Artista que grafitou para Neymar e Cleo expõe pela 1ª no Beco do Batman

O que Drake, Neymar, Cleo, Justin Bieber e Hailey Bieber têm em comum? Todos possuem em suas casas uma obra do artista brasileiro Diogo Snow. E agora, pela primeira vez, poderemos ver uma exposição dele no Brasil. Há 20 anos morando em Toronto, Canadá, o artista retornou às suas origens paulistas para trazer 16 obras inéditas que podem ser vistas na Ziv Gallery, no Beco do Batman, com entrada gratuita.

As peças fazem homenagem a figuras marcantes como Anitta, Marilyn Monroe, Audrey Hepburn, Monalisa, Mickey Mouse e o Batman, e são produzidas com spray, acrílico, resina e até pó de diamante. Em conversa com a coluna, ele fala sobre a importância de voltar ao Brasil justamente com uma exposição no lugar mais famoso de arte urbana de São Paulo, a cena brasileira, projetos no país e seu sucesso como artista plástico.

Você nasceu em Santo André e há duas décadas vive no Canadá. Mesmo de longe, você consegue acompanhar os artistas da cena brasileira?
Mesmo morando 20 anos fora, acompanho vários artistas daqui que admiro muito. Lembro bastante dos Gêmeos da época em que morava no Brasil, ainda em 1996, 1997, quando eu grafitava. Eles já estavam em alta naquela época. E tem Kobra também! Antigamente, eu não conhecia o trabalho dele, mas nos últimos cinco anos venho acompanhando bastante. Apesar da minha arte não ter a ver com o estilo deles, são artistas que eu sigo e também aprecio bastante porque eles conseguiram, sobretudo Kobra, levar o Brasil para o mundo. Então, agora que estou vindo da América do Norte e trazendo minha arte para o meu país, vejo que é uma transição diferente, mas também com bastante trabalho. Esses são dois artistas que eu acompanho bastante, mesmo.

Tem intenção de grafitar por aqui nessa sua passagem?
Não só tenho a intenção de grafitar no Brasil, como vou grafitar! Já tenho dois grafites certos: um deles vai ser dentro da Galeria Ziv, no Beco do Batman, onde a gente vai pendurar um míssil. Já estamos fazendo toda essa montagem por lá. Também vou grafitar um muro, que tem 9 metros de parede. Então, estou grafitando dentro da galeria e também um muro lá fora, no Beco do Batman mesmo. Essa é uma área muito concorrida para mural, todos os artistas querem ter um espaço lá. Na última vez que vim ao Brasil e fui ao Beco do Batman. Fiquei louco. Estava querendo arrumar um espaço lá, mas não consegui. Dessa vez, eles conseguiram um espaço na rua e vou grafitar esse mural na segunda, mas estão aparecendo outras oportunidades, também!

Como vê esse processo de valorização que o graffiti vem recebendo nos últimos anos, sendo abraçado cada vez mais pela mídia.
O graffiti vem tomando uma proporção muito grande. Lá fora, ainda mais. O graffiti já tem colaborações com grandes marcas. Até mesmo as pessoas que eram pichadores, que também faziam tags, estão fazendo arte e até fizeram uma grande colaboração com a Gucci. É até engraçado porque hoje fui visitar a casa do Zé, do LixoMania, e o Zé é um dos maiores pichadores do Brasil, número um, e ele é pichador mesmo. Hoje, fui à casa dele comprar uma arte, porque ele era um cara dos anos 1980 e 1990, e a gente estava conversando exatamente sobre isso: o tamanho que o graffiti e até mesmo a pichação ganharam! Até porque ele, por ser um pichador muito famoso, já tem marcas e galerias contatando ele para exposições e colaborações com marcas de roupa.

Então é bacana ver isso, né? Porque parece até o que também aconteceu com o funk, que vem da favela e o pessoal está levando pro mundo. Isso está abrindo muitas oportunidades para as pessoas. A arte leva as pessoas para outro nível, então é muito bom ver que a gente está tendo esse espaço na mídia.

Como é para você, que começou justamente na pixação, ter uma exposição com obras suas em uma galeria e ter obras cobiçadas por gente notória da música, esporte?
É uma alegria muito grande ter minhas obras reconhecidas, porque nunca imaginei que eu ia viver da arte do graffiti. A pixação começou de forma meio natural na minha vida. Era muito forte e ainda hoje é forte. Mas na época que comecei era aquela coisa de sair na rua para se expressar, pichar e até uma forma de protesto. Então, hoje ver o sucesso de uma coisa que era paixão minha, mas que nunca pensei em trabalhar, não tem preço, né?

Às vezes eu nem acredito que tenho minhas obras expostas na casa de celebridades e que tenho esse tanto de colecionadores. As pessoas que colecionam meus quadros ou querem alguma coisa, nem que seja um papel assinado com uma pequena arte, são pessoas que veem o valor, a grandeza dessa arte. É muito bom ver até onde estou chegando. Então, só apreciando mesmo e batalhando para que, cada vez mais, isso cresça.

A exposição é no Beco do Batman, lugar icônico da arte urbana de São Paulo. Qual sua relação com o lugar?
Estou muito animado com a abertura da minha exposição na Ziv Gallery, que é no Beco do Batman. Quando vim ao Brasil na última vez, todos falavam que o lugar era a minha cara, tipo, 'você tem que conhecer, é maravilhoso', então eu visitei várias galerias. Quando entrei na Ziv, fiquei abismado com a grandeza e luxo que é essa galeria! Eu até cogitei com um amigo meu que seria muito legal ter as minhas artes expostas nessa galeria.

Uma semana depois, fui almoçar no restaurante da galeria e levei meu filho comigo. Tinha uma estátua na entrada e você podia pegar algumas canetas e escrever. Podia pichar ali na hora, escrever seu nome. Era uma estátua própria para isso. E o meu filho tem só seis anos, mas é apaixonado por spray e canetão, então ele já pinta e é maravilhoso ver isso nele! Ele viu a estátua toda pichada e pediu para ir lá e fazer o tag dele. Nisso, o dono da galeria, que a gente não sabia que era o dono, viu ele falando inglês e veio perguntar da onde a gente era.

Aí começamos a conversar, eu falei que morava no Canadá e que era artista também. Quando ele pediu para olhar as minhas artes, ficou completamente apaixonado pelos quadros. Ele perguntou se eu não queria fazer uma entrevista com eles, uma reunião para ser assinado pela galeria. Aí eu pensei 'nossa, que engraçado, o meu filho já pintando e fazendo toda essa conexão', porque, na verdade, foi ele que fez essa conexão, né?

Acho que, se ele não tivesse parado ali para pichar e escrever o nomezinho dele na estátua, eu não teria nem conhecido o dono da galeria. A gente começou a elaborar essa mostra, ele queria fazer essa exibição solo minha, então a gente já vem há três meses bolando e agora está acontecendo!

Exposição Diogo Snow - ZIV Gallery
Local Rua Gonçalo Afonso, 119 - Beco do Batman, Vila Madalena
Data A partir de 21 de julho, às 18h
Entrada Gratuita