.
"Vai na Fé" está só no começo e ainda tem muito chão pela frente, mas já sai na frente por fugir de doutrinação, estereótipos e preconceitos. Evangélicos não são um grupo uniforme e não merecem ser retratados dessa forma. Essa parece ser uma tarefa simples, mas é tão complicada quanto entender a pluralidade dessa comunidade no Brasil.
A Record, que poderia ter feito isso muito bem por ter autores de novelas evangélicos, caiu no erro de resumir o que é a experiência evangélica em uma única doutrina. Por isso, "Vai na Fé" tem um caminho aberto pela frente, basta aproveitar.
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