Arte Fora do Museu

Arte Fora do Museu

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

A escultora negra que lutou contra o racismo para mostrar sua arte

Ainda é comum o apagamento das mulheres na história da arte. Some-se ao machismo estrutural o racismo e podemos passar batido por um nome como o de Edmonia Lewis.

Natural dos EUA, Edmonia nasceu em 1844, 19 anos antes do fim da escravidão no país. Filha de pai negro e mãe indígena, cresceu na tribo da mãe, onde foi introduzida ao artesanato. Seu interesse por artes plásticas cresceu quando foi estudar em Ohio em uma das primeiras faculdades a aceitar estudantes mulheres e negras.

Nesse período ela muda seu nome para Mary Edmonia. Apesar da aceitação na escola, a artista estava constantemente sujeita a racismo e discriminação. O ápice foi uma acusação de envenenamento por parte de algumas colegas, que acabou gerando agressões e um isolamento ainda maior da artista. Tudo isso acontecia enquanto o país lutava sua guerra civil que acabou resultando no fim da escravidão. Edmonia abandou o curso.

Após esse período, ela se muda para Boston e se estabelece como artista profissional de destaque local, estudando com um escultor e criando retratos de famosos heróis antiescravistas. Com o sucesso e dinheiro, em 1865, três anos após as agressões na faculdade, ela se muda para Roma.

Lá ela se junta a uma comunidade ativa de artistas americanos e britânicos que viviam na Itália. Seu estilo seguiu o neoclássico popular na época. Sua inspiração também seguiam as populares histórias da Bíblia e a mitologia clássica. Mas não só. Suas origens serviram para criações que dialogavam com a história afro-americana.

A prova do reconhecimento na sua terra natal veio em 1877, quando o ex-presidente dos EUA Ulysses S. Grant a encarregou de fazer seu retrato. Uma grande vitória e ainda maior resposta aos seus críticos no período da faculdade.

A grande parte de suas obras estão em museus e coleções particulares, mas há uma obra em espaço público que vale a menção de verdadeira arte fora do museu.

Hygeia esculpida por Edmonia Lewis
Hygeia esculpida por Edmonia Lewis Imagem: Cbustapeck/cc

No cemitério de Mount Auburn, vizinho a Boston, está enterrada a doutora Harriot Kezia Hunt. Ornamentando o túmulo, encontra-se uma escultura de Hígia, deusa grega da saúde, limpeza e sanidade. Harriot foi uma médica americana e ativista dos direitos das mulheres. E foi a própria Harriot que escolheu Edmonia para fazer essa escultura para o jazigo da sua família.

Continua após a publicidade

Apesar do desgaste do tempo é possível apreciar as qualidades do trabalho de Edmonia. Uma mulher negra e descendente de indígenas que não foi aceita pelos seus pares, lutou, conquistou respeito e reconhecimento. Passados mais de 100 anos de sua morte, seu nome merece seguir vivo e lembrado nos livros de história. E quanto ao curso que ela abandonou, em 2022, a faculdade concedeu à artista um diploma póstumo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes