Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Novo filme do Doutor Estranho é a melhor coisa que já aconteceu
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A atual fase da Marvel nos cinemas é um estrondo. Após anos burilando de maneira pragmática os limites da própria narrativa, que se espalha por diferentes filmes e agora também séries, o engenhoso sistema chegou na sua maturidade.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa já apresentava um resultado deslumbrante ao incluir uma bagagem pesada de 20 anos de filmes, inclusive anteriores ao MCU, sem alienar o público mais recente.
Muito pelo contrário: ninguém precisa ter visto qualquer produção anterior para amar a melhor e mais bem acabada transposição de Peter Parker e seu alter ego heroico para as telonas.
Com isso, a Marvel chegou no pico da compreensão e da realização do que é uma adaptação fiel de quadrinhos para o cinema. Não são as referências espalhadas pela história para os fãs, tampouco os acenos a isso ou aquilo para convulsionar nerds ansiosos ou seus canais no YouTube. É pegar a magia da contação das histórias em quadrinhos e transformá-las em cinema acessível para grandes audiências.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é um feito extraordinário nesse sentido. Constrói uma jornada sólida, vibrante e inacreditavelmente autocontida. Sim, não é necessário ter visto qualquer outra parte da grande saga cinematográfica da Marvel para compreender esta nova aventura. Pode muito bem ser o seu primeiro filme na vida.
Tudo o que é preciso saber a respeito está no próprio filme. Existe uma miríade de contextos e backgrounds dos personagens cujos outros produtos certamente enriquecem a experiência. Mas são necessários para o entendimento e fruição da obra? De forma alguma.
Cheguei a ver algumas pessoas reclamando que o MCU está se tornando tão hermético quanto os quadrinhos da editora, que confundem o leitor com décadas de cronologia intrincada. Na minha humilde opinião, são duas inverdades.
O crítico Douglas Wolk garante ter lido todas as revistas publicadas pela Marvel desde o seu lançamento, e escreveu um livro para servir como guia afetivo de quem pretende embarcar nessa jornada. Chama-se All of the Marvels e será lançado ainda este ano no Brasil pela Conrad.
Ele diz que uma das perguntas mais frequentes que recebe é: "por onde eu começo?" Eu adoro a resposta, que é basicamente "tanto faz". Todo gibi da Marvel é um potencial ponto de entrada. As questões que não ficarem muito evidentes numa primeira leitura podem servir como impulso para fazer você procurar mais a respeito daquilo e ir se aprofundando cada vez mais e mais.
E nos cinemas vejo que o cuidado é até a maior atualmente. Quem conhecer Wanda Maximoff por conta do Doutor Estranho ficará extasiado ao descobrir que pode saber mais a respeito da personagem a partir do segundo filme dos Vingadores e na série Wandavision. Tanto faz por onde você começa, o importante é curtir a viagem.
Como fã de quadrinhos, devo dizer que o tal do Multiverso da Loucura é o maior carinho que a Marvel já fez à minha classe. Possui todas as características que fizeram com que eu me apaixonasse pela nona arte: ideias estapafúrdias levadas às últimas consequências, um certo apego ao cânone, desenvolvimento de personagens e um visual delirante, livre e bizarro.
Sam Raimi, diretor responsável pela trilogia do Homem-Aranha de Tobey Maguire há duas décadas, faz um trabalho muito mais coeso e espirituoso aqui. Este Doutor Estranho que está agora nos cinemas é sua melhor contribuição à fina arte de transformar gibis em milhões de dólares.
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
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