Topo

Arte Fora do Museu

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O colossal monumento indígena em construção desde 1948

Felipe Lavignatti

Colunista do UOL

16/06/2023 18h10Atualizada em 16/06/2023 18h10

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Em vários filmes de Hollywood somos apresentados a pontos turísticos americanos. Da Estátua da Liberdade à Golden Gate, umas mais icônicas que outras. Alguns são fruto do imaginário do país, sendo o maior exemplo o Monte Rushmore, com os rostos de quatro presidentes dos EUA: George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln.

É de conhecimento de todos que o território ali nem sempre pertenceu aos EUA de hoje. A área montanhosa conhecida como Black Hill pertencia ao povo Lakota antes da chegada do homem branco. Esse direito ao território foi inclusive reconhecido em um tratado de 1868 garantindo aos ameríndios a posse das terras em perpetuidade.

Foi uma perpetuidade breve. Os Estados Unidos entraram em guerra com eles 8 anos depois e tomaram o local. Em 1927 começaria a construção do monumento que seria finalizado em 1941. Uma afronta para o povo Lakota, que perdeu seu território e ainda viu a montanha ser talhada com rostos de quem os derrotou.

Um modelo da escultura colossal planejada - Mike Tigas/CC - Mike Tigas/CC
Um modelo da escultura colossal planejada
Imagem: Mike Tigas/CC

Diante da construção do monumento, a população Lakota começou a se movimentar. Em 1948 o chefe Henry Standing Bear, conhecido estadista e ancião da comunidade nativa americana, recrutou e contratou o escultor polonês-americano Korczak Ziolkowski para construir o Crazy Horse Memorial nas Black Hills de South Dakota, 27 km distante das cabeças dos presidentes dos EUA.

A escolha do homenageado foi do lendário Crazy Horse, líder de guerra Lakota no século XIX. Ele pegou em armas contra o governo federal dos Estados Unidos para lutar contra a invasão de colonos americanos brancos em território nativo americano. A ideia original na verdade era que o rosto do guerreiro ficasse ao lado dos rostos dos presidente. Como era de se imaginar, esse desejo não foi realizado.

O rosto de Crazy Horse já aparece no cenário montanhoso. Mas é uma parte pequena do projeto. O monumento, quando concluído, será maior do que o Monte Rushmore. As dimensões finais da escultura estão planejadas para 195 m de comprimento e 172 m de altura. A face de Crazy Horse, concluída em 1998, tem 26,7 m de altura. Como comparação, cada uma das cabeças dos quatro presidentes no Monte Rushmore tem 18 m. Para nós brasileiros entendermos melhor, o Cristo Redentor inteiro tem 38 metros de altura.

A Crazy Horse Memorial Foundation rejeitou ofertas de fundos federais. Sua construção tem o apoio de alguns chefes Lakota e segue em construção sem prazo de término. Korczak Ziolkowski, o escultor, morreu em 1982, antes de ver sequer o rosto de sua obra mais monumental. Enquanto Crazy Horse não ganha corpo, as cabeças dos homens brancos do Monte Rushmore seguem recebendo mais de 2 milhões de visitantes por ano.