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Chico Barney

OPINIÃO

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'Domingão' com Luciano Huck foi melhor quando não tentou inspirar o público

Luciano Huck estreou no "Domingão" - Reprodução/TV Globo
Luciano Huck estreou no 'Domingão' Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

06/09/2021 13h14Atualizada em 06/09/2021 13h26

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Luciano Huck sempre demonstrou uma inabalável capacidade de se adaptar. Como o Zelig daquele filme do Woody Allen, o apresentador vai se ajustando ao zeitgeist com pragmatismo e raro talento.

Em busca do que chama de "televisão de alta performance", foi se moldando ao longo da carreira, tentando não só alcançar um público sempre maior, mas também qualificar a própria imagem perante o mercado.

Foi do colunismo social ao entretenimento jovem, com praia, música e belas mulheres depilando adolescentes e, quando isso não dava mais retorno, se reinventou como uma espécie de Gugu Liberato com contrapartida social.

Muita gente faz graça com isso, mas foi um rebranding espetacular. Pegar os quadros mais rasteiros, de reforma de casa, reforma de carro e até o "Táxi do Gugu", e colocar uma narrativa de propósito e virtude antecipou em alguns anos o que seria o padrão do marketing contemporâneo.

Essa antena para o mundo é, sem qualquer sombra de dúvida, a melhor qualidade de Luciano Huck, provavelmente em todas as esferas profissionais nas quais atua. E agora é esse exercício sofisticado da escuta que precisará muito para equalizar sua passagem pelo "Domingão".

Com a exibição atrapalhada do primeiro episódio, ficou evidente que esse não é o programa que ele gostaria de colocar no ar. A estreia estava prevista apenas para janeiro, e tudo foi bagunçado graças ao imbróglio da Globo com Faustão.

Desta feita, o "Domingão" precisou herdar o "Quem Quer Ser Um Milionário", aparentemente por compromissos publicitários. Por sua vez, Luciano Huck teve que herdar o "Show dos Famosos", imagino que pelos mesmos motivos e também por fatores de produção.

O ritmo do "Quem Quer Ser Um Milionário" foi modorrento demais para o que estamos acostumados aos domingos. O tradicional interesse de Huck pelas histórias dos participantes, para usá-las como exemplos de Brasis possíveis, acaba atravancando o que realmente interessa.

Já o "Show dos Famosos" foi exuberante. O ponto alto do programa, em especial a participação de Fiuk como Amy Winehouse e o "carrasco" Boninho fazendo referências à saudosa Aracy de Almeida. Entretenimento descompromissado.

Mesmo com algumas decisões que considero equivocadas, como aquele texto antes das apresentações, já escancarando quem é o concorrente que está homenageando cada artista. Havia um ar de mistério nas temporadas anteriores que divertia.

A pior atração do primeiro Domingão sob nova direção foi justamente o principal pilar institucional de Luciano Huck: a história de um cidadão batalhador que consegue realizar seu sonho graças ao próprio esforço e também à intervenção do apresentador.

Deram muita importância para um gracejo meio besta: encontraram o Seu Domingos, nascido em um domingo, devoto de São Domingos, que tinha como sonho cantar na TV. Não tinha rigorosamente nada além do excesso de referências ao dia da semana para justificar a existência do quadro.

Se fosse tratada com bom humor, investindo mais no lado lúdico, até poderia ter sido interessante. Mas tentaram provar que era inspiradora uma coisa que nem chegava a ser direito uma história.

Pelo menos acabou servindo como alavanca para a participação de duas estrelas de primeira linha da música popular brasileira, Luan Santana e Alcione, no palco. A volta do "Domingão" ao vivo, aliás, foi outra boa novidade, e torço para que continue assim nas próximas semanas.

A impressão que fica é que existe uma página em branco na frente de Luciano Huck, principalmente a partir de janeiro. E se a premissa para um novo Domingão é que o mundo está mudando, o apresentador precisa se conscientizar que isso vale também para ele —e estamos ansiosos para conhecer novos truques.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.