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Chico Barney

OPINIÃO

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Na estreia como DJ e cantora, Deolane promete que vai melhorar. E precisa?

Baile da Doutora: Deolane canta com holograma de MC Kevin - Reprodução/Youtube
Baile da Doutora: Deolane canta com holograma de MC Kevin Imagem: Reprodução/Youtube

Colunista do UOL

20/11/2021 23h38

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Aconteceu neste sábado, dia 20, em São Paulo, o primeiro Baile da Doutora. O evento serviu como plataforma para o lançamento de Deolane Bezerra como DJ e cantora.

O fenômeno midiático mais fascinante dos últimos meses já acumula outras atribuições, como advogada, milionária ostentação, influenciadora digital, criadora de bordões e viúva do MC Kevin.

Uma das principais questões quando surge o nome de Deolane é: por qual motivo ela é famosa? Como escrevi recentemente, o conceito de fama nunca foi tão elástico. A verdadeira pergunta é: por qual motivo ela nos intriga tanto?

O show que conduziu sua estreia nas funções de DJ e cantora talvez guarde a chave para o mistério. Durante cerca de duas horas, uma multidão presencial, além de uma média que girou em torno de 50 mil pessoas simultâneas na transmissão pelo YouTube, se entreteve com as conjecturas da doutora.

Deolane entrecortava algumas das canções mais populares do momento, que tocava com o auxílio de profissionais mais experientes, com discursos acachapantes. Nem sempre era possível acompanhar plenamente as concatenações, mas os efeitos eram catárticos.

Em um trecho que viralizou nas redes antes mesmo que o evento chegasse ao fim, a anfitriã se comparou ao dipirona, remédio de funções antitérmicas e analgésicas: "engole ou vomita". Os presentes vibraram.

Um dos momentos mais esperados era a execução do hit "Bipolar", famoso pelo refrão "vai se tratar, garota", que voltou à baila nos últimos dias graças a uma execução um tanto errante da DJ principiante.

Nossa heroína não se fez de rogada. Tocou o sucesso do mesmo jeitinho atabalhoado que virou meme, transformando o revés em marca registrada.

O fluxo de consciência da doutora passeava por muitos lugares, como a necessidade da autoestima e do empoderamento feminino. Ciente de que é um modelo para seu crescente contingente de fãs, faz questão de tentar passar mensagens positivas, inclusive quando teceu loas à Marília Mendonça.

"Dois mil e vinte e um, que ano do caralho. Eu estava com o amor da minha vida às 13 horas. Às 18 eu perdi. Foi difícil. Dois mil e vinte e um, rainha da sofrência, Marília Mendonça. Quando começou esse turbilhão de sensações, de emoções na minha vida, eu falei: 'caralho, se eu sentar com Marília, eu zero o game. Por que Marília é Marília, né. Ela foi trilha sonora de quase todo mundo que sofreu por amor. Aí Marília me chamou no direct: 'E aí, quando você vai vir nas Patroas?' Falei 'meu nome é pronta, já tô com a roupa de ir'. E nós fomos, bebemos. Só bebo uísque, vocês sabem. Bebi bananinha, fiquei como? Na boca do povo e nas mãos de Deus. Aí Marília foi morar com papai do céu. Eu falei 'Senhor, eu vou viver. Eu vou beber. Eu vou orar quando tiver que orar. Porque nosso coração ninguém conhece, ninguém sabe, as pessoas só julgam'. Vamos viver o hoje, como diz Racionais. Por que o amanhã só pertence a Deus. E eu não podia deixar de lembrar dela. Ei, infiéis!"

Enquanto o DJ auxiliar tocava o sucesso de Marília Mendonça, Deolane chamou as irmãs para o palco. Dançaram e acompanharam a letra emocionadas, com muita empolgação.

A questão do adultério foi e é central para Deolane por conta da situação que culminou na morte do MC Kevin. Por diversas vezes, ela fez referências ao caso. "O que é uma traição perto de uma morte", questionou em um momento chave da noite.

Mais do que isso, toda a festa serviu também como uma elegia à obra e ao amor que ela sente pelo artista. Cantou junto com um holograma, recebeu parceiros criativos do ex-marido e entoou o arrasa-quarteirão "Meu Menino", que já possui quase 4 milhões de visualizações no YouTube com pouco mais de 24 horas no ar.

Guardadas as devidas proporções, sinto que ela está fazendo por MC Kevin algo parecido com o que Sean Combs, na época conhecido como Puff Daddy, fez na ocasião do falecimento do Notorious B.I.G., preservando o legado e apresentando o trabalho do falecido artista para um público ainda mais amplo.

Os estetas da arte de discotecar ou do canto podem ficar frustrados com a primeira incursão oficial de Deolane nessas frentes. Mas não é a técnica que explica tamanha conexão com o público. É algo emocional. Transparente e carismática, ela pega o povo pela franqueza.

Não por acaso, no discurso que encerrou a festa, no que poderia ser qualificado como uma espécie de TEDx autobiográfico conduzido pelas canções mais tocadas da atualidade, a doutora falou: "Prometo melhorar. Sei que não foi dos melhores. Mas vai melhorar essa porra. Esquece!"

Pareceu desnecessário. Por tudo o que proporcionou a quem acompanhou sua performance, duvido que alguém tenha saído lamentando.

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