Belém ganha 6.000 m² de arte nas ruas: 'Impacta a todos que passam por ela'
Acontece neste domingo (10) a entrega da maior intervenção de arte urbana de Belém. A edição deste ano do Museu de Arte Urbana de Belém (M.A.U.B) apresenta 19 painéis inéditos no Complexo Ver-o-Rio totalizando 6.000 m² de arte na cidade. Essas dimensões cravam a iniciativa como o maior museu a céu aberto do Norte do Brasil e da Amazônia.
O projeto de valorização da arte urbana chega à sua segunda edição e apresenta nomes consolidados do cenário paraense, amazônico e internacional. Com o crescimento do turismo na região após a confirmação de Belém como sede da COP30, em novembro de 2025, a transformação do espaço turístico é também uma oportunidade de tornar a capital paraense parada obrigatória para turistas amantes da street art.
Em 2024, a curadoria do projeto, novamente a cargo de William Baglione, analisou 135 inscrições, mais que o dobro do recebido no ano passado. Para o curador, "o M.A.U.B ainda está em sua fase inicial, mas já nasce com ambições globais claras. Para alcançar esse objetivo, é essencial olhar além das fronteiras do estado e estabelecer um diálogo ativo com outros festivais, seus organizadores e artistas, tanto nacionais quanto internacionais".
Baglione defende —e concordamos com ele— que a arte de rua é a mais democrática que existe, pois nasce da espontaneidade, muitas vezes financiada pelo próprio artista, e pode abordar questões políticas, sociais ou simplesmente estéticas. Além disso, o curador acredita que atinge a todos que transitam pelas ruas, sem distinção: independentemente de classe social, idade ou meio de transporte, seja o espectador a pé ou em um carro blindado. "De alguma forma, a arte nas ruas impacta a todos que passam por ela", diz.
"Graffiti, street art, muralismo, nova arte contemporânea. O M.A.U.B celebra a arte das ruas, independentemente de rótulos, em harmonia com outras manifestações culturais juvenis que florescem tanto nas grandes capitais cosmopolitas quanto em cidades menos conhecidas, em todos os continentes, ao longo das últimas cinco décadas. Em nossa segunda edição, temos a honra de contar com a participação de artistas e organizadores ligados a projetos consagrados, como o CURA, de Minas Gerais, e o Concreto, de Fortaleza. Esses festivais já se firmaram em suas cidades, curando dezenas de artistas brasileiros e internacionais em múltiplas edições. A troca de experiências e a construção de uma agenda nacional colaborativa entre projetos são fundamentais para o crescimento contínuo e para a criação de novas oportunidades para um número cada vez maior de artistas", destaca o curador.
As cores e traços do maior paredão dessa edição, de com cerca de 2.000 m², serão assinados pelos paraenses Drika Chagas e Éder Oliveira. "Ao reunir esses dois talentos em um único espaço, queremos entregar à cidade uma obra que dialoga profundamente com nossa cultura e identidade, consolidando o festival como um importante ponto de encontro da arte urbana no Brasil", ressalta Baglione.
Além de impulsionar o turismo da arte de rua na capital, com a entrega de uma nova paisagem urbana no Complexo Ver-o-Rio, o projeto surge como um canal de representatividade para os artistas da street art. "O M.A.U.B vem sendo pensado a longo prazo e Belém precisava de um espaço como esse. Esse segmento da arte precisava de uma representatividade não só dos paraenses, mas principalmente dos artistas da Amazônia. Agora temos um museu de Street Art para chamar de nosso!", afirma o idealizador da iniciativa, Gibson Massoud.
A escolha dos artistas foi feita por meio de edital público. Em 2023, foram 25 artistas e 19 obras inéditas trabalhando durante 63 dias - desses, 20 dias de pintura direto sob o sol, chuva e algumas dificuldades de logística pela grandeza do projeto. "Se eu contar que tivemos que buscar sprays em Manaus e esperar cinco dias para chegar de barco em Belém, pois nos outros estados vizinhos não tinha mais, ninguém acredita. Essas são as dificuldades de quem executa projetos na região Norte do país. Mas eu acredito que, no final, tudo valeu a pena. Ganhamos um espaço nosso, feito por artistas e produtores daqui. Que mesmo com todas as dificuldades, ainda acreditam que a arte pode mudar a vida das pessoas", pontua.
A diretora do projeto, Joelle Mesquita, reforça: realizar um projeto de street art em Belém é enfrentar desafios que vão além da arte em si. "A logística, estruturas montadas, o clima enquanto o artista busca inovar e provocar reflexões. As ruas se tornam uma tela viva, onde lidar com a aceitação do público, questões de espaço e a própria efemeridade da obra são partes do processo. É nesse equilíbrio entre resistência e criatividade que a arte urbana se manifesta, dando voz à cidade e seus habitantes", finaliza.
Além da exposição e obras inéditas, a iniciativa conta com oficinas de arte urbana ministradas pelos artistas participantes e selecionados no edital, visitas guiadas durante o mês de novembro e um grande festival no dia da inauguração, marcada para este domingo. A programação de música, arte e esportes, intrinsecamente ligada à cultura urbana, ocorre no Complexo Ver-o-Rio e será totalmente gratuita.
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