Surpresas, candidatos esnobados e o impacto dos SAG Awards no Oscar 2025
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Por: Ana Claudia Paixão - via Miscelana
Há muitos anos que a cerimônia do Oscar é uma noite tediosa onde já sabemos exatamente quem vai subir no palco e fingir surpresa. Pois em 2025, finalmente, está complexo de fazer apostas seguras e a noite do SAG Awards garantiu a cisão dos votos que só é bom mesmo para o público, tudo pode acontecer domingo que vem!
Porque pela primeira vez os "termômetros" só sinalizam estado febril e não febre? Porque em nenhuma das festas estão todos os indicados de verdade, implicando claramente a ausência de Walter Salles Jr. e Fernanda Torres, dois fortes candidatos por Ainda Estou Aqui e que foram esnobados nos prêmios do BAFTA e sindicatos quando Hollywood ainda estava sob o efeito Emilia Perez. Graças à Karla Sofía Gascón esses dias estão no passado.
Há também uma vitória, aliás duas, que amei no campo de TV que são as de Martin Short e Only Murders in the Building, a prévia de que no Emmy a categoria de comédia enterra The Bear e recupera seu gênero. Falarei mais à frente sobre isso. Primeiro, cinema.
No Oscar a categoria de Atores Coadjuvantes está definida e sou contra as duas vitórias. Kieran Culkin e Zoe Saldaña venceram literalmente todos os prêmios até aqui e já ganharam. O que não gosto é porque são atores de uma nota só, estão sendo eles mesmos e ambos não são apenas limitados artisticamente: são irritantes.
Tirar o reconhecimento de Jeremy Strong por O Aprendiz é um roubo de mão armada, mas Hollywood é Hollywood. Nem vale perder tempo reclamando. Vou mencionar apenas que foi ensurdecedor os aplausos tímidos quando se falava de Emilia Perez e tudo que foi discutido no último mês certamente tirou o brilho e a felicidade da atriz quando subiu ao palco. É quase um momento de embaraço e pressa para evitar a vergonha alheia.
Mas pouco imaginávamos que entre eles os atores estariam mostrando pensar bem diferente dos sindicatos dos roteiristas, diretores e produtores, que vem dando preferência à A Dor Verdadeira e Anora. Se dependesse dos astros, o melhor filme do ano seria O Conclave, que ganhou como melhor elenco justamente na semana que pode estar antecedendo um novo conclave em Roma, uma vez que a saúde do Papa Francisco está muito frágil.
Tenho amigos que odiaram O Conclave por ser formulaico, mas honestamente se não for Ainda Estou Aqui, convencional em sua fórmula também, mas não vejo nenhum outro "melhor" filme. Nem Anora, que é um filme delicioso, mas facilmente esquecível. E agora? Se precisar de dica para bolão, vá com Anora e Sean Baker, mas eu confesso que vi as chances de Walter Salles Jr. fazer história crescerem.
A reação congelada do SAG quando se mencionava Emilia Perez também me acende a percepção de que Ainda Estou Aqui é o favorito de Filme de Língua Estrangeira, mas, mais ainda, depois do discurso acalorado de Jane Fonda, a homenageada da noite, que abriu o coração sobre o momento atual nos Estados Unidos, alimentando o medo de um sistema opressor se formando por lá. Ainda Estou Aqui é o filme mais relevante do momento, especialmente em Hollywood. A história de Eunice de Paiva explora um medo real dos americanos, fazendo Walter Salles Jr. ter destaque.
Então chegamos à Melhor Ator e Melhor Atriz. A vitória de Demi Moore freiou a ascensão de Mikey Madison, mas não a eliminou. Se Karla Sofía não tivesse tirado o lugar de Fernanda Torres no SAG teríamos tido a verdadeira prévia do Oscar, com as três favoritas postas lado a lado, mas agora está uma bagunça. Sem dúvida, essa vitória de Demi "não é boa" para Fernanda, mas ressalto novamente, como ela não estava indicada, não diz essencialmente "nada". Só saberemos domingo e Fernanda continua favorita.
Confesso que fiquei aliviada com a surpresa de que Adrien Brody, mesmo com uma grande atuação em O Brutalista, não venceu. Afinal, é a mesma interpretação de O Pianista. Foi sua primeira derrota significativa em casa (o BAFTA não conta) e ter sido para Timothée Chalamet em Completo Desconhecido foi algo ainda mais inesperado. Considero Timothée o melhor ator de sua geração e chega aqui com um corpo de trabalho consistente e variado, que não o questionem por ter vencido. E seu discurso, improvisado, foi o melhor: não diminuiu seu esforço ou vontade de ser reconhecido. Quer ser o melhor e aceitou o incentivo. Perfeito! Só espero que melhore o visual para o Oscar.
Na parte de TV, que antecede o Emmy em setembro, ficou bem confuso também. Como Bebê Rena e Shogun foram lançados em janeiro de 2024, ainda eram os donos da noite em suas categorias, mas já sem a festa ou ansiedade de ninguém. Eles atrapalharam a noite do Pinguim, que reconheceu Colin Farrell, mas Cristin Millioti vai ter que esperar sua vez.
Assim, chegamos a Only Murders in The Building. Sou fã apaixonada da série e vibrei com o primeiro reconhecimento de Martin Short, aos 74 anos, que veio justamente quando ele não pôde estar presente por estar com COVID-19. Imaginem como ele ficou em casa de ter perdido essa chance de estar no palco! Tão meta se pensarmos em sua personagem (e persona) que ri sozinha pensando nisso. A vitória da série, tirando de The Bear e de Hacks, é algo a celebrar também.
Jean Smart como Melhor Atriz Comédia pela série é justo, mas Hacks não é 100% comédia, é comédia dramática com ênfase no drama, OMITB, ao contrário, é puro riso. Era mais do que hora de que Hollywood desse um basta ao marketing e reconhecesse a importância dos gêneros premiando corretamente uma comédia na categoria de Comédia. Isso quer dizer que Hacks não é a favorita para o Emmy em setembro? Não, mas que pelo menos nada é tão certo até lá e isso é mais do que bem vindo!
Assim, com uma transmissão perfeita da premiação na Netflix, a temporada de prêmios também recupera sua faísca de interesse, nos deixando ansiosos por dia 2 de março onde, finalmente, tudo será possível. Ainda temos chance!

1 comentário
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Klaus R Pereira
Brutalista vai ser esquecido