Baixaria em restaurante de SP mostra que carteirada é patrimônio nacional
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Se tem uma instituição que representa o Brasil ainda mais que o samba, a caipirinha e o futebol, certamente é a carteirada.
A confusão no restaurante grã-fino em São Paulo envolvendo ricaços aparentemente embriagados só deixou isso mais evidente. Disputando uma partida de Super Trunfo das conexões sociais, os cidadãos tentaram de tudo.
Naquela ameaça recorrente de chamar a polícia para resolver a questão, quando alguém citou um sujeito como "meu delegado", o outro retrucou com "sou irmão de delegado federal".
Pouco depois, houve a tentativa de contextualizar a própria procedência com "a gente é educado, a gente tem berço", e na sequência deu de ombros para não reconhecer o berço do interlocutor.
É claro que não houve consenso a respeito de quem podia mais. Um segundo vídeo, com apenas um dos envolvidos, continuou a construção de perfil baseada única e exclusivamente em filiações pregressas supostamente relevantes.
"Conheço a família Fasano há muitos anos", avisou, para deixar claro que era muito mais do que um ébrio qualquer procurando confusão. "Por aqui, teve educação americana, teve educação europeia". Para encerrar, uma tecnicidade até excessiva: "médico tem aqui, com CRM vigente".
O antropólogo Roberto DaMatta, autor do fundamental livro "Carnavais, malandros e heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro", disse em entrevista à DW que a carteirada "é sintoma de uma cultura que tem aversão ao igualitarismo".
Mas pelo menos no que temos de mais patético, todos naquele restaurante pareciam um pouco iguais.
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
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