Duas décadas de Choque Cultural
A cidade de São Paulo já é consagrada há muito tempo como uma cidade onde prolifera a arte urbana em seus mais variados estilos. Isso é fruto de uma cena rica desde os anos 80, mas também por trabalhos como da galeria Choque Cultural, que está com uma exposição comemorativa pelos seus 20 anos de atuação na cidade. Nessas duas décadas, a cidade mudou bastante e com ela a percepção das pessoas sobre arte urbana, com um papel fundamental da Choque nisso. Conversamos com Baixo Ribeiro, um dos fundadores da galeria, sobre essas mudanças e do impacto que a Choque teve (e ainda tem) na cena da arte brasileira.
São 20 anos de Choque Cultural, pioneira na valorização da cultura de rua. De onde surgiu a ideia de montar uma galeria com esse foco em 2004?
R: Nossa ideia inicial, minha e da Mari (Mariana Pabst Martins, cofundadora da galeria), era fazer um projeto-laboratório pra discutir as novas linguagens artísticas que afloraram na década de 90 do século 20, principalmente arte urbana, tatuagem e artes digitais. Também temos um grande amor pelas artes gráficas: zines, HQs, xilo, gravuras, lambes, stickers. Com a Choque, juntos tudo no mesmo caldeirão cultural.
O cenário da street art tem muito mais destaque hoje do que quando vocês começaram. Em um aspecto, acho que a Choque tem um papel bem importante nesse processo, principalmente em São Paulo. Como você vê a cena da época comparada com agora e como você vê o papel da Choque nisso?
R: A Choque tem, sim, um papel fundamental no processo de aceitação da arte urbana no Brasil por dois motivos: (1) pela inserção de artistas urbanos no mercado principal a partir na Troca de Galerias que fizemos com a Fortes Vilaça em 2007 e (2) pela inserção institucional que impulsionamos com as grandes exposições no Masp de 2009 a 2011. Esses eventos abriram portas para muitos artistas e para muitos públicos.
Nesses 20 anos, vários artistas passaram pela Choque, sendo representados ou em parcerias. Inclusive com artistas estrangeiros, principalmente com a exposição que vocês realizaram em 2011 no Masp e por toda a cidade. Como se deu essa processo de internacionalizar a Choque e também virar uma referência para quem visita o país e conhecer os artistas brasileiros?
R: A Choque nasceu bem internacionalizada. Antes mesmo de abrirmos as portas para o público, recebemos o inglês Tristan Manco, com quem faríamos uma longa parceria. Ele estava escrevendo o livro GraffitiBrasil lançado em 2005 pela Thames and Hudson em inglês: o primeiro livro internacional falando da cena brasileira (escrito praticamente dentro da Choque). Fizemos um grande investimento para levar muitos artistas para exporem fora do Brasil e trouxemos cenas inteiras de outras culturas, como as Japan Pop Show, as Made in America, as Buenos Aires en Choque... foram dezenas de artistas indo e vindo dentro dos nossos programas de intercâmbio. Fomos muito voluntaristas nessas iniciativas e nunca tivemos nenhum subsidio ou facilitação. Foi tudo na raça mesmo!
Os artistas da Choque sempre tiveram um perfil muito diferente nas técnicas, mas com uma unidade de conceito muito forte que eu vejo como um selo da Choque. Como se dá esse processo de seleção de quem participa e o que une os artistas?
R: A seleção que temos hoje foi sendo feita lentamente. Ficaram conosco os artistas com quem temos mais afinidade pessoal mesmo. Porque arte é maratona, é longo prazo, as carreiras amadurecem devagar e com muito trabalho. E eu - que atualmente faço mais pessoalmente a curadoria - prefiro fazer um trabalho mais aprofundado com cada artista. Mas ao mesmo tempo, como tenho feito muitas exposições com grandes instituições (Masp, USP, Sesc, Farol Santander, CCBB) eu posso ampliar o escopo dos artistas com quem eu trabalho. Na série de exposições Xilograffiti que eu fiz com os SESCs Consolação, Mogi e Araraquara, no ano passado, chamei muitos artistas de todas as regiões do Brasil, de todas as idades, famosos e desconhecidos. Um festival de arte generativa que eu fiz por três anos, desde a pandemia, para o painel de led do Farol Santander movimentou trinta artistas.
A Choque está com uma exposição comemorando esses 20 anos. O que podemos encontrar nessa seleção especial de aniversário?
É um ano todo que vamos comemorar: vamos ter grandes exposições individuais como foi a do Melim em março e também algumas coletivas para mostrar o time todo junto - nas coletivas também estamos convidando alguns artistas que fazem parte do nosso círculo próximo embora não sejam representados oficiais, como Erica Mizutani, Presto, Soberana Ziza e Carlos Dias.
A Choque Cultural fica na alameda Sarutaiá, 206, no Jardim Paulista, em São Paulo. Aberta de terça a sexta das 11h às18h e sábado das 10 às 17h.
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