Artista 'retoma território' ao expor 1° mural indígena em prédio de Belém
A história das cidades em grande parte é a história da relação entre a urbe e os rios. Ficando no território brasileiro, não faltam exemplos de cidades que cresceram em torno de rios. Belém, no Pará, é uma cidade cuja relação com o rio é fundamental para seu surgimento e crescimento.
O povo Mura, conhecidos desde o século 17 como povo navegante, perdeu espaço para a urbanização. Um pedaço de 31 x 14 metros foi retomado nesta semana em forma de arte. Um prédio de na região do comércio, mais conhecida como Ver-o-Peso, talvez o grande ponto turístico da cidade, em frente ao rio na cidade de Belém, recebeu novas cores esta semana.
Esse é o primeiro mural em empena lateral de um prédio na cidade, assinado pela artista indígena Auá Mendes.
A obra azul, que traz uma menina com uma onça, traz como inspiração a dimensão dos sonhos e da realidade da cosmovisão indígena vivida pela artista mura. A transmutação das cores em energia e a perspectiva dos animais como seres encantados são representados na obra IXÉ MAKU, que se trata de uma jornada poética de autodescoberta, mas também de autorreflexão.
"Acreditando no caminho ancestral que foi construído antes de mim, IXÉ MAKU é um portal que fala de enraizar o corpo para mirar como uma flecha certeira no céu", conta a artista.
Auá leva suas raízes para seus trabalhos que vão além da arte urbana e atualmente é designer do Museu das Culturas Indígenas de São Paulo. A obra é produzida como parte da programação da Bienal das Amazônias, que iniciou dia 4 de agosto e vai até 5 de novembro. Em sua primeira edição, a Bienal das Amazônias tem como tema "Bubuia: Águas como Fonte de Imaginações e Desejos".
Criada com a proposta de despertar a reflexão sobre como se faz arte na região sem estereótipos, a Bienal reúne mais de 120 artistas/coletivos de oito países da PanAmazônia, além da Guiana Francesa.
Do Brasil, estão presentes representantes dos nove Estados da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, e a Amazônia Oriental, composta, por exclusão, pelos Estados do Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso).
O mural permanecerá visível em longa distância e será de grande destaque na paisagem urbana da cidade de Belém. Segundo Vera Nunes, CEO da Produtora Gentilização, que assina a produção do mural, pinturas em espaços públicos são formas de transformar a cidade em uma grande galeria de arte, proporcionando que todos, sem distinção, possam usufruir da produção artística.
"A obra que estamos produzindo foi pensada por uma artista que imprime a sua forma de enxergar o mundo. Uma visão que veio dos seus antepassados, que foi silenciada pela colonização e que agora, ela tem a oportunidade de expor em uma plataforma gigante, quase como um grito. É uma pintura que dialoga com os povos do norte do país, e com ela, queremos que as pessoas da cidade também possam acessar a arte de forma democrática. Com esse trabalho, estamos celebrando a cultura indígena e o poder da arte urbana no cotidiano das pessoas", conta Vera.
A obra tem a produção executiva da Gentilização, e a produção local de tinta preta produções.
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