CEU de estrelas

São Paulo, a aniversariante da semana, tem no graffiti talvez sua arte mais emblemática. É difícil (diria impossível) caminhar por São Paulo sem se deparar com alguma pintura na parede. Da pixação aos murais dos modernistas, as paredes da cidade são uma atração artística permanente e em constante atualização. E não só na região central. O mais recente trabalho de grande porte acaba de ser inaugurado no extremo oeste da capital.

A obra Cosmos Brincante do artista Bonga Mac foi pintada no CEU Perus. O painel gigantesco de 300 m² aborda a questão do universo e do brincar, transformando o sistema solar em um jogo de bolinha de gude. Bonga contou ainda com a colaboração do artista Xyrox e do assistente de pintura Rubone, e concept art desenvolvido pela produtora cultural Tamires Santana.

Segundo o artista, a proposta do trabalho parte de uma discussão sobre o universo e sobre o brincar. "Ao criar o Cosmos Brincante, Tamires traz a ideia de como o universo é cíclico, retratando o sistema solar como um jogo de bolinha de gude. Trata-se de uma grande construção, no entanto semelhante a uma brincadeira de criança em sua simplicidade", afirma. Para ele, o trabalho artístico propõe uma brincadeira com a nossa essência cósmica e, ao mesmo tempo, apresenta o universo da simplicidade presente nas periferias, na inocência da brincadeira das crianças. A inspiração para o desenvolvimento do tema veio da questão de o CEU ser um espaço educativo e acolhedor de crianças e jovens.

Produtora negra que cresceu com referências de territórios periféricos, Tamires confessa sentir uma grande satisfação ao poder contribuir com projetos como esse para a região de Perus. Ela espera que o painel movimente o imaginário de quem observá-lo, despertando alguma reação positiva. "Afinal, é um tipo de obra que mistura referências extraídas dos estudos da pedagogia e infâncias, espiritualidade, física quântica, coletividade e representatividade". Já Bonga deseja que esse tipo de projeto aconteça cada vez mais nas periferias, onde a arte urbana se revela um verdadeiro presente para esses territórios. "Propostas de qualidade devem ir para os extremos das cidades. As periferias têm direito à cidade e a receber grandes obras e boas oportunidades, ainda mais porque a arte urbana é oriunda de culturas periféricas", conclui.

Esse ponto levantado por Bonga é algo pouco lembrado quando se trata de arte urbana. Espaços periféricos e seus artistas não ganham o mesmo destaque dos protagonistas das regiões centrais. Cosmos Brincante foi um dos trabalhos selecionados pelo edital do MAR (Museu de Arte de Rua), um projeto da prefeitura que ajuda a diminuir essa distância de cenários.

E o ano ainda começou com uma ótima notícia para a arte urbana da cidade. O prefeito Ricardo Nunes aprovou um projeto de lei que reconhece o graffiti como "manifestação artística de valor cultural realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado". A lei ainda institui o Programa Municipal de Fomento ao Graffiti, a fim de promover atividades de valorização dessa arte.

Ações assim são fundamentais para dar destaque para artistas e lugares pouco lembrados quando se trata de arte urbana. Na periferia ou regiões centrais, São Paulo tem muita arte a ser apreciada.